Na última sexta-feira (18), foi publicado no portal Esquerda Online matéria de autoria de Valério Arcary que se aventurou a escrever “A longa marcha da esquerda brasileira”. Apesar da caracterização histórica equivocada sobre diversos pontos, chama a atenção dois pontos sobre os acontecimentos recentes: 1) A caracterização sobre a atual divisão da esquerda em três políticas distintas que estariam representadas PT/PCdoB, PSTU/PCBR e PSOL; 2) A caracterização de Guilherme Boulos como uma projeção das mobilizações de 2013 assim como o MTST, movimentos feministas, negros, LGBTs, ambientais e indígenas. Buscaremos aqui esclarecer tais questões levantadas.
Em primeiro lugar, vale apresentar o autor desta análise ainda que superficialmente para compreender melhor suas posições políticas. Valério Arcary é dirigente da corrente Resistência do Partido Socialismo e Liberdade constituída em 2018, a mesma tem origem em uma divisão do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) ocorrida no ano de 2016 em virtude da posição do partido em relação ao golpe de estado contra Dilma Rousseff.
Para o psolista, o PT e PCdoB seriam os representantes da política de Frente Ampla. Aqui deve-se esclarecer que diferente do PCdoB, onde se tornou oficial a política de conciliação com a direita como PSDB escancarado nas ruas durante as mobilizações pelo Fora Bolsonaro em 2021, há setores combativos na base do PT que rejeitam essa posição. Por outro lado, Arcary parece ter esquecido que o PSOL participou com PCdoB, neste mesmo ano, de manifestação que contou com a presença de João Dória do PSDB (também conhecido como BolsoDoria), a qual foi organizada pelo MBL, organização fundamental no golpe de 2016. Também cabe destacar que depois do golpe no eleitorado do PT na capital paulista durante as eleições de 2020, Guilherme Boulos buscou se apresentar como liderança da esquerda e era o maior entusiasta da política de frente ampla.
Já o PSTU e PCBR seriam oposição ao governo Lula e estariam disputando as massas populares com um programa revolucionário, segundo Arcary. Ambos partidos são mais que oposição ao governo Lula, são partidos dirigidos por golpistas que não apresentam nada de revolucionário em sua política. O psolista aderiu ao identitarismo e passou a acreditar que a política imperialista seria algo revolucionário. Jones Manoel, que é a principal liderança do racha do PCB, esteve nas ruas, assim como Boulos e o MTST, contra a política fiscal da presidenta Dilma em meio ao desenvolvimento do golpe de estado consagrado em 2016. O PSTU também esteve nas ruas pedindo o “Fora Todos” , que na prática se tratava do “Fora Dilma”.
Assim o PSOL seria um terceiro campo, que entende que os limites da política do PT favorecem o bolsonarismo e apostam numa reorganização à esquerda. Deve-se ter claro que não há nada de diferente na política do PSOL em relação PCdoB, PSTU e PCBR, se trata de um partido tão golpista quanto os demais. O PSOL apoiou a farsa do Mensalão, da Lava jato e do impeachment contra Dilma. Depois de excomungar o PT por suas alianças, resolveu participar do governo de frente ampla e tem defendido aliança até com o diabo na busca de derrotar o bolsonarismo.
Neste mesmo sentido, deve-se dizer que Boulos não foi projetado pelas mobilizações populares de 2013, não as mobilizações que se dirigiam contra o governo de Geraldo Alckmin do PSBD em São Paulo, de Sérgio Cabral do PMDB no Rio de Janeiro e de Antônio Anastasia do PSDB em Minas Gerais. Boulos se somou ao movimento de direita que pedia “Hospital padrão FIFA” e “Escola padrão FIFA” liderando a campanha “Não Vai Ter Copa”, assim a imprensa golpista projetou o embuste da esquerda e garantiu um trabalho na Folha de S.Paulo.
Os movimentos que Arcary afirma ter sido projetados pela mobilização popular nas ruas com destaque para o LGBTs, ambientais e indígenas se trata da política do imperialismo conhecida como identitarismo, são esses agrupamentos financiados por banqueiros que junto com Guilherme Boulos compõem essa “terceira via”.
Os resultados destas eleições deixam claro o que caracterizava este Diário, os partidos pequeno-burgueses que incluem PCdoB, PSTU, PCB e PSOL estão em um processo de total falência. No último período, todos esses partidos lançaram mão da mesma política de apoio ao judiciário golpista, de Frente Ampla com os golpistas com e de apoio ao identitarismo. Não há qualquer divergência política entre eles, não possuem um programa de interesse dos trabalhadores e possuem mesmo destino na história.