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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Libertação e a situação da revolução húngara em 1973

Ao focar na luta de classes, filme é um grande exemplo de como a emancipação feminina não pode estar dissociada de sua emancipação social

O filme “Libertação” (título original: “Szabad lélegzet”), dirigido por Márta Mészáros em 1973, explora temas como conflito de classes e a revolução socialista na Hungria. A história segue Jutka (Erzsébet Kútvölgyi), uma jovem da classe trabalhadora e suas aventuras amorosas no início dos anos 1970.

Em 1973, a Hungria socialista era liderada pelo presidente János Kádár, enfrentando uma série de desafios econômicos e sociais causados pela crise do petróleo e pela Guerra Fria.

Filha de operários e criada em um orfanato após o divórcio traumático dos pais, Jutka busca entender seu lugar no mundo a partir do relacionamento com diversas pessoas que participam do seu cotidiano. Ao longo do filme, conhecemos suas amigas de trabalho em uma fábrica têxtil, os namorados e seus pais.

A história parece mostrar um ritual de passagem para a vida adulta, no qual a protagonista tem que superar as amarras sociais e subjetivas que a prendem a determinadas situações. A conhecemos terminando um relacionamento com um homem que não ama e que reage de maneira violenta às suas negativas.

A seguir, ela conhece András (Gábor Nagy), um estudante universitário. Ambos se apaixonam a ponto de quererem se casar. Mas Andrés é de uma família de classe média e esconde dos pais e dos amigos as modestas origens de sua namorada, colocando em xeque o relacionamento.

Nesse ponto, o conflito de classes se estabelece, colocando-a em uma posição inferior por ser operária. A cineasta conta a história do ponto de vista de Jutka, enriquecendo o contexto com sua condição de mulher trabalhadora. 

Em um determinado momento, ela conhece a mãe de András que lhe explica que, após o trabalho, cuida ainda de todos os afazeres domésticos porque não gosta de estranhos em casa. São cenas como essa – e muitas outras – que vão mostrar o fracasso da revolução húngara. O comportamento da mãe de András revela uma posição de classe reacionária.

Assim, tarefas como lavar louça ou servir café são parte de um enredo cheio de significados. A condição feminina está presente em todos os desafios da protagonista. Inclusive a vivência livre de sua sexualidade.

Outra maneira de abordar o filme é vê-lo como representação do fim do processo revolucionário húngaro a partir dos conflitos cotidianos da operária. A própria existência da pequena-burguesia, representada pelo universitário András e por sua família, mostram que a revolução regrediu, apesar do regime socialista ainda dominar o país naquele momento do filme.

Há uma certa influência da cultura de massas das sociedades capitalistas nas músicas que são ouvidas pelos personagens, dando a entender que há uma identificação com os valores da Europa e dos Estados Unidos, principalmente entre os jovens universitários.

Márta Mészáros é uma cineasta húngara, conhecida por seu trabalho que aborda questões sociais e pessoais com sensibilidade. Nascida em 19 de setembro de 1931 em Budapeste, tornou-se uma figura proeminente no cinema europeu, sendo a primeira mulher a ganhar o Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim, pelo filme Adoção, de 1975.

Seu trabalho é caracterizado por uma abordagem de questões sociais e políticas a partir das experiências das mulheres. Mészáros é conhecida pela habilidade de mesclar a vida cotidiana com o cenário político, oferecendo uma perspectiva única sobre a vida na Hungria durante e após o fim do regime socialista.

Esse pouco conhecido filme é uma joia do cinema progressista e um alento. Ao focar na luta de classes, é um grande exemplo de como a emancipação feminina não pode estar dissociada de sua emancipação social, como nos querem fazer crer os identitários ongueiros dos dias de hoje.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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