O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), publicou uma mensagem no X ironizando uma publicação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato a prefeitura de São Paulo pelo mesmo partido. O deboche de Bolsonaro, apesar de economicamente errado, se deve a uma publicação de Boulos na mesma rede social, em que, a pretexto de criticar o que chamou de “catástrofe bolsonarista” – isto é, a política econômica aplicada pelo ex-presidente, que de fato foi catastrófica -, o parlamentar do PSOL terminava por elogiá-lo, apresentando o líder da extrema direita brasileira como responsável por elevar a renda da faixa mais pobre da população em 33% ao longo dos seus quatro anos de seu governo.
Em sua publicação, Boulos afirma que “a renda da imensa maioria (95%) da população subiu apenas 33% [entre 2017 e 2022], segundo a FGV”. Aproveitando a bola levantada, no dia seguinte Bolsonaro escreveu:
“Agradeço ao Bolos pela sinceridade de expor que a distribuição de renda avançou durante nossa gestão mesmo que não tenha sido essa sua intenção e tenha apagado a postagem logo em seguida.”
Agradeço ao Bolos pela sinceridade de expor que a distribuição de renda avançou durante nossa gestão mesmo que não tenha sido essa sua intenção e tenha apagado a postagem logo em seguida. pic.twitter.com/JFv37cam5y
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 19, 2024
Como afirmado pelas publicações supracitadas, o futuro candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL e apoiado pelo PT apagou a mensagem de seu perfil, o que só serviu para aumentar a chacota contra o pequeno-burguês. Isso porque o elogio de Boulos à Bolsonaro, ficou registrado em capturas de tela, responsáveis por eternizar o enaltecimento do psolista à política econômica bolsonarista.
Isso ocorreu em uma situação onde os militantes de rede social de plantão da esquerda pequeno-burguesa afirmam que o Partido da Causa Operária e seu presidente, Rui Costa Pimenta, são bolsonaristas e de direita por conta de uma fala de Rui em um programa ao vivo da Tv247, no Youtube. Sobre isso, o companheiro Rui afirmou, em sua tradicional Análise Política da Semana:
“Ele está usando uma parte da Análise que fazemos para se valorizar, fazer o que? É verdade que ele é o único candidato que pode derrotar o Lula, mas sua situação não está fácil também.
Ele não tem acordo pleno com a burguesia, pode sofrer um processo que o leve a prisão… É como o Trump, mas com muito menor força do que sua versão norte-americana. O Trump, mesmo com toda essa força, tem uma posição fraca institucionalmente, mas com o Bolsonaro é parecido, mudando apenas que ele não é mais popular do que o Lula.
Se você vai analisar a política, você tem que falar a verdade. Não adianta falsificá-la. Se o PT tivesse levado isso em consideração quando falamos que o País estava dividido, ele teria levado melhor a situação, mas não, vinha sempre o cidadão falar que o país voltou e que o amor venceu. Do que adiantou essa falsificação da verdade e essa mistificação? Não adiantou nada.”
Em comentário sobre o tema publicado também no X, um economista do IPEA salva Boulos da desmoralização ao explicar o que nem os bolsonaristas e nem o parlamentar demonstraram ter compreendido: o crescimento da renda apresentado é meramente nominal, ou seja, desconsidera os efeitos corrosivos da inflação de 31% registrada no mesmo período. Com isso, o ganho real na renda (dado pelo crescimento nominal menos a perda inflacionária) dos mais pobres seria de apenas 2%.
O dado lembrado ajudou a impedir o uso político do deboche por parte dos bolsonaristas, que buscaram usar Boulos como garoto-propaganda de um suposto sucesso da política econômica do governo anterior. Incapaz de rebater o escárnio consertando o erro, o ex-colega de Sérgio Etchegoyen, Leandro Daiello e Raul Jungmann no IREE optou por tentar apagar a publicação, o que naturalmente jamais funcionaria.