Nessa terça-feira (24), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, compareceu à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) acompanhado pela primeira-dama, Rosângela “Janja” da Silva; dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira e também do assessor especial e ex-chanceler, Celso Amorim, ocasião em que proferiu o discurso de abertura 79ª edição do encontro, na cidade norte-americana de Nova Iorque, tradicionalmente feito pelo representante do Brasil.
Embora envolto por uma retórica progressista e solidária, o discurso de Lula revela profundas contradições e um alinhamento vergonhoso com a política imperialista. Em sua fala, o mandatário brasileiro se dirige a crises globais, mas sua análise, em várias instâncias, não divergem dos limites estabelecidos pelo imperialismo.
Ao abordar a questão do conflito em Gaza, por exemplo, Lula adota um tom que pretende ser neutro, mas, na prática, termina endossando as mentiras contadas pela propaganda sionista que minimizam a opressão do povo palestino, tratando as ações de “Israel” como uma forma de “direito de defesa”. Diz o presidente brasileiro:
“O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes [grifo nosso], tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino.
São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças.
O direito de defesa transformou-se no direito de vingança [grifo nosso], que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo.”
Ao afirmar que o que começou como “ação terrorista de fanáticos” se transformou em uma “punição coletiva” ao povo palestino, Lula não faz outra coisa além de emprestar o seu prestígio junto à classe trabalhadora mundial para legitimar a barbárie sionista contra o povo palestino. É uma fala que termina apoiando os crimes que resultaram nas mais de 40 mil vítimas fatais de “Israel”, incluindo-se aí mais de 10 mil desaparecidos, presumivelmente mortos. Lula faz um ataque frontal à Resistência Palestina ao dispensar a seus heroicos militantes o mesmo tipo de calúnia com que são retratados pela propaganda sionista.
Além disso, o presidente também se pronunciou sobre as operações militares russas contra a OTAN, com colocações que também demonstram a subserviência do Brasil ao imperialismo. Disse Lula:
“O uso da força, sem amparo no Direito Internacional, está se tornando a regra.
Presenciamos dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem confrontos generalizados.
Na Ucrânia, é com pesar que vemos a guerra se estender sem perspectiva de paz.
O Brasil condenou de maneira firme [grifo nosso] a invasão do território ucraniano.
Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar.”
Além disso, a insistência de Lula na importância da ONU como um fórum para resolução de conflitos é completamente fora de propósito e ajuda a manutenção de ilusões pueris quanto à entidade que visa dar um ar de legitimidade à ditadura imperialista mundial. A história recente mostra que a ONU é incapaz de se contrapor aos piores interesses imperialistas e em defender os povos oprimidos.
Essa falência é particularmente evidente em casos como o da Palestina, onde as resoluções da ONU muitas vezes não são implementadas ou desconsideradas por potências que dominam o Conselho de Segurança. É ridícula a insistência de Lula em ajudar a propaganda imperialista a tentar convencer o mundo de que a ONU é uma espécie de governo mundial quando a entidade é uma farsa.
Os israelenses estão massacrando o povo palestino e, agora, abrindo uma frente de guerra contra o Líbano Fosse a Rússia, a China ou a Venezuela atacando um povo com uma fração da selvageria sionista, já teriam sido invadidos.
Ao acreditar que a ONU pode ser um agente eficaz de mudança, Lula reforça ilusões que não fazem mais do que confundir os povos oprimidos e atrasar a luta pela libertação das nações atrasadas do imperialismo. N
Quando Lula fala sobre fome, seu discurso esconde o fato de o flagelo estar intrinsecamente ligado às políticas das nações ricas, que vampirizam os países atrasados e terminam condenando as amplas massas desses países à miséria. A solução proposta por Lula de taxar ricos é genérica o bastante para sequer despertar críticas do imperialismo.
A falta de uma crítica aos crimes do imperialismo no mundo e em especial à barbárie enfrentada pelo povo palestino, a crença desmoralizante na ONU e a proposta de reformas inócuas, que não desafiam a ordem estabelecida, compõe um quadro que mostram um líder esquerdista completamente domesticado, o que é péssimo para o Brasil. Em um momento marcado por uma nova onda de golpes de Estado e no qual as potências imperialistas se preparam para uma guerra de grandes proporções, as posições capituladoras de Lula colocam o peso da principal nação latino-americana e a mais desenvolvida entre as nações atrasadas a serviço dos opressores da humanidade.
É ruim para a luta anti-imperialista de conjunto, mas para os brasileiros, é especialmente problemática porque demonstra a fraqueza do governo e anima as forças golpistas a atacarem o País. Sem uma mudança drástica e a busca pelo apoio popular, o Brasil verá, muito em breve, o florescer de uma onda direitista muito pior do que a da década passada.