O Catar adiou entregas de gás natural (GNL) à Europa devido aos ataques das Forças Armadas do Iêmen a navios direcionados a “Israel”. A tensão no Mar Vermelho fez com que o país árabe notificasse os europeus sobre o atraso nas remessas de gás. O Qatar, uma das principais nações produtores de gás no mundo, a partir do dia 15 de janeiro, desviou pelo menos seis embarques que se destinavam à Europa através do Cabo da Boa Esperança, que circula a África, evitando a rota mais curta, o Mar Vermelho. Em um dos casos, uma remessa da empresa QatarEnergy de gás natural, com previsão de entrega para fevereiro, ao terminal Adriático da empresa italiana de serviços públicos, foi adiado em semanas.
O Catar, no ano passado, forneceu à Europa 28 milhões de metros cúbicos de gás natural, isto é, 22% das importações para a região e 8% de todas as compras de gás no estrangeiro. O corretor de navios Fearnleys relata em sua revisão semanal que o fretamento de navios-tanque de GNL custa US$ 60-75 mil por dia na primeira quinzena de janeiro. Assim, numa viagem de ida e volta, os custos por mil metros cúbicos podem subir para 28 dólares por mil metros cúbicos – 8% do custo atual do gás na bolsa holandesa TTF. Fica evidente que será mais um problema para os europeus.
Rebeldia dos países oprimidos
Os iemenitas estão provocando uma crise enorme ao imperialismo e, consequentemente, o Catar. O governo do Iêmen, Ansar Alá, alegou que os únicos navios a serem atacados seriam os direcionados a “Israel”, portanto, não havia necessidade do redirecionamento dos navios [tão caro aos europeus], escancarando uma rebeldia por parte dos árabes, visando prejudicar o imperialismo. É mister lembrar que o Catar é um dos poucos países que tem uma postura solidária aos palestinos através do órgão de imprensa Al Jazeera. Na última Copa do Mundo, este e outros atritos envolvendo petróleo atiçaram campanhas contra o país “monárquico”, “machista”, “ultrapassado”, por parte do imperialismo.
Situação europeia
Os fantasmas do petróleo, gás natural assombram a Europa. A crise é a maior desde 1974. O problema se iniciou com a operação especial da Rússia, que buscava se defender dos avanços da OTAN na região. Com a ação de Vladimir Putin na Ucrânia, os europeus e norte-americanos impuseram inúmeras sanções econômicas aos russos. Com isto, os países que anteriormente à guerra mais exportavam petróleo e gás natural (GNL) para a Europa cessaram os negócios, mergulhando o Velho Mundo em uma crise de proporções catastróficas.
No Reino Unido, no ano passado, segundo um relatório da coalizão End Fuel Poverty, 5.000 ingleses morreram no último inverno devido à falta de gás. De acordo com Simon Francis, coordenador da referida coalizão, aproximadamente 8,3 milhões de pessoas estão em condições de vida precárias. A situação na Inglaterra revela o nível da crise provocada pela rebelião dos países que estão se insurgindo contra o imperialismo. A situação nos demais países europeus também tendem a se agravar. Os impostos sobre a eletricidade e gás natural estão aumentando exponencialmente em todos os países.
Assim, a situação tende a evoluir no sentido do acirramento da luta de classes, em especial levando-se em conta as manifestações em defesa da Palestina, que adquirem um caráter anti-imperialista, uma combinação de fatores que torna a Europa um local propício para grandes mobilizações operárias no próximo período.