O golpe de Estado na Síria, que resultou na derrubada de Bashar al-Assad, é uma das maiores vitórias do imperialismo nos últimos 10 anos. Trata-se, afinal, de um governo que integrava o Eixo da Resistência arquitetado pelo Irã e que estava envolto em uma série de alianças orquestradas pela Rússia de Vladimir Putin. Essas alianças, inclusive, permitiram a Assad sobreviver em meio a 13 anos de conflitos intensos com o imperialismo, incluindo sanções e uma brutal guerra civil.
A vitória do imperialismo, no entanto, ocorreu contra o calcanhar de Aquiles do bloco anti-imperialista. Isto é, ali onde o bloco era mais frágil. Assad, ainda que desempenhasse um papel importante na luta anti-imperialista, era, também, o menos decidido.
Para o Eixo da Resistência, a queda de Assad dificultará bastante o apoio logístico ao Hesbolá (Partido de Deus), o mais importante partido do Líbano, que impôs derrotas humilhantes a “Israel”. Para a Rússia, a queda de Assad poderá levar ao fechamento de suas bases, incluindo o porto instalado no país. Apesar disso tudo, o fato é que o governo Assad poderia ter desempenhado um papel muito mais decisivo na luta anti-imperialista – e isso, por sua vez, poderia ter lhe livrado de um fim tão trágico.
Assad, como uma típica liderança nacionalista burguesa, procurava se apoiar entre o imperialismo e a burguesia nacional. Esse equilibrismo, em momentos de maior radicalização, o levou ao Eixo da Resistência. No entanto, ao mesmo tempo, impediu que essa adesão fosse suficientemente sólida. Temendo a sabotagem das forças internas do país, Assad sempre se mostrou muito cauteloso a aderir de fato ao bloco anti-imperialista.
O que revela isso com maior clareza é o fato de que Assad, após uma série de vitórias militares importantes contra os mercenários que atuam para desestabilizar o país desde 2011, firmou um acordo com a Rússia e o Irã no qual nenhum dos países deveria ter uma presença militar efetiva na Síria. Do ponto de vista da luta anti-imperialista, isso não fazia sentido algum. Afinal, a Síria estava – e ainda está – sob pressão do imperialismo, incluindo duras sanções. O natural era que a Rússia e o Irã mantivessem uma presença forte no regime para prevenir investidas futuras.
A recusa de Assad de uma ajuda estrangeira nada tem a ver com um orgulho nacionalista ou coisa do tipo. Assad o fez por causa da pressão interna – que, por sua vez, era efeito da própria pressão do imperialismo. Assad sabia que uma presença militar ostensiva da Rússia e do Irã levaria a uma crise com as forças internas com as quais tentava chegar a um acordo.
Um ponto de pressão importante na questão interna eram os próprios militares. Esses, que estavam corrompidos pelo imperialismo, como o golpe revelou, certamente vetavam a maior participação russa e iraniana.
Caso tivesse decidido enfrentar essa pressão, Assad hoje poderia estar muito mais bem preparado para enfrentar a pressão do imperialismo. Poderia, inclusive, ter melhores condições econômicas para reconstruir o país, o que teria diminuído a insatisfação popular.
Sua queda é mais uma lição – inclusive, alarmante para a América Latina. Aqueles que se apoiarem exclusivamente na burguesia nacional e nas forças armadas não serão capazes de resistir à pressão do imperialismo.