Não é de hoje que a postura da esquerda brasileira acerca do tema da segurança pública é conservadora. No entanto, num momento em que a direita está numa ofensiva, o oportunismo leva um setor importante da esquerda a aderir a posições profundamente reacionárias. É verdade que a segurança pública é um problema importante para uma parcela significativa da população brasileira, no entanto, não é competindo com o bolsonarismo para ver quem é “mais duro contra o crime” o caminho do sucesso. Se o parâmetro for esse, quem votaria num petista ao invés de votar nos elementos bolsonaristas oriundos das forças de repressão?
Não fosse somente o problema eleitoral interno, se a situação equatoriana serve de parâmetro, o imperialismo molha os beiços com a ideia de mandar seus soldados sob a falsa máscara do combate ao crime organizado. Moral da história: é também um problema importante para a própria soberania nacional. Mesmo com todas essas observações, o governo Lula trilha um caminho infeliz: vai atuar com firmeza contra a “indústria multinacional do crime organizado”.
Lula afirmou ser necessário um investimento pesado em inteligência para capturar os chefes das organizações criminosas. Tal medida não vai resolver nada. Desmanchadas algumas organizações criminosas, outras aparecerão para tomar seu lugar. Além disso, quem vai trabalhar nisso? A polícia federal infiltrada até os ossos pelo imperialismo? A ABIN? Fortalecer tal aparato sem ter o controle do regime político é um erro terrível que poderá ser muito custoso à classe operária brasileira.
Por outro lado, Lula diz: “é uma coisa tão difícil que muitas vezes um país rico como os Estados Unidos acha que combater a droga será resolvido colocando base militar na Amazônia, ou colocando base militar na Colômbia. O problema não é de droga, o problema é saber o seguinte: como é que um país rico vai cuidar dos seus usuários”.
Felizmente, o presidente reconhece o perigo para a soberania nacional na interferência imperialista no “combate às drogas”. No entanto, os norte-americanos não acham mesmo que estão a combater o tráfico. Verdade seja dita: exemplos não faltam do envolvimento da CIA com o tráfico de drogas para financiar operações golpistas, mundo afora. Trata-se somente de um pretexto.
No entanto, não fica muito claro o que o presidente quer dizer com “como é que um país rico vai cuidar de seus usuários.” A epidemia de uso de drogas é uma consequência social do capitalismo em putrefação. Proibir o varejo de drogas só faz aparecer um gigantesco mercado ilegal. Lula está certo em dizer que o “crime organizado virou uma grande indústria multinacional”. No entanto, a solução conservadora falhará novamente, como sempre falhou. No frigir dos ovos, é mais uma daquelas declarações intervenções do presidente que poderiam simplesmente não ter existido.