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Escravidão

‘Reparação histórica’: uma farsa para desviar a luta do negro

Reparação histórica é um termo demagógico que serve para evitar que o negro resolva fazer as coisas tal como o Hamas fez na Palestina

A esquerda conseguiu desaparecer com as reivindicações históricas do povo negro. Recente polêmica do PSTU com Luiz Pondé revela que boa parte da política imperialista para o problema foi absorvida pela esquerda, mesmo a que se autoproclama revolucionária.

Pondé, um direitista, redigiu um texto para o jornal Folha de S. Paulo no qual busca criticar a ideia de “reparação histórica” apresentada pela esquerda pequeno-burguesa nos últimos anos, talvez décadas.

O redator do jornal golpista estica a tese da reparação para afirmar que: “no caso do Brasil, penso que todos os descendentes de europeus que cá chegaram deveriam ser expulsos —ou deveriam ir embora de bom grado. Suas propriedades deveriam ser devolvidas para quem cá vivia em 1500. Tudo, inclusive a praça dos Três Poderes e o Planalto, assim como todas as empresas, casas, apartamentos, hospitais, universidades. Enfim, tudo que foi construído a partir da invasão”. 

Pondé estica a tese, pega o resultado mais agudo desse pensamento, para chegar a esta conclusão em tom de deboche. 

Pondé afirma que a tal reparação seria devolver os territórios para os povos originários, embora muitos dos que defendam a tal reparação, não defendam exatamente isso, mas, super venenoso, Pondé pega a tese mais perigosa, e, neste caso, ele está certo. É escandalosa a ideia de devolver terras para os originários, posto desse jeito, é realmente impossível. Pondé faz uma crítica direitista de uma política da esquerda que é ela mesma direitista, já que não passa de uma frase genérica, “reparação histórica”, o que isso quer dizer, exatamente? Pondé fez a interpretação que mais lhe agrada, mas, na verdade, ninguém sabe o que é isso, e o articulista do jornal do golpe só aproveitou essa confusão.

Mas temos o PSTU, que resolveu criticar Pondé, em um texto muito mais tosco e inconclusivo, vejamos.

Depois de muita enrolação, dizendo, inclusive, que a reparação não tem nada a ver com a devolução das terras para os “povos originários”, e que Pondé é uma besta fera (o que é uma verdade, convenhamos), a Opinião Socialista nos esclarece:
1 – “o argumento que se levanta na política de Reparação Histórica é que uma das instituições capitalistas mais importantes do Brasil contemporâneo fez fortunas e mais fortunas com o tráfico e a escravidão dos nossos antepassados”. (PSTU está falando do Banco do Brasil).

2 – “É certo que não existe um conceito fechado ou uma política unificada sobre Reparação Histórica em relação à questão negra para o conjunto do Movimento Negro brasileiro”, na realidade, ninguém sabe direito o que de fato seria isto, mas vamos lá.

3 – “Porém, existe um ponto em comum de onde partem todos aqueles que defendem a Reparação: a escravidão, considerada o maior crime de lesa-humanidade cometido pelo capitalismo, palavra inexistente no seu artigo. Não só a escravidão, mas também a forma como se deu abolição, sem reparação, e a neocolonização. É esse o ponto de partida, caro professor [no caso, o professor aí é o senhor Pondé].

4 – “E não se está tratando apenas dos prejuízos incalculáveis causados às vítimas, mas também dos privilégios, do poder e das riquezas, concentradas pelos grupos que escravizaram e espoliaram. E esse tripé – privilégio, poder e riqueza – (…) foram herdados pelos tataranetos dos que escravizaram e espoliaram, assim como a pobreza, a humilhação, o sofrimento e a exploração foram herdados pelos tataranetos daqueles que foram escravizados e espoliados”. 

5 – “Quase todas as grandes instituições brasileiras com mais de 150 anos de existência lucraram com a escravidão e seguem utilizando todo o império que ergueram com o sangue e o suor dos antepassados do povo negro brasileiro para continuar oprimindo, humilhando e explorando”.

Até aqui, constatações óbvias, mas estamos aguardando o que quer dizer a “reparação histórica” e o que deveríamos defender por meio desta política. Quais as reivindicações? E neste exato momento do texto, onde o leitor aguarda o parágrafo triunfante, programático, propagandístico, afirma o PSTU:

“Que fique bem enegrecido, professor: a meta que importa e a bandeira que se levanta é a organização e mobilização do povo negro e da classe trabalhadora para sarar essa ferida que segue aberta e sangrando muito”. Poético, mas que não quer dizer absolutamente nada.

Linhas gerais, no texto do Pondé, pelo menos tinha uma ideia ou uma política a ser debatida: reparação seria devolver as terras todas para os povos originários, desde o começo. É besta e mal intencionada a polêmica de Pondé, mas dá para entender sua malandragem e a política da chamada reparação oferece essa brecha, certamente.

Já o PSTU, enquanto partido político revolucionário, como eles mesmos se apresentam, redige um texto super prolixo e que não apresenta a tese correta do que seria a “reparação histórica”, nem apresenta minimamente o que seria isso, na realidade eles também não sabem o que é isso. Nem mesmo fala de nada que possa ser feito para resolver o problema do negro na sociedade.

Ora, as constatações factuais do PSTU, que falam da terrível situação do negro no Brasil, precisam ser contrapostas com uma política revolucionária, combativa. Não com a adesão da nova moda linguística (“enegrecido”) que não passa de uma demagogia com um setor mínimo da esquerda pequeno burguesa.

Apresentam a tese do Banco do Brasil e das instituições de mais de 150 anos. O banco deveria fazer o que, exatamente, para ajudar os negros? Pedir desculpas? Abrir linha de crédito especial? E o governo, nada precisa fazer? É só as empresas muito velhas que vão pagar pelo racismo? Como? E as empresas com 30 anos ou menos de história? E as outras? É, no mínimo, ridícula apresentar essa tese como causa e solução para o racismo no país.

Aparece, mesmo que de maneira envergonhada, a ideia dos “privilégios”. Está lá: “dos privilégios, do poder e das riquezas, concentradas pelos grupos que escravizaram e espoliaram. E esse tripé – privilégio, poder e riqueza – (…) foram herdados pelos tataranetos dos que escravizaram e espoliaram”.

Essa é uma das recentes políticas do movimento negro identitário que o PSTU absorveu. Os privilegiados devem se sentir moralmente ruins para, em razão disso, ajudar os pobres, os negros. Devem abrir mão de seus privilégios herdados, como diz o PSTU. Como isso vai acontecer e se vai acontecer, ao que parece, é um problema de ficar pedindo… sim, é a famosa esmola. Por isso é uma tese envergonhada.

Sim, a escravidão acabou e o negro ficou na pior situação imaginável. Mas não é possível voltar no tempo, e é preciso de uma política para agora, e que não tem nada a ver com a mudança da forma de dizer as palavras (enegrecido), nem com a tradicional esmola (“senhoras e senhores estamos aqui, pedindo uma ajuda por necessidade…”).

O texto do PSTU revela a decomposição que a esquerda chegou e a profunda absorção da política do imperialismo para os setores oprimidos. E é esta decomposição que permite a Pondé, um lacaio da direita brasileira, sapatear sobre questões tão graves como o racismo ou o genocídio na Palestina.

Ninguém fala claramente o que é a tal reparação. Na verdade, isso é uma das novas palavrinhas do momento, vinda dos Estados Unidos, obviamente, para tirar da reta o que realmente importa. Oras, um bom programa para a luta do negro é a luta pelo fim da PM, pela libertação de todos os presos que não possuem sentença transitada em julgado. Pelo fim dos presídios, que são nossas faixas de Gaza, pelo emprego, direito à habitação e saúde; tem a questão do salário mínimo, do bolsa família, enfim, que deveriam ser multiplicados por 10, pelo menos, para socorrer à classe trabalhadora, que, no Brasil, é de maioria negra. 

Reparação histórica é um termo demagógico que serve evitar que o povo negro e trabalhador brasileiro resolva fazer as coisas tal como o Hamas fez na Palestina, ou fazer muito pior. 

Todas as reivindicações sérias foram jogadas para debaixo do tapete em troca de palavrinhas bonitas que animam Joe Biden e outros. 

“Enegrecido”, “privilégios brancos”, “reparação histórica” são termos vazios e sem conteúdo prático algum, sem qualquer objetivo de mobilização, que serve para agradar uma classe média esquerdista que, no fundo, está já bem satisfeita com o atual estado de coisas.

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