De repente, como uma faísca em um paiol repleto, o movimento estudantil nos EUA irrompeu por todos os lados, protestando vigorosamente contra o genocídio em Gaza e exigindo o desinvestimento das Universidades norte-americanas nas empresas ou universidades israelenses. Começando na Universidade de Columbia, onde também começaram os protestos da década de 60 e 70 contra a Guerra do Vietnã, as manifestações se espalharam por inúmeros campi, em Nova York e em várias outras cidades dos EUA e mesmo da Europa.
O questionamento do massacre em Gaza, que visivelmente perdeu completamente qualquer apoio nas comunidades universitárias, vinha junto com uma reivindicação que atingiu o cerne dos grandes grupos econômicos que dirigem as Universidades totalmente privadas dos EUA. A estreita vinculação dessas Universidades com o massacre em Israel ficou evidente e atraiu tanta indignação de professores e estudantes quanto as operações militares de Israel. Como explicar que a academia, devotada à ciência e ao espírito crítico pudesse estar chafurdando na lama dos criminosos de Israel? E isso com a anuência dos Conselhos Universitários , com a contribuição financeira de cada aluno, que pagam altíssimas mensalidades, favorecendo o lucro dos grupos econômicos totalmente envolvidos no massacre.
A reação de estudantes e professores foi de horror e total repulsa dessa macabra aliança que estavam fazendo com os assassinos dos palestinos e passaram a simbolicamente acampar nos campi das Universidades, pacificamente protestando contra esta situação. Não fizeram sequer uma ocupação dos prédios das Universidades, como costuma ocorrer no Brasil e nem levaram, inicialmente, suas reivindicações para as ruas.
E qual foi a reação das autoridades Universitárias? Fazendo coro com as entidades sionistas e com o próprio governo de Israel, acusaram os estudantes de antissemitas e praticarem o “discurso de ódio” contra alguns estudantes judeus sionistas. Começando pela própria Universidade de Columbia, apelaram para a intervenção da Polícia de Nova York para desalojar os estudantes de seus acampamentos. A intervenção foi de características tipicamente militares, com a agressão física violenta aos estudantes, e a prisão de todo aquele que, de alguma forma, se negasse a sair do campus. A polícia usou fartamente de bombas de gás lacrimogêneo, de spray de pimenta, de tiros com balas de borracha e até de blindados para poder retirar estudantes de seus locais. A fúria com que atacavam os estudantes, e que foi bem registrada nos vídeos que circularam nas redes sociais, mostrava que se tratava de uma ação em que os estudantes eram considerados inimigos. A presidenta da Universidade de Colúmbia não deixou de complementar a violência da polícia com penalidades que iam das advertências a suspensão e ameaças de expulsão dos estudantes e demissão dos professores.
O imperialismo na direção da Universidade
A atual presidenta da Universidade de Colúmbia é uma legítima personagem do sistema imperialista. Antes de ser indicada e tomar posse do cargo em 4 de Outubro de 2023, Nemat Talaat Shafik, a Baronesa Shafik, comumente conhecida como Minouche Shafik , é uma acadêmica e economista britânica/americana. Anteriormente, ela atuou como presidente e vice-chanceler da London School of Economics de 2017 a 2023. De 2014 a 2017, Shafik atuou como vice-governador do Banco da Inglaterra (Banco Central inglês) e também anteriormente como secretária permanente do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido de 2008 a 2011. Ela também atuou como vice-presidente do Banco Mundial e como vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional. Ou seja, uma expoente, em todos os sentidos, do sistema imperialista, e ardorosa defensora dos judeus sionistas na Universidade.
Depois que o conflito Israel-Hamas se intensificou em outubro de 2023, Shafik emitiu um comunicado dizendo que se “o discurso for ilegal ou violar as regras da universidade, não será tolerado”. Como resultado dos protestos e da ocupação do campus por manifestantes pró-palestinos que começaram em 17 de abril de 2024, Shafik pediu ao NYPD para “limpar” o acampamento estabelecido por manifestantes perto do centro do campus da universidade, e a polícia prendeu mais de 100 estudantes em 22 de abril. No mesmo dia, ela anunciou que a universidade havia cancelado as aulas presenciais para passar para o ensino híbrido. Shafik estabeleceu um escritório para supervisionar os protestos no escritório de advocacia de Covington e Burling, perto da Casa Branca. Suas ações ao ordenar as prisões foram criticadas pela Associação Americana de Professores Universitários, PEN America, presidente Serene Jones do Union Theological Seminary, e pelo Columbia College Student Council. Centenas de professores de Columbia organizaram uma paralisação e assinaram uma carta aberta criticando sua gestão das manifestações.
O doador e ex-aluno da Columbia Robert Kraft, fundador da Fundação Columbia para Combater o Antissemitismo, suspendeu as doações para a universidade, assim como o bilionário Len Blavatnik, com acusações de que a Universidade Columbia não estava combatendo suficientemente o antissemitismo no campus. Por outro lado, o Senado da Universidade de Columbia elaborou e divulgou uma resolução de censura contra Shafik por violar “os requisitos fundamentais da liberdade acadêmica” e causar um “ataque sem precedentes aos direitos dos estudantes”. Em 29 de abril de 2024, Shafik anunciou que as negociações com os manifestantes estudantis estagnaram e que a “universidade não se despojará de Israel”. Ela solicitou a intervenção do NYPD pela segunda vez em duas semanas no dia seguinte, levando à prisão de mais 108 indivíduos.
Como se sabe, as reitorias de diversas universidades americanas chamaram a polícia, e houve protestos em mais de 40 universidades. Os protestos se espalharam para outras instituições e se tornaram um tema importante nas eleições presidenciais, com o conflito entre manifestantes, reitorias e opositores sendo debatido entre os candidatos Donald Trump e Joe Biden. Nos últimos dias, os protestos estudantis relacionados a Gaza alcançaram 140 universidades americanas, em 45 Estados, com mais de 3 mil pessoas detidas.
Uma “professora” de Colúmbia: uma cidadã muito suspeita
Na Universidade de Colúmbia um fato importante, que não foi muito divulgado pela imprensa corporativa, chamou a atenção. A violenta repressão contra estudantes da Universidade de Columbia que protestavam contra o ataque genocida de Israel à Faixa de Gaza foi liderada por um membro do corpo docente da própria escola, de acordo com o prefeito de Nova York, Eric Adams. O fato foi revelado em uma reportagem especial do site britânico de jornalismo investigativo The Grayzone.
Durante um Conferência de imprensa de 1º de Maio, poucas horas depois que o Departamento de Polícia de Nova York prendeu quase 300 pessoas em terrenos universitários, o prefeito Adams elogiou a “professora adjunta” da Universidade de Columbia Rebecca Weiner, que é chefe do departamento de contraterrorismo do NYPD, a responsável por dar à polícia luz verde para reprimir com violência os estudantes antigenocídio.
“Era ela quem estava monitorando a situação”, explicou o prefeito Adams, acrescentando que a repressão foi realizada depois que “sua equipe conseguiu conduzir uma investigação no campus”. A poucas centenas de metros do acampamento de protesto em Gaza, Weiner mantinha um escritório na Escola de Relações Públicas e Internacionais (SIPA) de Columbia. Seu bio na SIPA descreve-a como uma “Professora Adjunta Associada de Relações Internacionais e Públicas” que simultaneamente atua como “executiva civil encarregada do Departamento de Inteligência e Contraterrorismo do Departamento de Polícia de Nova York”. Nessa função, de acordo com a SIPA, Weiner “desenvolve políticas e prioridades estratégicas para o Bureau de Inteligência e Contraterrorismo e representa publicamente o NYPD em assuntos envolvendo contraterrorismo e inteligência”.
O mais surpreendente dessa estranha ligação é que, como cita o Grayzone na reportagem, o Escritório de Contraterrorismo do NYPD atualmente mantém um escritório em Tel Aviv, Israel, onde age em conjunto com o aparato de segurança de Israel, que também mantém uma ligação com a NYPD. A “professora” Weiner parece servir como uma ponte entre os escritórios do Bureau em Israel e Nova York.
Em 2011, uma investigação da AP revelou que uma chamada “Unidade de Demografia” operava secretamente dentro do Departamento de Contraterrorismo e Inteligência do NYPD. Essa cobertura sombria era utilizada para espionar muçulmanos no entorno da cidade de Nova York e até mesmo estudantes em campi fora do estado que estavam envolvidos no ativismo solidário da Palestina. A unidade foi desenvolvida em conjunto com a CIA.O que é uma ação ilegal, pois a CIA não pode atuar dentro dos EUA. Essa “Unidade de Demografia” parece ter sido inspirada pela inteligência israelense também. Como um ex-oficial da polícia disse à AP, a unidade tentou “mapear o terreno humano da cidade” por meio de um programa “modelado de forma semelhante à que as autoridades israelenses operam na Cisjordânia”.
Ao longo da coletiva de imprensa, o prefeito Adams repetidamente classificou a repressão da cidade ao discurso estudantil como a única solução possível para os acampamentos em andamento no campus. Segundo o prefeito, “os jovens estão sendo influenciados por aqueles que são profissionais na radicalização de nossas crianças”. “É desprezível que as escolas permitam que a bandeira de outro país seja hasteada em nosso país”, se referindo à bandeira da Palestina. A reportagem do Grayzone, no entanto, mostra o prefeito como um participante entusiasmado no desfile anual “Celebrate Israel” da cidade de Nova York, onde Adams agitava a bandeira de outro país, de Israel evidentemente.
A Classe Operária se junta aos estudantes em favor da liberdade de expressão
Os trabalhadores acadêmicos sindicalizados estão exigindo poder de decisão sobre seu trabalho e para que ele é usado. Por exemplo, trabalhadores acadêmicos do departamento de astronomia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz se organizaram para se recusar a solicitar ou aceitar financiamento do Departamento de Defesa dos EUA, fabricantes de armas e empreiteiros militares.
Em uma carta aberta publicada pela revista Science for the People em janeiro, eles escreveram: “A UC recebeu US$ 295 milhões em financiamento de pesquisa do Departamento de Defesa apenas no ano fiscal de 2022… A tecnologia que os astrônomos desenvolveram para a ciência está sendo mal-usada para vigiar e atingir pessoas dentro e fora dos EUA.”
Para outros, as agressões da polícia aos manifestantes e os ataques dos administradores universitários à liberdade de expressão no campus tornaram-se questões de violações de contratos e segurança no local de trabalho. A Auto Workers (UAW) Local 4811, representando 48.000 trabalhadores acadêmicos em todo o sistema da Universidade da Califórnia, apresentou acusações de práticas trabalhistas injustas (ULP) contra seu empregador por ataques violentos da polícia ao acampamento de estudantes da UCLA.
“A UCLA mudou unilateralmente suas políticas de liberdade de expressão no local de trabalho sem fornecer aviso ou negociação”, disse a Local 4811 em um comunicado. “Ao fazê-lo, violou sua política de neutralidade de conteúdo em relação ao discurso, favorecendo aqueles engajados no discurso anti-Palestina em detrimento daqueles engajados no discurso pró-Palestina.”
O local realizará uma votação de autorização de greve durante a ULP de 13 a 15 de maio. A votação pode levar milhares de trabalhadores acadêmicos a fazer greve pela liberdade de expressão e em solidariedade ao movimento estudantil pela Palestina. “Este é um momento em que estamos vendo a importância do movimento trabalhista no avanço das causas políticas”, disse Joanna Lee, organizadora do departamento do Student Workers of Columbia, UAW Local 2710. A SWC representa 3.000 trabalhadores acadêmicos de graduação e pós-graduação na universidade. O sindicato votou para se juntar à coalizão Columbia University Apartheid Divest em novembro de 2023, depois que duas organizações estudantis, Students for Justice in Palestine e Jewish Voice for Peace, foram banidas do campus da Columbia.
No UAW, houve ação tanto da base quanto da direção sindical. A UAW Região 9A realizou uma manifestação de solidariedade “Stand Up for Gaza” em 26 de abril, reunindo professores e estudantes da NYU, Columbia e The New School em apoio aos estudantes que protestavam. A manifestação terminou com uma marcha até o acampamento estudantil na NYU.
O diretor da Região 9A da UAW, Brandon Mancilla, disse em entrevista à Jacobin: “Esta é uma questão estudantil, é uma questão de liberdade de expressão acadêmica – mas também é uma questão trabalhista, porque nossos membros mostraram quanto isso afeta os direitos de todos no campus, não apenas suas próprias unidades de negociação”.
Os laços entre o imperialismo e os sionistas
Estudantes e professores estão rapidamente reconhecendo que os eventos que se desenrolam em Gaza estão profundamente entrelaçados com a influência de grupos sionistas sobre as universidades, incentivando a colaboração com Israel. Em toda a América do Norte, essas instituições têm investimentos por meio de fundos patrimoniais de bilhões de dólares em corporações que estão apoiando ativamente os militares israelenses no genocídio em curso em Gaza.
A resposta dura das universidades e das autoridades aos protestos estudantis vai além das preocupações com a ordem pública ou com o retorno financeiro. Trata-se de salvaguardar os poderosos interesses imperialistas totalmente vinculados ao sionismo internacional. Os movimentos pelo desinvestimento estabelecem uma cunha no sistema capitalista, mostrando a podridão dos que apoiam o genocídio em Gaza e seus vínculos estruturais com o imperialismo e o Estado norte-americano. Os estudantes revelam as relações entre o sionismo e os interesses imperialistas atuais que estabelecem padrões de discriminação racial, apartheid e violência universais.
De repente, como uma faísca em um paiol repleto, o movimento estudantil nos EUA irrompeu por todos os lados, protestando vigorosamente contra o genocídio em Gaza e exigindo o desinvestimento das Universidades norte-americanas nas empresas ou universidades israelenses. Começando na Universidade de Columbia, onde também começaram os protestos da década de 60 e 70 contra a Guerra do Vietnã, as manifestações se espalharam por inúmeros campi, em Nova York e em várias outras cidades dos EUA e mesmo da Europa.
O questionamento do massacre em Gaza, que visivelmente perdeu completamente qualquer apoio nas comunidades universitárias, vinha junto com uma reivindicação que atingiu o cerne dos grandes grupos econômicos que dirigem as Universidades totalmente privadas dos EUA. A estreita vinculação dessas Universidades com o massacre em Israel ficou evidente e atraiu tanta indignação de professores e estudantes quanto as operações militares de Israel. Como explicar que a academia, devotada à ciência e ao espírito crítico pudesse estar chafurdando na lama dos criminosos de Israel? E isso com a anuência dos Conselhos Universitários , com a contribuição financeira de cada aluno, que pagam altíssimas mensalidades, favorecendo o lucro dos grupos econômicos totalmente envolvidos no massacre.
A reação de estudantes e professores foi de horror e total repulsa dessa macabra aliança que estavam fazendo com os assassinos dos palestinos e passaram a simbolicamente acampar nos campi das Universidades, pacificamente protestando contra esta situação. Não fizeram sequer uma ocupação dos prédios das Universidades, como costuma ocorrer no Brasil e nem levaram, inicialmente, suas reivindicações para as ruas.
E qual foi a reação das autoridades Universitárias? Fazendo coro com as entidades sionistas e com o próprio governo de Israel, acusaram os estudantes de antissemitas e praticarem o “discurso de ódio” contra alguns estudantes judeus sionistas. Começando pela própria Universidade de Columbia, apelaram para a intervenção da Polícia de Nova York para desalojar os estudantes de seus acampamentos. A intervenção foi de características tipicamente militares, com a agressão física violenta aos estudantes, e a prisão de todo aquele que, de alguma forma, se negasse a sair do campus. A polícia usou fartamente de bombas de gás lacrimogêneo, de spray de pimenta, de tiros com balas de borracha e até de blindados para poder retirar estudantes de seus locais. A fúria com que atacavam os estudantes, e que foi bem registrada nos vídeos que circularam nas redes sociais, mostrava que se tratava de uma ação em que os estudantes eram considerados inimigos. A presidenta da Universidade de Colúmbia não deixou de complementar a violência da polícia com penalidades que iam das advertências a suspensão e ameaças de expulsão dos estudantes e demissão dos professores.
O imperialismo na direção da Universidade
A atual presidenta da Universidade de Colúmbia é uma legítima personagem do sistema imperialista. Antes de ser indicada e tomar posse do cargo em 4 de Outubro de 2023, Nemat Talaat Shafik, a Baronesa Shafik, comumente conhecida como Minouche Shafik , é uma acadêmica e economista britânica/americana. Anteriormente, ela atuou como presidente e vice-chanceler da London School of Economics de 2017 a 2023. De 2014 a 2017, Shafik atuou como vice-governador do Banco da Inglaterra (Banco Central inglês) e também anteriormente como secretária permanente do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido de 2008 a 2011. Ela também atuou como vice-presidente do Banco Mundial e como vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional. Ou seja, uma expoente, em todos os sentidos, do sistema imperialista, e ardorosa defensora dos judeus sionistas na Universidade.
Depois que o conflito Israel-Hamas se intensificou em outubro de 2023, Shafik emitiu um comunicado dizendo que se “o discurso for ilegal ou violar as regras da universidade, não será tolerado”. Como resultado dos protestos e da ocupação do campus por manifestantes pró-palestinos que começaram em 17 de abril de 2024, Shafik pediu ao NYPD para “limpar” o acampamento estabelecido por manifestantes perto do centro do campus da universidade, e a polícia prendeu mais de 100 estudantes em 22 de abril. No mesmo dia, ela anunciou que a universidade havia cancelado as aulas presenciais para passar para o ensino híbrido. Shafik estabeleceu um escritório para supervisionar os protestos no escritório de advocacia de Covington e Burling, perto da Casa Branca. Suas ações ao ordenar as prisões foram criticadas pela Associação Americana de Professores Universitários, PEN America, presidente Serene Jones do Union Theological Seminary, e pelo Columbia College Student Council. Centenas de professores de Columbia organizaram uma paralisação e assinaram uma carta aberta criticando sua gestão das manifestações.
O doador e ex-aluno da Columbia Robert Kraft, fundador da Fundação Columbia para Combater o Antissemitismo, suspendeu as doações para a universidade, assim como o bilionário Len Blavatnik, com acusações de que a Universidade Columbia não estava combatendo suficientemente o antissemitismo no campus. Por outro lado, o Senado da Universidade de Columbia elaborou e divulgou uma resolução de censura contra Shafik por violar “os requisitos fundamentais da liberdade acadêmica” e causar um “ataque sem precedentes aos direitos dos estudantes”. Em 29 de abril de 2024, Shafik anunciou que as negociações com os manifestantes estudantis estagnaram e que a “universidade não se despojará de Israel”. Ela solicitou a intervenção do NYPD pela segunda vez em duas semanas no dia seguinte, levando à prisão de mais 108 indivíduos.
Como se sabe, as reitorias de diversas universidades americanas chamaram a polícia, e houve protestos em mais de 40 universidades. Os protestos se espalharam para outras instituições e se tornaram um tema importante nas eleições presidenciais, com o conflito entre manifestantes, reitorias e opositores sendo debatido entre os candidatos Donald Trump e Joe Biden. Nos últimos dias, os protestos estudantis relacionados a Gaza alcançaram 140 universidades americanas, em 45 Estados, com mais de 3 mil pessoas detidas.
Uma “professora” de Colúmbia: uma cidadã muito suspeita
Na Universidade de Colúmbia um fato importante, que não foi muito divulgado pela imprensa corporativa, chamou a atenção. A violenta repressão contra estudantes da Universidade de Columbia que protestavam contra o ataque genocida de Israel à Faixa de Gaza foi liderada por um membro do corpo docente da própria escola, de acordo com o prefeito de Nova York, Eric Adams. O fato foi revelado em uma reportagem especial do site britânico de jornalismo investigativo The Grayzone.
Durante um Conferência de imprensa de 1º de Maio, poucas horas depois que o Departamento de Polícia de Nova York prendeu quase 300 pessoas em terrenos universitários, o prefeito Adams elogiou a “professora adjunta” da Universidade de Columbia Rebecca Weiner, que é chefe do departamento de contraterrorismo do NYPD, a responsável por dar à polícia luz verde para reprimir com violência os estudantes antigenocídio.
“Era ela quem estava monitorando a situação”, explicou o prefeito Adams, acrescentando que a repressão foi realizada depois que “sua equipe conseguiu conduzir uma investigação no campus”. A poucas centenas de metros do acampamento de protesto em Gaza, Weiner mantinha um escritório na Escola de Relações Públicas e Internacionais (SIPA) de Columbia. Seu bio na SIPA descreve-a como uma “Professora Adjunta Associada de Relações Internacionais e Públicas” que simultaneamente atua como “executiva civil encarregada do Departamento de Inteligência e Contraterrorismo do Departamento de Polícia de Nova York”. Nessa função, de acordo com a SIPA, Weiner “desenvolve políticas e prioridades estratégicas para o Bureau de Inteligência e Contraterrorismo e representa publicamente o NYPD em assuntos envolvendo contraterrorismo e inteligência”.
O mais surpreendente dessa estranha ligação é que, como cita o Grayzone na reportagem, o Escritório de Contraterrorismo do NYPD atualmente mantém um escritório em Tel Aviv, Israel, onde age em conjunto com o aparato de segurança de Israel, que também mantém uma ligação com a NYPD. A “professora” Weiner parece servir como uma ponte entre os escritórios do Bureau em Israel e Nova York.
Em 2011, uma investigação da AP revelou que uma chamada “Unidade de Demografia” operava secretamente dentro do Departamento de Contraterrorismo e Inteligência do NYPD. Essa cobertura sombria era utilizada para espionar muçulmanos no entorno da cidade de Nova York e até mesmo estudantes em campi fora do estado que estavam envolvidos no ativismo solidário da Palestina. A unidade foi desenvolvida em conjunto com a CIA.O que é uma ação ilegal, pois a CIA não pode atuar dentro dos EUA. Essa “Unidade de Demografia” parece ter sido inspirada pela inteligência israelense também. Como um ex-oficial da polícia disse à AP, a unidade tentou “mapear o terreno humano da cidade” por meio de um programa “modelado de forma semelhante à que as autoridades israelenses operam na Cisjordânia”.
Ao longo da coletiva de imprensa, o prefeito Adams repetidamente classificou a repressão da cidade ao discurso estudantil como a única solução possível para os acampamentos em andamento no campus. Segundo o prefeito, “os jovens estão sendo influenciados por aqueles que são profissionais na radicalização de nossas crianças”. “É desprezível que as escolas permitam que a bandeira de outro país seja hasteada em nosso país”, se referindo à bandeira da Palestina. A reportagem do Grayzone, no entanto, mostra o prefeito como um participante entusiasmado no desfile anual “Celebrate Israel” da cidade de Nova York, onde Adams agitava a bandeira de outro país, de Israel evidentemente.
A Classe Operária se junta aos estudantes em favor da liberdade de expressão
Os trabalhadores acadêmicos sindicalizados estão exigindo poder de decisão sobre seu trabalho e para que ele é usado. Por exemplo, trabalhadores acadêmicos do departamento de astronomia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz se organizaram para se recusar a solicitar ou aceitar financiamento do Departamento de Defesa dos EUA, fabricantes de armas e empreiteiros militares.
Em uma carta aberta publicada pela revista Science for the People em janeiro, eles escreveram: “A UC recebeu US$ 295 milhões em financiamento de pesquisa do Departamento de Defesa apenas no ano fiscal de 2022… A tecnologia que os astrônomos desenvolveram para a ciência está sendo mal-usada para vigiar e atingir pessoas dentro e fora dos EUA.”
Para outros, as agressões da polícia aos manifestantes e os ataques dos administradores universitários à liberdade de expressão no campus tornaram-se questões de violações de contratos e segurança no local de trabalho. A Auto Workers (UAW) Local 4811, representando 48.000 trabalhadores acadêmicos em todo o sistema da Universidade da Califórnia, apresentou acusações de práticas trabalhistas injustas (ULP) contra seu empregador por ataques violentos da polícia ao acampamento de estudantes da UCLA.
“A UCLA mudou unilateralmente suas políticas de liberdade de expressão no local de trabalho sem fornecer aviso ou negociação”, disse a Local 4811 em um comunicado. “Ao fazê-lo, violou sua política de neutralidade de conteúdo em relação ao discurso, favorecendo aqueles engajados no discurso anti-Palestina em detrimento daqueles engajados no discurso pró-Palestina.”
O local realizará uma votação de autorização de greve durante a ULP de 13 a 15 de maio. A votação pode levar milhares de trabalhadores acadêmicos a fazer greve pela liberdade de expressão e em solidariedade ao movimento estudantil pela Palestina. “Este é um momento em que estamos vendo a importância do movimento trabalhista no avanço das causas políticas”, disse Joanna Lee, organizadora do departamento do Student Workers of Columbia, UAW Local 2710. A SWC representa 3.000 trabalhadores acadêmicos de graduação e pós-graduação na universidade. O sindicato votou para se juntar à coalizão Columbia University Apartheid Divest em novembro de 2023, depois que duas organizações estudantis, Students for Justice in Palestine e Jewish Voice for Peace, foram banidas do campus da Columbia.
No UAW, houve ação tanto da base quanto da direção sindical. A UAW Região 9A realizou uma manifestação de solidariedade “Stand Up for Gaza” em 26 de abril, reunindo professores e estudantes da NYU, Columbia e The New School em apoio aos estudantes que protestavam. A manifestação terminou com uma marcha até o acampamento estudantil na NYU.
O diretor da Região 9A da UAW, Brandon Mancilla, disse em entrevista à Jacobin: “Esta é uma questão estudantil, é uma questão de liberdade de expressão acadêmica – mas também é uma questão trabalhista, porque nossos membros mostraram quanto isso afeta os direitos de todos no campus, não apenas suas próprias unidades de negociação”.
Os laços entre o imperialismo e os sionistas
Estudantes e professores estão rapidamente reconhecendo que os eventos que se desenrolam em Gaza estão profundamente entrelaçados com a influência de grupos sionistas sobre as universidades, incentivando a colaboração com Israel. Em toda a América do Norte, essas instituições têm investimentos por meio de fundos patrimoniais de bilhões de dólares em corporações que estão apoiando ativamente os militares israelenses no genocídio em curso em Gaza.
A resposta dura das universidades e das autoridades aos protestos estudantis vai além das preocupações com a ordem pública ou com o retorno financeiro. Trata-se de salvaguardar os poderosos interesses imperialistas totalmente vinculados ao sionismo internacional. Os movimentos pelo desinvestimento estabelecem uma cunha no sistema capitalista, mostrando a podridão dos que apoiam o genocídio em Gaza e seus vínculos estruturais com o imperialismo e o Estado norte-americano. Os estudantes revelam as relações entre o sionismo e os interesses imperialistas atuais que estabelecem padrões de discriminação racial, apartheid e violência universais.