O colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, publicou, no dia 2 de janeiro, um artigo chamado Lá como cá, em que se propõe a analisar a situação política argentina e compará-la com a brasileira. Segundo ele, tanto Milei quanto Lula seria “populistas” – um de direita, outro de esquerda – que não conseguem colocar em prática sua política.
“Os mesmos que o colocaram no poder acatando promessas alucinadas de passar a motosserra em tudo o que estivesse pela frente hoje se assustam com a potência de seu corte. Lula — populista dito de esquerda, eleito por pequena maioria para livrar o país de um extremista de direita que ameaçou transformar nossa frágil democracia em retrógrada ditadura revolucionária — enfrenta uma máquina política ainda controlada pela direita e não consegue ampliar o apoio que recebeu nas urnas.”
Segundo Merval, nem Lula, nem Milei têm apoio suficiente no Congresso e até mesmo não têm o apoio real que tiveram nas urnas ao serem eleitos.
“Os dois, cada um a sua maneira, usam as armas que têm para pressionar o Congresso e obter a aprovação de medidas que consideram indispensáveis para o prosseguimento de seus planos. Embora Milei seja mais histriônico e ameace diretamente o Congresso com uma revolta popular caso não consiga a aprovação de seu ‘Omnibus’, o governo petista não deixa de ser mais agressivo na decisão de enviar ao Congresso uma Medida Provisória decretando justamente o contrário do que os parlamentares acabaram de decidir.”
Merval é cínico ao igualar os dois casos. No caso argentino, o que acontece é que Milei está tentando impor uma verdadeira ditadura contra o povo. Os decretos que ele está propondo passam por cima do Congresso, mas, em primeiro lugar, por cima da população.
O caso de Lula é outro. O governo tenta aprovar uma política minimamente popular, contra um Congresso que se impõe contra a vontade do povo. Em ambos os casos, é o imperialismo tentando impor a sua política contra o povo. Na Argentina, Milei é o agente do imperialismo, no Brasil, é o Congresso nacional e a direita em geral.
Merval não fala isso porque é ele próprio um serviçal do imperialismo. Ele quer que Lula aceite as imposições do Congresso nacional e quer que Milei consiga colocar em prática sua política devastadora contra o povo, mas de maneira disfarçada, sem levantar toda a população contra ele.
“Nem Milei parece ter mais força para impor suas vontades a uma população assustada — incapaz de entender que a motosserra cortaria também sua carne —, nem Lula tem condições de impor ao Congresso uma humilhação como a que propôs, restabelecendo o veto em matéria já decidida pelos parlamentares.”
Merval sonha com governos da direita tradicional, aquela “limpinha e cheirosa” que faz todas as maldades contra o povo, mas sem chamar tanto a atenção, como Milei. Mas o imperialismo já percebeu que essa direita não é mais viável, então o negócio é lançar mão dos Mileis para atacar o povo. No Brasil, o que a direita pretende é fazer o mesmo que Milei: a eleição de Lula foi um freio, ainda que momentâneo, dessa política. Mas a dificuldade de Lula de enfrentar a direita no Congresso e fora dele pode abrir o caminho para o desastre argentino.
A vontade do imperialismo é a ditadura de Milei, a única maneira de impor a política devastadora para o povo é por meio dessa ditadura.