Em pronunciamento realizado nesse domingo (9), o presidente francês Emmanuel Macron anunciou a dissolução do parlamento e a convocação de novas eleições. A medida, ainda que esteja previsa pela Constituição francesa, foi vista, inevitavelmente, como o sinal de uma profunda crise política no país da Europa Central. Diferentemente do mecanismo da “morte cruzada”, utilizado pelo então presidente equatoriano Guilherme Lasso, que dissolveu o parlamento e convocou eleições gerais, a Constituição francesa permite que apenas o parlamento seja dissolvido, sem implicar na saída do presidente.
Durante o seu discurso, Macron falou abertamente que a medida buscava conter o avanço da extrema direita em seu país. Macron foi humilhado na recente votação para o Parlamento Europeu, na qual sua rival, Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional, conseguiu mais da metade dos votos que o partido do presidente. O francês foi visto, aos olhos de todo o mundo, como o grande derrotado das eleições europeias.
“A ascensão dos nacionalistas, dos demagogos, é um perigo para nossa nação, mas também para a nossa Europa, para o lugar da França na Europa e no mundo”, disse o presidente francês, justificando-se. Segundo sua fala, Macron espera que, com a medida, a composição do parlamento possa se tornar mais favorável.
A medida causou surpresa em todo o mundo, despertando as mais diversas especulações. Afinal, se Macron decidiu convocar novas eleições logo após uma vitória acachapante da extrema direita, por que ele esperaria um resultado diferente? O senso comum diria que a composição do parlamento ficará ainda mais contrária a ele.
Uma possibilidade, no entanto, é que Macron, diante da crescente incapacidade de governar o país, tenha feito um acordo com a extrema direita. O resultado do parlamento europeu, assim, teria sido o último sinal de que precisaria chegar a um acordo com Le Pen. As novas eleições serviriam para sedimentar o acordo. Se de fato isso tiver acontecido, o povo francês deve se preparar para um governo muito direitista, que terá, ao mesmo tempo, o apoio do imperialismo e o apoio da extrema direita.
A segunda possibilidade, por sua vez, é que Macron tenha decidido apostar todas as suas fichas em um novo processo eleitoral para conseguir, por meio da chantagem, da extorsão e da própria manipulação eleitoral, diminuir a sua desvantagem perante Le Pen. Macron só conseguiu ser eleito, finalmente, devido a uma intensa campanha do imperialismo a seu favor, de maneira semelhante ao que aconteceu na eleição de Joe Biden, em 2020.
Essa hipótese apareceu no jornal norte-americano Times, segundo o qual Macron “espera forçar os republicanos de centro-direita a chegarem a um acordo com o seu campo de centro para evitar que a extrema direita ganhe poder”. Já o jornal italiano Corriere della Sera, ainda que considere a possibilidade, a vê com bastante ceticismo, ao dizer que Macron “joga a carta do desespero de uma eleição antecipada, na qual espera reavivar uma improvável frente republicana contra o Reagrupamento Nacional de Le Pen”.
O mecanismo da dissolução já foi utilizado outras vezes na França, como em 1962, 1968, 1981 e 1988. A dissolução de 1981 foi, por exemplo, um passo essencial para François Mitterrand obter a maioria após a sua eleição. No enanto, o mecanismo também já fracassou, quando, em 1997, o presidente Jacques Chirac, que pretendia consolidar a sua maioria na Assembleia, convocou novas eleições, resultando, em vez disso, numa maioria de esquerda, obrigando-o a formar um governo com o “socialista” Lionel Jospin.
Marine Le Pen, principal líder da extrema direita francesa, saudou a dissolução do parlamento e disse que as eleições no parlamento europeu estabeleceram o Reagrupamento Nacional “como uma grande força de mudança”.