No último dia 2 de agosto, a Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas publicou uma nota de apoio à mobilização dos chamados guarimberos, um setor do lumpemproletariado mobilizado pelo imperialismo para atacar a Venezuela e impedir a reeleição do atual presidente, Nicolás Maduro. Desde a vitória de Maduro nas eleições presidenciais, o país vizinho vive sob a permanente ameaça de um golpe organizado pelos EUA, mas para os dirigentes da CSP-Conlutas, os manifestantes que incendeiam hospitais e espancam chavistas nas ruas são “a juventude e a população dos bairros populares venezuelanos”. Diz a nota da central artificial:
“Maduro foi declarado eleito com 51% dos votos contra seu opositor Edmundo González Urrutia, apesar do governo não ter divulgado as atas das urnas. Passadas 72 horas do prazo do próprio CNE para divulgação dos relatórios, as atas não foram apresentadas, reforçando os indícios de que a eleição foi fraudada.”
Dita de esquerda, a central jamais solicitou “atas das urnas” em nenhuma outra eleição, começando a fazê-lo, coincidentemente, quando os EUA fazem a mesma exigência. O fato de o governo norte-americano estar na vanguarda de uma campanha já deveria sinalizar os interesses envolvidos, algo relativamente óbvio, mas que para a esquerda brasileira, é algo trivial. Ocorre que não é.
A principal luta política dos trabalhadores e dos estudantes da atual etapa histórica é justamente contra o imperialismo, a ditadura dos monopólios e que, concretamente, tem no governo dos EUA sua principal trincheira. Esse inimigo fundamental dos povos oprimidos mobiliza agora sua máquina de golpes contra um opositor, o regime bolivariano no país vizinho. E qual a posição da CSP-Conlutas? Apoiá-lo. A nota continua, informando o motivo de a entidade crer na versão do imperialismo, que denuncia a fraude:
“O resultado [das eleições] contraria todas as pesquisas, bem como informes dos mesários que foram feitos no fechamento das urnas”, continua a nota. Como se vê, toda a base para a afirmação de que as eleições venezuelanas foram fraudadas para beneficiar Maduro e prejudicar o candidato do imperialismo vem da produção de materiais de agitação política do próprio governo norte-americano.
É simplesmente inacreditável que a desorientação da CSP tenha atingido um nível em que os EUA sejam considerados uma fonte de informação crível. É, no entanto, a política da central. Ainda na política de apoiar os EUA, a direção da CSP-Conlutas endossa outra crítica tradicional da direta, a da “ditadura” bolivariana:
“Vale destacar que a falta de transparência e medidas antidemocráticas ocorreram em todo o processo eleitoral, no qual opositores foram proibidos pelo governo Maduro de participar da disputa, e partidos, principalmente de esquerda, tiveram a legalidade cassada.”
A direção da central deveria explicar porque tanto entusiasmo pela participação de notórios golpistas no processo eleitoral, uma vez que defende a prisão de Jair Bolsonaro pelo caso das joias. Se o principal líder da extrema direita brasileira pode ter seus direitos cassados, algo muito mais rígido dever ser exigido para criminosos do quilate de Maria Corina Machado e Edmundo González. Não é a posição da direção da CSP-Conlutas, no entanto, e sem surpresa, tampouco é essa a posição do imperialismo.
“Ao mesmo tempo, a juventude e a população dos bairros populares venezuelanos tomaram as ruas de Caracas e de outras cidades do país para protestar e a resposta do governo de Maduro tem sido uma brutal repressão.”
Pouco afeitos a interpretações de fundo social, os diretores da CSP-Contlutas tomam a mobilização do lumpemproletariado como se fossem, de fato, expressões dos anseios populares do país quando não são. Ocorre que impulsionar um setor de um país a posições radicalizadas, para fins de desestabilização de um governo e criação das condições propícias para um golpe, são o arroz-com-feijão da política imperialista. De tão antigo e conhecido, ganhou o nome de “revolução colorida”, o que torna ainda mais estranho que a central caia na manobra.
Para não ficar tão flagrantemente pró-imperialista, a nota do órgão lembra-se da oposição, e diz:
“Já a oposição burguesa, atualmente representada por Edmundo Gonzáles e Marina Corina Machado, assim como foi Juan Guaidó, apoiados pelo imperialismo norte-americano, também não são uma alternativa, pois seu projeto é aprofundar ainda mais a semicolonização da Venezuela e a rapina do país.”
Aqui, a nota assume um caráter esquizofrênico. Após atacar duramente Maduro e dar um verniz esquerdista a todas as caracterizações feitas pelo imperialismo contra o líder venezuelano, a CSP-Conlutas lembra que a oposição venezuelana é apoiada pelo imperialismo. A mesma oposição que, no posicionamento, a direção da CSP-Conlutas apoia, uma vez que é quem efetivamente está em luta contra o chavismo.
“Abaixo a ditadura de Maduro e a oposição burguesa e imperialista”, conclui a nota, o que não passa de um disfarce para a posição direitista da direção da central. Levando-se a sério a política de atacar Maduro como a entidade faz, quem se fortalece é justamente o imperialismo, a força por trás do cerco ao país vizinho e que há décadas, tenta um golpe na Venezuela para domesticar o país.
Escrever “abaixo a oposição burguesa e imperialista”, mas colocar ao lado deles quando aparecem com os guarimberos e a propaganda do imperialismo é não é outra coisa além da expressão do quão pró-imperialistas são os dirigentes da CSP-Conlutas.