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HISTÓRIA DA PALESTINA

Eixo da Resistência: coalizão anti-imperialista e antissionista

Com a recente ação militar do Irã sobre 'Israel', a coalizão, que já inclui o Hesbolá, as Forças Populares de Mobilização do Iraque, a Síria e o Iêmen, tende a se expandir

Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando foi deflagrada a operação Dilúvio de al-Aqsa, o Hamas e demais organizações da resistência palestina, o Hesbolá, as Forças Populares de Mobilização, o Iêmen, a Síria e o Irã vêm lutando de maneira cada vez mais intensa pelo fim da ditadura nazissionista. Eles formam o chamado Eixo da Resistência.

Como se pode notar, o Eixo da Resistência é uma coalizão de países e organizações do Oriente Próximo que travam a luta anti-imperialista e antissionista na região.

Não se sabe ao certo quando ele foi criado, ou mesmo se houve uma data específica de fundação. Contudo, a luta internacionalista contra o colonialismo e o imperialismo se fez presente em discursos de Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana, e primeiro chefe de Estado da República Islâmica do Irã. Khomeini dizia que “a verdade em nossa política externa e internacional islâmica [é] que buscamos expandir a influência do Islã no mundo e reduzir a dominação dos colonizadores” e que “o significado de exportar nossa revolução é que todas as nações acordem e todos os governos acordem e se libertem dessa situação difícil que enfrentam e dessa dominação em que estão presos e se salvem do fato de que seus recursos estão sendo saqueados enquanto eles vivendo na pobreza”.

Assim, o triunfo da Revolução Iraniana impulsionou a luta dos povos muçulmanos da região por sua libertação nacional, seja das garras diretas do imperialismo ou de “Israel”. Uma organização que surgiu influenciada pelo triunfo revolucionário no Irã foi a Jiade Islâmica Palestina, em 1981, a partir da Irmandade Muçulmana. Seu braço armado são as Brigadas al-Quds, que estão na linha de frente da atual guerra contra “Israel”. 

A luta contra o sionismo e os EUA em meio à população xiita no sul do Líbano também foi impulsionada pela Revolução Iraniana. Entre 1982 e 1985, o Hesbolá foi criado e organizado, contando com o auxílio de vários especialistas e combatentes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Na mesma época, igualmente no Líbano, a Organização Jiade Islâmica foi criada por Imad Mughniyeh. A organização esteve à frente de importantes ações de resistência contra o imperialismo, tais como as explosões dos quartéis das tropas imperialistas e da embaixada norte-americana em Beirute, ambas em 1983. 

Pode-se considerar essa época um prelúdio do Eixo da Resistência, termo que foi mencionado pela primeira vez em 2002 em matéria publicada no jornal diário líbio Al-Zahf Al-Akhdar. Era uma resposta ao então presidente norte-americano George Bush, que difamava o grupo de países Iraque, Irã e Coreia do Norte como parte de um “Eixo do Mal”. A matéria publicada no jornal líbio tinha como título Eixo do mal ou eixo da resistência e dizia que “o único denominador comum entre o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte é a sua resistência à hegemonia dos EUA”. Com a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003, o termo foi utilizado pelo jornal iraniano Jomhuri-ye Eslami, em 2004, para se referir à resistência popular iraquiana, em especial à resistência xiita aos invasores norte-americanos. 

Sobre essa resistência, recentemente, este Diário publicou matéria sobre o Hesbolá do Iraque, uma das principais milícias populares xiitas que compõem a coalizão chamada Forças Populares de Mobilização, esta, por sua vez, representante do Eixo de Resistência no Iraque. Vale ressaltar que o Hesbolá do Iraque foi fundado por Amal Jafaar al-Ibrahim, também conhecido como Abu Mahdi al-Muhandis, militar assessor da Força Quds e próximo de Qassem Soleimani, o arquiteto do Eixo da Resistência e líder da Quds de 1998 a 2020. Ambos estavam no mesmo veículo quando foram assassinados por um ataque aéreo dos Estados Unidos, em fevereiro de 2020.

Se antes da década de 2000 o Eixo da Resistência já vinha se desenvolvendo, manifestado especialmente na atuação do Hesbolá no Líbano, foi a partir dessa década, com a ofensiva generalizada do imperialismo contra o Oriente Próximo, marcada pelas invasões do Iraque do Afeganistão, que foi imposta a necessidade de acelerar o desenvolvimento do Eixo. Em entrevista datada do ano de 2019, o general Qassem Soleimani apontou ainda que a presença massiva dos EUA e demais forças imperialistas na região era uma oportunidade para “Israel” realizar uma ofensiva contra a Palestina:

“Depois do 11 de Setembro […] cerca de quarenta por cento das forças armadas à disposição dos EUA entraram na nossa região; e mais tarde […] até forças de reserva e de prontidão, bem como a guarda nacional, envolveram-se. Isto é, aproximadamente mais de sessenta por cento do Exército dos EUA, incluindo forças internas e extraterritoriais, foram destacados para a nossa região. Portanto […] só no Iraque havia mais de 150 mil soldados e mais de 30 mil militares dos EUA estavam presentes no Afeganistão.

[Incluindo] as forças da coligação, que eram cerca de 15.000 no Afeganistão, […] uma força de 200 mil membros, especializada e treinada, esteve presente em nossa região, próxima à Palestina. Esta presença proporcionou naturalmente oportunidades ao regime sionista. Ou seja, a presença dos EUA no Iraque foi um obstáculo ao dinamismo dos sírios na Síria, bem como uma ameaça ao governo sírio, e uma ameaça ao Irã.”

Em outras palavras, a própria existência do Eixo teve como razão de ser também a luta pela libertação da Palestina.

Nessa conjuntura, Imad Mughniyeh, o já citado fundador da organização Jiade Islâmica, um revolucionário libanês que era, igualmente, Chefe do Estado-Maior do Hesbolá, planejou e liderou operação militar que serviu de isca para que “Israel” desatasse mais uma invasão ao Sul do Líbano, dando início à Guerra de Julho, ou à Guerra do Líbano de 2006. Qassem Soleimani também esteve envolvido na Operação Promessa Verdadeira. Contudo, como relata o mesmo, foi Mughniyeh seu principal artífice:

“Uma operação especial foi realizada e foi comandada por alguém chamado mártir Imad Mughniyeh […] esta operação não durou um dia; pelo contrário, foi uma operação de alguns meses em que o regime israelense foi monitorizado. […] Uma das características de Imad Mughniyeh era sua meticulosidade e atenção aos detalhes. Assim, como ele geralmente planejava as operações de perto, o esboço do plano era dele, assim como a implementação dele. E Imad saiu vitorioso.”

O confronto, que durou 33 dias e terminou com a vitória do Hesbolá sobre as forças israelenses de ocupação, mostra que o poderio militar de “Israel” poderia ser derrotado por outro exército, de menor tamanho, e com menor tecnologia. Um ponto de virada na luta contra o sionismo. Embora não se possa precisar quando o Eixo da Resistência foi formado, é seguro dizer que sua consolidação se deu com a derrota de “Israel” na Guerra de Julho.

Não coincidentemente, o ano seguinte viu um avanço do Hesbolá do Iraque e demais milícias xiitas do Iraque, ligadas ao Irã. Foi neste mesmo ano que os EUA passaram a organizar a retirada de suas tropas do país, a qual terminou em 2011 (muito embora bases militares tenham sido mantidas no território iraquiano).

Após deixar o Iraque, o povo iraquiano e suas milícias populares ainda tiveram de lutar contra o Estado Islâmico, que estava sendo impulsionado pelo imperialismo. Nessa conjuntura, em 2014, foram criadas as Forças Populares de Mobilização, uma coalizão de cerca de 67 grupos armados e 230 mil homens, a maioria dos quais xiitas. Abu Mahdi al-Muhandis, como líder do Hesbolá do Iraque, foi um dos comandantes das Forças Populares na luta para derrotar a insurgência dos Estado Islâmico (EI). O Irã, através da Força Quds, liderada por Soleimani, foi fundamental nessa vitória contra o grupo, que atuava como força de procuração dos EUA, isto é, um substituto das tropas norte-americanas, cuja presença havia ficado insustentável. 

Assim, o Eixo de Resistência se expandiu, dele fazendo o Irã, o Hesbolá e as Forças Populares de Mobilização.

De forma semelhante ao que ocorreu no Iraque, os EUA utilizaram o EI como principal força de procuração para tentar derrubar o governo nacionalista de Bashar al-Assad na Síria. Na guerra que foi desatada no país em 2011, é conhecido o papel da Rússia em garantir que o jogo virasse a partir de 2015, garantindo a vitória síria. Contudo, isto não seria possível sem o Irã, que, desde o início da guerra, treinou milícias populares para lutar contra as forças imperialista, seja o Estado Islâmico, seja setores da população síria que haviam sido impulsionados pelo imperialismo para se levantar contra seu próprio povo. Novamente sob a liderança de Soleimani, o Eixo da Resistência se expandiu, e milícias populares xiitas como as Brigadas Fatemioun, Zainebioun, Al-Abbas se destacaram.

Por fim, mas não menos importante, estão o Ansar Alá, partido revolucionário que governa o Iêmen e que chegou ao poder em 2014 na conjuntura da Primavera Árabe, época revolucionária no Oriente Próximo. Sendo o Ansar Alá uma força popular, os EUA não aceitaram sua tomada do poder e, já naquele ano, utilizou a Arábia Saudita para desatar uma guerra de agressão contra o Iêmen. Após cerca de oito anos de guerra e mais de um milhão de iemenitas mortos, o imperialismo foi derrotado. Embora tenha sido o povo do Iêmen o responsável por sua própria libertação, o Irã contribuiu fornecendo armamento e apoio logístico.

Desde então, o Iêmen, sob liderança do Ansar Alá, faz parte do Eixo de Resistência, e sua principal ação desde outubro de 2023 vem sendo o bloqueio de embarcações sionistas e imperialistas no Mar Vermelho e no Golfo de Adém, sufocando a economia do Estado nazista de “Israel”.

Com o fim do poder dissuasório de “Israel” e dos EUA no Oriente Próximo, o que foi marcado com o sucesso da Operação Promessa Cumprida, do Irã, a tendência é que o Eixo se expanda no próximo período para incluir novas organizações e países, fortalecendo a luta da resistência e do povo palestino por sua libertação nacional e pela destruição de “Israel”.

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