No dia 13 de abril, ocorreu o segundo maior acontecimento político do século XXI. A Guarda Revolucionária Iraniana, agindo sob as ordens da própria República Islâmica do Irã, disparou centenas de mísseis e VANTs (veículos aéreos não tripulados) contra cidades ocupadas por “Israel”. Foi a primeira vez em 51 anos que “Israel” era atacada desta forma.
Imediatamente após a Operação Promessa Cumprida, a imprensa imperialista partiu para as acusações contra o Irã. Ao lado de “Israel”, como sempre estiveram durante todos os últimos seis meses, apresentaram o país persa como “malvado” por ter exercido o seu direito de se defender. Em resumo, a ação do Irã expôs, uma vez mais, a polarização mundial: de um lado, os sócios do genocídio na Faixa de Gaza; de outro, os aliados na luta contra as monstruosidades sionistas.
Uma organização brasileira, no entanto, procurou apresentar uma posição por fora da polarização. Isto é, uma farsa, que, como em todos os momentos em que se vê a “neutralidade” diante de um conflito no qual o imperialismo está envolvido, não passa de uma defesa velada da ordem mundial.
Essa organização é o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), organização que se diz “trotskista” e que é associada ao Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS). Em seu portal Esquerda Diário, o MRT nos ensina que a reação ao Irã nada teria que ver com o desenvolvimento da luta dos palestinos contra “Israel”. Segundo seu portal, o país persa agiu porque “precisa restabelecer a confiança nas instituições do regime, em grande parte deslegitimadas, como o demonstra a participação historicamente baixa nas últimas eleições, e, ao mesmo tempo, reafirmar o seu poder regional“. O MRT ainda acrescenta que, para o regime israelense e o regime iraniano, “a perspectiva de unir o seu país contra uma ameaça externa pode ser uma saída a curto prazo, mas é altamente incerta a médio e longo prazo“.
O artigo do MRT poderia ter sido escrito em apenas cinco palavras: “Irã atacou ‘Israel’. E daí?”. Quando o MRT mente sobre a situação interna do Irã e, logo depois, fala que o regime persa precisaria “unir o país contra uma ameaça externa”, ele está dizendo com todas as letras: “a briga entre ‘Israel’ e o Irã é problema deles”. Ou, mais precisamente, é problema de Benjamin Netaniahu e de Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
Paremos para pensar um único instante. De um lado, está um Estado nazista, que promove um regime de apartheid sustentado pelo imperialismo. Esse regime assassina não apenas os palestinos, mas também todos os que lhe apoiam ou que lhe favorecem de alguma forma. Assassina libaneses, iranianos, sírios e está disposto a assassinar qualquer um que não se curve à sua ditadura. Do outro lado, está o Irã, país que reconhecidamente fornece armas, treinamento e recursos para as principais organizações armadas envolvidas na luta pela libertação da Palestina. Um país que “Israel” insiste em arrastar para a guerra porque com o apoio dado pelo Irã ao Hamas, à Jiade Islâmica, ao Hesbolá e ao Ansar Alá, a entidade sionista está fadada à morte.
Qualquer pessoa no mundo que, diante desse conflito, decide não tomar lado, está, na verdade, tomando um lado: o lado dos opressores. Afinal, quem está agredindo não é o Irã. Quem está oprimindo não é o Irã. Portanto, a política do “nem Irã, nem ‘Israel'” só pode favorecer a “Israel”. É assim e sempre será assim em qualquer conflito.
Dito isso, entremos propriamente nos argumentos do MRT. Diz ele que o Irã estaria imerso em uma grande crise interna que teria sido exposta por causa da grande “abstenção” nas eleições.
Se há algum regime em crise, no entanto, é o regime de “Israel”. Mesmo tendo recebido mais de 1,5 trilhão de reais dos Estados Unidos durante 75 anos, mesmo recebendo o apoio de toda a grande imprensa internacional, o regime israelense se encontra em frangalhos. A cada semana que se passa, cresce a pressão nas ruas contra Benjamin Netaniahu. Por várias vezes, a imprensa local já afirmou que “Israel” estaria à beira de uma crise energética ou até mesmo alimentar pelo colapso de sua economia. Um setor decisivo para a sustentação de seu governo, os judeus ultraortodoxos, estão ameaçados de romper com Netaniahu.
O que pode se comparar com isso no caso do Irã? Absolutamente nada. Pelo contrário: a República Islâmica do Irã, que já nasceu sob uma guerra altamente destrutiva encomendada pelo imperialismo, vem demonstrando cada vez mais força, mesmo diante de todo tipo de ação contrária. A própria suposta abstenção mencionada pelo MRT é parte de uma tentativa de desestabilizar o regime – uma tentativa que vem de fora, e não que surge espontaneamente das massas persas.
Mas também é falso que houve uma grande abstenção. A abstenção nas eleições de 2024 foi, mesmo diante de uma campanha internacional pelo boicote, ligeiramente mais alta que a das eleições anteriores. Isto é, o efeito da campanha, que envolveu até mesmo a premiação do Nobel da Paz para uma opositora do regime, não surtiu efeito.
Que uma mentira fabricada pelo imperialismo seja a base para a tese pró-imperialista do MRT não é, obviamente, uma coincidência.