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Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

Existem muitas Gazas no capitalismo

"Estamos diante de uma catástrofe infantil mundial, em que uma minoria vive protegida da fome e da pobreza enquanto a grande maioria não tem garantida a sobrevivência"

Quando vemos as imagens de crianças esquálidas por não estarem tendo a alimentação mínima necessária, temos a necessária indignação com as violências inimagináveis que são cometidas pelo Governo sionista. Não é possível aceitar que continue essa vilania e , na verdade, não podemos conceber como um governo que se diz democrático possa continuar matando milhares de crianças de todas as formas possíveis, com seguidos bombardeios aéreos, pelo fuzilamento e pela fome. Esta última forma é talvez a mais desumana, a mais violenta e que só pessoas que não tem a menor consideração pelo outro ser humano são capazes de realizar esses crimes. 

Esses são os israelenses, um povo vindo quase todo da Europa , que se apossaram e ainda roubam sistematicamente as terras dos palestinos, seus verdadeiros e únicos proprietários. São os israelenses que, com base em ideologias anti-humanas, dogmas religiosos fundamentados no mais puro e irracional fanatismo ou pela simples cobiça tem liquidado ao longo do tempo, crianças, velhos, moços, mulheres com requintes de crueldade que não tem registro na história da humanidade, desde que existe o Homo sapiens na terra.

Não estamos falando dos judeus, um povo que sofreu perseguições de todo tipo ao longo da história e principalmente foi objeto de uma tentativa de extermínio no curto período de 1939 a 1945 na Alemanha nazista. Os israelenses nada tem a haver com esses judeus. Usam e abusam de uma herança histórica para justificar seus crimes, mas são poucos os que realmente são descendentes dos milhões de judeus que foram mortos na Alemanha. 

Desde muito tempo os israelenses foram construindo seu verdadeiro legado, de um povo que massacra os naturais da região da Palestina, que os oprime, que os violenta e agora os submete a um dos maiores e mais violentos genocídios da história da humanidade. E eles não negam isso, pelo contrário, anunciam para todos a sua barbárie, fazem brincadeiras sádicas com o povo que oprimem, riem dos palestinos, fazem selfies da destruição de gaza e divulgam pelas redes sociais. Destroem hospitais e matam seus médicos e seus pacientes, destroem Universidades e queimam seus livros, espalham uma brutal e indescritível terror por onde passam. São capazes de destruir prédios inteiros, e tomam sempre o cuidado de avisar antes para os palestinos para evacuar o mais rapidamente possível as suas habitações. Personagens daqueles filmes de terror macabros, em que os assassinos se divertem com o medo, o pânico e a impossibilidade que impõem de que não há saída! Como ratos de laboratório, os palestinos são transformados em cobaias dos experimentos de sistemas de vigilância, de armas sofisticadas, de drones assassinos. Netanyahu vai passar para a história como o israelense modelo, que surgiu na vida política de “Israel”, para impedir que houvesse algum progresso na convivência de israelenses e palestinos, que se criassem dois Estados para cada um dos povos. 

Essa é a verdade sobre o que temos estado assistindo em Gaza e também na Cisjordânia. O que realmente interessa é a verdade sobre a realidade, que possibilite dar uma visão completa e justa do mundo em que vivemos. Nada é tão desumano e irracional quanto a substituição da realidade, pelo que nos parece ou nos convém. Esse é o mecanismo de falseamento permanente da verdade que permite aos israelenses viver como vivem, como opressores “puros” e violentos de uma parte importante da humanidade. De usufruir de privilégios, de ter estradas exclusivas, hospitais exclusivos, escolas exclusivas, comida abundante e deliciosa, festas “rave” ao lado da população à qual oprimem, massacram, violentam e matam. Destroem seus hospitais, universidades, prédios, de uma civilização única no mundo. 

No entanto, será que esta é uma característica “exclusiva” dos israelenses? Não é assim que vivem as populações em todos os países capitalistas? Os capitalistas são assim, lutam o tempo todo para ter mais e mais dinheiro, fama, poder sem se importar por aqueles que oprimem e que são a maioria da população? Hoje temos inclusive uma fracção específica de capitalistas, que se destacam do conjunto de sua classe , os bilionários e alguns já trilionários. São todos eles, bilionários ou não, esta espécie de pessoa que não tem a menor empatia, sentido humano, preocupação pela vida desumana que vivem as populações de seus países. Na verdade, eles não têm um país. O grande bilionário brasileiro, Jorge Paulo Lemann, vive na Suiça. Vários bilionários e capitalistas norte-americanos vivem em outros países. 

Essa tendência existe em muitas nações e hoje temos uma “realidade imaginada” propagada pelas redes sociais que criam sua visão própria com a introdução de informações deformadas, manipulando a realidade. A grande novidade atual é que há um processo de revolta no mundo que resiste às manipulações e a dura verdade aparece, como ela é realmente. O enorme movimento mundial que se criou para denunciar o genocídio e combater a mentira sionista divulgada pelos meios de comunicação da burguesia é um grande exemplo disso. 

A fantasia da neutralidade, marcada pela (pseudo) objetividade, apoliticismo ou profissionalismo indefinido sobre os fatos sociais no mundo atual, nada mais faz do que beneficiar, favorecer e justificar os interesses da classe dominante, as injustiças sociais e perpetuar a exploração da ordem econômica vigente em nível global e nacional.

O capitalismo atual carece de qualquer perspectiva histórica e está mergulhado em uma crise geral e profunda causada pelas leis objetivas e contradições irreconciliáveis derivadas do próprio sistema. A crise geral do capitalismo significa sua decadência, sua decomposição e suas guerras que abrangem toda a humanidade, perturbando profundamente sua economia, seu regime social, político, ideológico e cultural.

Tentam nos convencer que a riqueza dos bilionários se deve ao triunfo de empresários inteligentes, mas sabemos que o orçamento da saúde de qualquer país do terceiro mundo equivale a 1% de sua fortuna, que atualmente alguns usam tentando navegar no espaço ou em águas profundas.

Como se sabe, a riqueza dos 26 bilionários do mundo aumentou em US$ 900 bilhões no ano passado, a uma taxa de US$ 2,5 bilhões por dia, enquanto a renda da metade mais pobre da população mundial caiu 11%. Ao mesmo tempo, uma em cada cinco crianças vive nas formas mais extremas de pobreza com menos de 2,15 dólares por dia, e quase um bilhão de crianças vivem em pobreza multidimensional, enquanto uma vaca europeia recebe mais de três euros por dia.

Estamos diante, portanto, de um mundo que é um “Israel” com israelenses que se locupletam com as riquezas que roubam dos outros povos e que submetem as crianças, assim como em Gaza, à miséria e a morte pela fome. Assim como em “Israel”, sem eliminar a raiz da opressão que é a classe dominante, não eliminaremos a barbárie e a desumanidade. Portanto, eliminar a pobreza no capitalismo é uma falácia. Mas, independentemente de razões políticas, sociais, jurídicas ou econômicas, a verdade é que os governos capitalistas são também obrigados a enfrentar a pobreza. 

 A fragilidade dos governos de países dependentes de commodities como o Brasil é evidente, pois estão submetidos à dominação dos mercados financeiros e do comércio global. Portanto, são reféns (quase passivos) das grandes potências e de suas guerras comerciais.

A vontade política atual continua a ser sequestrada pelo princípio do cumprimento das chamadas “leis naturais do mercado”. E nessa lógica, a primeira coisa é que se propõe é “sanear” a economia, como recomendam os organismos internacionais de crédito. Dificilmente se pensa em preservar o futuro das crianças, em estabelecer um padrão de vida digno e baseado na justiça social. No entanto, qualquer empreitada política que ignore essa tragédia em que vivemos não tem futuro e, claro, não tem justificativa. Continuaremos a hipotecar o futuro em nome do liberalismo econômico e do sacrossanto mercado, que estabelece um apartheid com a população trabalhadora do país e faz dos pobres vítimas de um genocídio diário e tão implacável como o israelense?

Um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da ONG internacional Save the Children e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) reafirma a necessidade urgente de estender a proteção social a todas as crianças, para ajudá-las a escapar da pobreza e de seus efeitos devastadores: a grande maioria das crianças não tem proteção social.

Menos de uma em cada 10 crianças em países de baixa renda tem acesso a benefícios necessários para sua sobrevivência, deixando-as vulneráveis a doenças, privação educacional, má nutrição, pobreza e desigualdade. Em vários países, os programas de proteção social para crianças têm cobertura limitada, níveis inadequados de benefícios, fragmentação e baixa institucionalização.

O Governo Lula , no afã da equipe econômica de obter o deficit zero, caminha no sentido de reduzir os gastos com saúde, educação e assistência social . Globalmente, 1,4 bilhão de crianças menores de 15 anos não têm qualquer forma de proteção social, tornando-as vulneráveis a doenças, desnutrição e pobreza, de acordo com os dados recém-divulgados.

Muitas crianças são privadas dos recursos e serviços básicos de que necessitam para sair da pobreza e, portanto, estão expostas ao impacto duradouro da fome, da desnutrição e do potencial não realizado. Os dados mostram que houve um aumento global modesto no acesso ao abono de família em um período de 14 anos, de 20% em 2009 para 28,1% em 2023. No entanto, os progressos têm sido desiguais. Em países de baixa renda, as taxas de cobertura permanecem surpreendentemente baixas, em torno de 9%. Ao mesmo tempo, 84,6% das crianças em países de alta renda estão cobertas. De acordo com a UNICEF, em todo o mundo, há 333 milhões de crianças vivendo em extrema pobreza, lutando para sobreviver com menos de US$ 2,15 por dia, e quase um bilhão de crianças vivendo em pobreza multidimensional.

Para fortalecer os esforços para monitorar e reduzir as lacunas na cobertura de benefícios familiares, a Save the Children, a OIT e o UNICEF desenvolveram o Global Child Benefits Tracker, uma plataforma on-line para monitorar o acesso das crianças aos benefícios e defender junto aos governos a proteção social das crianças. O lançamento ocorre em um momento crítico em que os dados mais recentes mostram que 829 milhões de crianças em todo o mundo vivem em lares onde a renda per capita é inferior a US$ 3,65 por dia e o progresso na redução da pobreza infantil estagnou em grande parte.

Portanto, estamos diante de uma catástrofe infantil mundial, em que uma minoria vive protegida da fome e da pobreza enquanto a grande maioria não tem garantida a sobrevivência que as permita viver a vida adulta. Assim como as populações se indignaram com o que acontece em Gaza e estão submetendo o imperialismo e Israel a uma violenta crise politica, é preciso um movimento de massa mundial que se revolte com o que acontece com as crianças no mundo emergente. É preciso que derrotemos a maquinaria mundial do capitalismo que não permite às crianças simplesmente sobreviver e ter direito a uma vida de grandes realizações pessoais e sociais.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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