Passados 15 meses do início do terceiro mandato do governo Lula, suas contradições aparecem de maneira cada vez mais acentuada. Enquanto o presidente da República se mostrou favorável à mobilização contra o bolsonarismo e fez declarações incisivas contra o Estado de “Israel”, o mesmo Lula falou que seria necessário “esquecer o passado” – e, portanto, não organizar um movimento contrário às comemorações dos 60 anos do golpe militar de 1964.
A posição de Lula em relação ao golpe de 1964 não é propriamente ideológica. Ele próprio foi uma das vítimas da ditadura militar, tendo sido preso ilegalmente, e se tornou uma liderança de massas justamente por causa do movimento de massas contra o regime. Sua posição é resultado da situação política imediata: ele está tentando conter uma crise com os militares.
A preocupação de Lula com os militares, por sua vez, demonstra o que realmente está acontecendo no País. Enquanto todo um setor da esquerda acredita que o ministro Alexandre de Moraes, integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), está combatendo a extrema direita e os generais bolsonaristas responsáveis pela sabotagem de 8 de janeiro, Lula está se mostrando completamente na defensiva diante dos militares. É uma situação, portanto, contraditória: ou os militares estão em uma ofensiva contra o governo e contra a esquerda, deixando o governo acuado, ou o STF está em uma luta implacável contra a direita.
A declaração não foi a única atitude do governo em relação aos 60 anos do golpe militar. Como o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, é um dos ministros identitários, diretamente ligado ao imperialismo, que se mostrou incapaz, inclusive, de se pronunciar contra as chacinas na Baixada Santista; a pasta, que poderia tomar uma série de iniciativas contrárias aos militares, também se absteve de fazer qualquer coisa.
De fato, as Forças Armadas são um perigo muito grande para qualquer governo de esquerda. E o problema vai muito além dos generais bolsonaristas que têm sido apontados pela imprensa burguesa como parte de um suposto “plano golpista”. O problema das Forças Armadas vai muito além de Mauro Cid, Augusto Heleno e Braga Neto. E também não foram os demais generais que impediram qualquer atividade golpista por parte deles.
As Forças Armadas brasileiras, como as forças armadas de qualquer Estado capitalista, são uma ameaça permanente ao País. Elas estiveram diretamente envolvidas não apenas no golpe de 1964, mas também no golpe de 2016 e na prisão do hoje presidente Lula. Naquela ocasião, inclusive, o Supremo Tribunal Federal foi coagido pelo comandante do Exército à época, Eduardo Villas Bôas.
Para combater esse perigo, é preciso, por um lado, alterar a correlação de forças, tornando-a mais favorável à esquerda. É preciso fazer um chamado ao povo e tomar iniciativas que realmente digam respeito aos seus interesses, como o aumento do salário mínimo e a geração de emprego. Por outro lado, é preciso tomar medidas para tornar as Forças Armadas mais democráticas, como o direito à sindicalização de soldados e o serviço militar universal, para homens e mulheres, com duração inferior a um ano.