Os termos “expandir a guerra” e “guerra expandida” – “widen war” e “wider war“, em inglês – se encontram presentes em todos os artigos da imprensa imperialista. A repetição aparece sempre em sinal de preocupação: a tal expansão da guerra seria, portanto, um grande problema.
E que expansão seria essa? De que guerra tanto a imprensa tem falado? Ora, a guerra entre o Estado de “Israel” e o povo palestino, que, cada vez mais, tem recebido o apoio de organizações no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen. A expansão da guerra é justamente a possibilidade de o que hoje se localiza na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e na fronteira Líbano-“Israel” se transforme em um conflito generalizado no Oriente Médio.
O que é especialmente preocupante para o imperialismo é que a generalização do conflito significaria, na verdade, uma guerra generalizada contra o Estado de “Israel”. No Líbano, a maior organização militar que existe é o Hesbolá, dono de um exército paramilitar mais poderoso que o próprio exército brasileiro. E não há dúvidas de que lado o Hesbolá ficaria: na verdade, o Partido de Deus já está lutando contra “Israel” na fronteira. Em discurso recente, Hassan Nasralá, líder da organização, declarou francamente que decidiu lutar contra “Israel” no sul do Líbano com o objetivo de “diminuir a tensão sobre os palestinos”. No entanto, o mesmo Nasralá falou que, caso “Israel” decidisse declarar guerra a seu país, o Hesbolá estaria preparado para a “guerra total”.
Nasralá ainda afirmou que:
“Eles acharam que o que começou em Gaza poderia assustar o Líbano. Quando o Líbano abriu o fronte, mostrou que a resistência libanesa não tem medo de ninguém, não tem nenhum compromisso com ‘Israel’ e que vai defender os seus próprios interesses […] O Líbano mostrou que tem os seus combatentes, os seus homens, a sua resistência […] Tudo o que vocês estão ouvindo de gritarias, de ameaças, eu vou falar poucas frases para resumir tudo isso. Estamos lutando no sul do Líbano com equações definidas, mas, se o inimigo pensar em uma guerra contra o Líbano, nosso combate será sem limites, sem equações, e ele sabe muito bem o que significa isso. Não temos medo da guerra, não temos dúvidas, não temos medo. Todo mundo nos ameaçou, os Estados Unidos, os alemães, os ingleses, mas isso não nos fez voltar para trás, não nos fez temê-los.”
O grupo político que controla o Iêmen, por sua vez, já se encontra em guerra contra “Israel”. Em apoio ao povo palestino, os Ansar Alá, que enfrentaram uma guerra muito sangrenta contra a Arábia Saudita, que agiu como advogada do imperialismo na questão, agora estão provocando uma crise de enormes proporções no Mar Vermelho. Os Hutis, como são chamados, principalmente pela imprensa imperialista, estão bombardeando os navios com destino a “Israel” e que apoiam o enclave sionista, forçando as companhias a refazerem sua rota e aumentarem consideravelmente os seus custos. Para que os Hutis se envolvam ainda mais no conflito, só se passarem a atacar diretamente o território ocupado por “Israel”.
O Hesbolá e os Ansar Alá, ainda que não sejam, de longe, os únicos aliados da resistência palestina, são o que melhor simbolizam a preocupação do imperialismo. Será mesmo que “Israel” estaria preparado para uma “guerra total” com aquele que é tido como o maior exército paramilitar do mundo, lutando em seu próprio território, apoiado pelas massas libanesas? Se a ação corajosa dos Hutis de desafiar a economia dos países imperialistas for copiada, qual o tamanho do estrago que a “guerra expandida” poderá criar?
Passemos então ao Iraque, um país cujo povo foi destruído, humilhado e maltratado, assim como hoje acontece com a população de Gaza. Com as criminosas sanções e invasões norte-americanas, o Iraque, que era um dos países mais prósperos de toda a região, foi resumido a escombros. Milhões de pessoas morreram diante da decadência econômica, da ruína da infraestrutura ou diretamente pela ação militar. Esse país, no entanto, hoje é cada vez mais controlado por milícias xiitas que estão apoiando a luta do povo palestino. Pressionado por essas milícias, o Iraque está muito próximo de se livrar de vez da participação norte-americana em seu território. Com toda a certeza, não ficariam do lado de “Israel” em uma “guerra expandida”.
Um cenário semelhante pode ser visto na Síria, embora não tenha sido ocupada pelos Estados Unidos. O país é alvo de uma intensa atividade de sabotagem dos norte-americanos, mas, sobretudo pelo apoio do Irã ao governo de Bashar al-Assad, os grupos armados locais estão apoiando a luta palestina.
Diante de todo esse cenário, não há como esperar que mesmo monarquias reacionárias e cooptadas pelo imperialismo forneçam apoio a “Israel”. Países como Jordânia, Egito e Barém, mesmo sendo muito vinculados ao imperialismo, seriam impedidos, pelas suas próprias massas, de ingressarem abertamente em uma guerra contra os povos árabes.
A guerra expandida seria, portanto, uma sentença de morte para “Israel”. Por isso, a preocupação do imperialismo que isso aconteça.
Mas quem quer a guerra expandida? Por mais que o cenário pareça favorável, a expansão não é exatamente o interesse dos países árabes. A luta das organizações islâmicas tem um caráter defensivo, é uma luta de resistência contra o Estado sionista de “Israel”. Neste sentido, seria muito mais favorável atrair o inimigo para o seu território, em uma ação desesperada, como foi a reação à Operação Dilúvio al-Aqsa, que provocar de imediato a expansão do conflito. Se a guerra se expandir, que se expanda como resultado da crise militar sionista.
Para o imperialismo, a expansão também não é conveniente – é, acima de tudo, um risco. Afinal, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, que tanto se esforçaram para implementar o Estado de “Israel”, estariam arriscando perder o seu grande ponto de apoio no Oriente Médio.
Quem está tentando expandir a guerra, portanto, é o próprio governo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de “Israel”. Trata-se de uma ação desesperada para tentar fazer com que, diante da intervenção de outros países, os Estados Unidos se vejam obrigados a entrar no confronto. Coisa que, neste momento, o imperialismo não pretende fazer, tanto pelo risco de uma derrota, como pelo fato de que a crise política no interior do regime norte-americano já é muito grande e pode levar à derrota eleitoral de Joe Biden em 2024.