De acordo com o norte-americano Ivo Daalder, em artigo publicado no jornal Politico, a França propôs o envio de tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para a Ucrânia.
Segundo o autor do artigo, a proposta partiu do chefe do Estado-Maior do Exército francês, general Thierry Burkhard, que escreveu para vários dos seus colegas da OTAN para lhes pedir que “explorassem a possibilidade” de acionar reforços para o exército da Ucrânia. Entre os objetivos estariam: equipar sistemas defensivos no terreno, treinar tropas, lançar operações cibernéticas e fornecer ajuda na desminagem.
Segundo o artigo, a proposta foi rapidamente rejeitada por “todos os aliados”.
A carta teria sido escrita por Thierry Burkhard muito antes de o presidente francês, Emmanuel Macron, ter declarado publicamente que a ideia de enviar tropas da OTAN para a Ucrânia não poderia ser descartada. A declaração causou uma crise dentro do próprio bloco de países europeus que, junto com os Estados Unidos, comandam a OTAN. Alemanha, Itália e Reino Unido reagiram imediatamente, afirmando que tais planos estariam fora de cogitação.
E não era para menos: o envolvimento de tropas da OTAN transformaria a guerra em um conflito continental, o que permitiria a Vladimir Putin a invasão de países da Europa Central.
No seu artigo, Daalder especula que a declaração de Macron, ainda que rechaçada, “pode ter revelado um pensamento mais sério” sobre os esforços para ajudar a Ucrânia dentro do país.
Para o analista Fyodor Lukyanov, a declaração de Macron pode também significar uma preocupação crescente da Europa com sua capacidade militar. Na medida em que os Estados Unidos, que são quem garantiu, por décadas, a segurança da Europa Central, vêm se envolvendo com vários conflitos ao mesmo tempo, enfraquecendo sua capacidade de apoio a países como França, Alemanha e Reino Unido, o imperialismo europeu estaria preocupado em voltar a colocar a mobilização de suas tropas como uma prioridade. Assim diz o analista:
“O Velho Mundo tem discutido com os Estados Unidos sobre os gastos com defesa há anos e responde com medidas cosméticas. Novamente, porque não acreditou na ameaça. Quando isso começou a mudar, a questão dos gastos e das capacidades não se colocou para os EUA, mas sim para a parte europeia da aliança transatlântica. Os norte-americanos não se importam realmente com a forma como a batalha ucraniana termina, e podem dar-se ao luxo de lidar com outros assuntos – domésticos – em paralelo. Estes últimos são obviamente mais importantes e o financiamento da Ucrânia torna-se seu refém. Na Europa Ocidental, o medo da guerra com a Rússia já foi tão promovido pelos altos escalões que começa a determinar todo o resto”.