No dia 28 de setembro, camponeses posseiros do Barro Branco, localizado no município de Jaqueira (PE), foram surpreendidos por mais de 50 pistoleiros que tentaram invadir suas terras. Liderados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), posseiros resistiram e conseguiram, com suas próprias forças, impedir a ofensiva. Três pessoas acabaram sendo baleadas pelos capangas do latifúndio.
Logo após o acontecimento, correspondentes do Diário Causa Operária conversaram com alguns dos posseiros, que forneceram vários detalhes sobre o regime de terror no campo, imposto pelos pistoleiros com a conivência e, muitas vezes, com a participação do aparato repressivo do Estado.
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Neste artigo, trazemos o relato de uma camponesa posseira que conta como os latifundiários violam o direito de ir e vir daqueles que residem no Engenho Barro Branco.
Nossa entrevistada reside no Sítio Tenório, um dos maiores sítios da região do Barro Branco e que hoje está sob ameaça de ser invadido pelos latifundiários da empresa Mata Sul. Além de relatar casos já bastante conhecidos de intimidação por parte dos pistoleiros, que invadem casas, agridem e até atiram contra a população local, a posseira nos contou que até mesmo a criação de gado nos territórios invadidos pela Mata Sul é utilizada para coagir os moradores.
“Esses bois do homem que quer tomar a nossa terra são um problema”, começou ela. Nossa entrevistada, então, contou que, com muita frequência, os capangas do latifúndio cortam propositalmente o arame das cercas onde ficam seus bovinos, de modo a bloquear a passagem dos camponeses pelas estradas de terra do Engenho Barro Branco.
“Eu venho passando por problema de saúde, e muitas vezes preciso ir para o hospital. Mas eu não posso ir de moto, porque quando a gente sai de moto, os bois atacam a gente, a gente se acidenta.”
Bastante assustada com a situação, ela conta que “os bois tentam derrubar a gente da moto. E quando a gente vai de carro, os bois ficam ciscando, abaixam a cabeça e vão para cima da gente”.
O objetivo de soltar os bois é, como fica claro no próprio relato, intimidar os camponeses, para que acabem desistindo de lutar e abandonem as suas terras.
“A gente não pode ir para o hospital à noite, a gente não sai. Nós que somos moradores estamos com medo até de sair na rua, pois estamos todos sendo perseguidos.”
Apesar disso, o espírito dos camponeses posseiros não tem sido o de baixar a cabeça. Pelo contrário: cada vez mais, cresce a certeza de que os posseiros só terão a sua terra por meio da luta contra o latifúndio.