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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

Os quadrinhos de Breno Ferreira

Denúncias da alienação e da luta de classes

O trabalho de Breno Ferreira é fantástico; suas tiras não se resumem a gags bem sacadas nem às mazelas de personagens infelizes, tampouco são piadas sobre curiosidades do cotidiano. Breno tematiza tudo isso, todavia, ele vai além do gênero das tiras por meio da qualidade gráfica dos desenhos, valendo-se da plasticidade da HQ e não apenas de elaborações conceituais em que o desenho não passa de referências a pessoas e lugares.

Enfatizando a capa, começo pelo que me chamou a atenção e me fez ler, sem hesitar, “Cabuloso Suco gástrico”, uma coletânea de tiras lançada em 2015, pela editora Elefante. Nela, há uma cabeça oca, jogada ao léu no meio do deserto… o que essa capa sugere? Se o significado se limitasse à solidão e ao abandono, tratando-se de outra HQ sobre as dores do mundo, tudo seria bem deprimente; a contracapa, porém, subverte o sentido inicial, pois a cabeça oca torna-se cabeça em êxtase. Ela, na verdade, não é oca, apenas os olhos saíram para passear, com o deserto deixando de ser metáfora da esterilidade, passando a simbolizar o silêncio, apto para reflexão. Dessa maneira, o autor se expressa sem a necessidade de doutrinas acéticas e severas; os olhos, distraidamente, param para conversar, fumar… tal possibilidade de subverter a depressão é cativante nos quadrinhos de Breno Ferreira.

O “Cabuloso Suco Gástrico” é formado por tiras, todas coloridas; na maioria delas, o desenho é tão importante como a narrativa, justamente, por interagir com os conteúdos, indo além da simples expressão gráfica das tramas da história. Nas cinco tiras reproduzidas a seguir, depois das imagens da capa e da contracapa, há, respectivamente:

(1) um senhor refletindo, valendo-se do cubo mágico, entretanto, o desenho não se restringe às coisas do mundo, pois nele a desconstrução do pensamento segue paralelamente à desconstrução das imagens;

(2) a representação do corpo humano, com cabeça em forma de bule de café, oscilando entre ser exagero, por meio da deformação em seres medonhos, e ser metáfora da alienação social e da covardia humana;

(3) a alienação aparecendo sem metáforas, contudo, com ironia trágica quando, na trama, em vez da simples tematização da vida cotidiana, reflete-se a luta de classes;

(4) Breno Ferreira oferecendo soluções ao sugerir, metaforicamente, a fuga do pensamento por meio do próprio pensamento;

(5) por fim, quando se trata da alienação do artista em relação à própria arte, a saída, numa variação do tema, é semelhante a tira anterior.

O “Cabulo suco gástrico” pode ser encontrado no site da editora Elefante, neste endereço: https://elefanteeditora.com.br/produto/cabuloso-suco-gastrico/

 

 

 

 

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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