Recentemente, a imprensa repercutiu os resultados da última pesquisa Datafolha. Em matéria na Folha de S. Paulo, por exemplo, alegam que a suposta baixa popularidade do presidente Lula se daria à política externa e à economia – justamente as pautas menos alinhadas à esquerda. Outros artigos expõem como o presidente do Brasil deveria se curvar diametralmente aos interesses do imperialismo.
A imprensa constantemente o ataca, dentre tantas coisas, pela “polarização”. Lula deveria seguir o “meio do caminho”, ou seja, imitar uma direita dita moderada, tucana, esse que quase desapareceu do mapa político da país.
Essa questão, de acordo com a Folha de S. Paulo, faria com que o governo tivesse ainda mais limitada a sua capacidade de manobra política, principalmente graças a esse contexto de polarização. O pior, no entanto, se dá na compreensão de que são as questões como endurecimento penal, restrição ao direito ao aborto e políticas de segurança pública que podem desgastar mais a imagem de Lula. A questão levantada, basicamente, afirma que se o Lula não for um líder tucano, não terá apoio popular. Nem Lula, nem Bolsonaro. O presidente deveria ser como um Aécio Neves – direitista, mas bem vestido.
Constantemente, criticam o presidente Lula na imprensa por suas falas, seja em defesa de Maduro, Ortega ou dos palestinos, na política internacional, ou nos seus posicionamentos contra um Banco Central Independente, ainda que não tenham sido feitas ações muito concretas. Repercutem a fala de Lula contra grandes privatizações como se fosse uma fala que fosse de encontro com os interesses brasileiros, não apenas contra o interesse de um setor da burguesia e dos especuladores. O ideal para a burguesia, e consequentemente para a imprensa burguesa, são líderes impopulares, de direita, que tenham o aparato repressivo na mão e maqueiam suas políticas ora com o identitarismo, ora com quaisquer outros artifícios utilizados para esconderem a realidade sanguinária das suas práticas. Um exemplo é Michel Temer, ex-presidente golpista, sendo o Fernando Henrique Cardoso outro exemplo.
Na última matéria sobre a pesquisa Datafolha, por exemplo, a Folha opina sobre como a economia e a política internacional de Lula dificultam sua vida e a vida política do Brasil. Advogam que o presidente mexeu em um vespeiro, o holocausto, para defender a Palestina no que chamam de “guerra entre Israel e Hamas”, alegando que Lula não defende o Estado “judeu”. Por si só isso revela a farsa, quando analisamos que apesar de não ser a postura deste Diário, o presidente Lula chega a defender, sim, o Estado de “Israel” como um Estado judeu. Outro ponto é que os que apontaram esta questão como negativa na fala de Lula, de acordo com a própria entrevista, são os que avaliaram como péssimos e se consideram evangélicos – um público que, atualmente, não só não possui uma relação de carinho muito próxima ao presidente, mas uma aproximação por motivos religiosos com a entidade sionista de Israel e as demais pautas imperialistas. Observa-se um fenômeno parecido, também, quando a Folha cita a postura de Lula na guerra entre Rússia e a OTAN como um ponto negativo na política externa brasileira, desejando que a postura do presidente fosse uma postura semelhante à de Emmanuel Macron ou qualquer outro líder genérico da União Europeia.
Enquanto Lula for Lula, a imprensa o criticará por não ser o serviçal imperialista que queriam que a principal liderança brasileira fosse. Querem que ele vire tucano, pois assim, além de Lula obedecer a política da burguesia, ainda perde popularidade para facilitar sua derrubada. A burguesia ganha duas vezes.