Na última segunda-feira (28), o Partido dos Trabalhadores, em votação disputada, decidiu não vetar alianças com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais de 2024. Segundo a decisão do diretório nacional do PT, ficam autorizadas coligações com candidatos do PL nos municípios, desde que estes declarem apoio ao presidente Lula (PT).
A votação foi aprovada por 29 votos contra 27. Baseada em um texto apresentado pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), majoritária e integrada por Lula, a proposta original foi objeto de uma emenda que proibia explicitamente alianças com o partido de Bolsonaro.
A emenda rejeitada afirmava: “É vedado o apoio a candidatos e candidatas identificados com o projeto bolsonarista. Igualmente é vedado o apoio ou recebimento de apoio por parte do partido ao qual Bolsonaro é filiado”.
A resolução do PT é um reflexo das dificuldades que o próprio governo Lula está enfrentando. Com uma necessidade cada vez maior de ceder terreno para seus adversários políticos, na esperança de conseguir apoio para aprovar algumas modestas medidas governamentais, o PT está expandido os acordos feitos pelo governo Lula no Congresso Nacional para as alianças eleitorais.
O experimento já foi reproduzido nos governos anteriores, sendo o caso mais emblemático o do Rio de Janeiro. No estado, que já foi um ponto de apoio forte do Partido dos Trabalhadores, o partido foi se deslocando cada vez mais à direita, chegando ao ponto de praticamente se dissolver no interior do MDB.
Na capital paulista, em agosto do ano passado, o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) declarou oficialmente o apoio a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) para a prefeitura de São Paulo em 2024. Consequentemente, definiu também que não lançará candidato para o posto. Com essa confirmação, será a primeira vez que o PT não terá candidato à prefeitura no município, para a qual já elegeu seus candidatos por três vezes.
Segundo o mesmo movimento, Guilherme Cortez (PSOL), deputado estadual, foi à imprensa burguesa constranger o PT a fazer seu candidato para a prefeitura de Franca renunciar. A manchete de O Estado de S. Paulo trouxe em sua matéria os dizeres que “esquerda aposta em frente única para quebrar hegemonia”.
A estratégia de supostamente sacrificar os anéis em troca dos dedos, por parte do PT, não é nova. Porém, nesse momento, o PT se encontra em uma situação de grande delicadeza e é, efetivamente, o governo. Em qualquer direção que o governo tente andar, o custo político é muito elevado, e isso faz com que a oposição e a direita cobrem muito caro para permitir que o governo se movimente, além de conseguir com muita facilidade pressionar o governo para que ele se movimente na direção oposta, como visto nas indicações de Lula ao STF, PGR e diversos de seus ministérios.