Com o ato oficial chamado Democracia Inabalada e seus ilustres participantes, como os golpistas do passado, fica relativamente claro que o plano da terceira via está em marcha, ou pelo menos em discussão nos círculos da burguesia nacional.
O bolsonarismo e o próprio Jair Bolsonaro são usados como espantalhos, apontados como principais artífices do golpismo nacional. Mas a realidade é que não foi Bolsonaro quem deu o golpe de Estado em 2016. Bolsonaro é resultado do golpe de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, prendeu Lula e levou-o ao poder em eleições ilegítimas, sem a participação do candidato mais popular.
O principal elemento desse plano da burguesia, ao que tudo indica, é a fraqueza do Partido dos Trabalhadores, que, com atos como os desta segunda-feira (8), busca articular apoios políticos com todos os elementos do regime, inclusive os golpistas do passado.
O bolsonarismo não passa de um pretexto. No momento querem resolver a situação com Jair Bolsonaro, que sofre, inclusive, ameaças de processos e prisão. O resultado inicial dessa política pode ser a superação da polarização política, expressa eleitoralmente entre Lula e Bolsonaro. Ambos praticamente empataram nas últimas eleições, ou seja, são os candidatos mais populares do Brasil no atual momento, mas são, ao mesmo tempo, problemas para a burguesia.
O plano geral dos golpistas, e isso vem desde antes de 2016, é encontrar um candidato alternativo aos dois e levar adiante justamente o que o Javier Millei está fazendo na Argentina, mas com um pouco mais de sutileza. O PT, que agrupa ao seu redor amplos setores populares, ao invés de se colocar contra esse plano, parece ter sido contratado como ator coadjuvante nessa peça farsesca.
Em geral, a burguesia não busca resolver seus problemas com um golpe de Estado, em razão dos custos de tal processo. Mas se por ventura conseguirem tirar Bolsonaro do páreo, e amanhã ou depois jogarem Lula numa nova crise, não deixaria de dar outro golpe. Retirar os dois candidatos populares, e empurrar goela abaixo uma terceira via. João Doria quase cumpriu esse papel em eleições passadas.
O ato institucional de 8 de janeiro, a Democracia Inabalada, é um desenvolvimento da situação toda que é muito ruim e muito perigosa em razão das forças políticas que estão envolvidas nele. Ao que tudo indica, ao chamar inclusive militares para esta atividade, o PT demonstra que não sabe o que está fazendo.
Caso a economia sob o governo Lula desande um pouco mais, a inflação saia de controle – crise que pode artificialmente ser criada pela burguesia nacional -, cria-se um ambiente favorável para um novo golpe de Estado, aberto ou pela via eleitoral como no caso argentino. E isso seria feito já com Bolsonaro esmagado pelas forças institucionais do momento.
Um golpe dessa natureza seria dado não pelos peixes pequenos do 8 de janeiro de 2023, os bolsonaristas da SABESP, mas pela burguesia internacional, pela direita civilizada, científica, os articuladores tradicionais desse tipo de iniciativa. Os mesmos que arquitetaram todo o plano golpista de 2016 e que agora apresentam sua defesa inabalável da democracia.