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Pedro Burlamaqui

Militante do Partido da Causa Operária (PCO) e da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR). Editor e colunista do Diário Causa Operária. Estudante de Física na Universidade de Brasília (UnB)

Coluna

Boicotes funcionam?

Para combater "Israel", setores da esquerda convocaram boicotes contra empresas apoiadoras do genocídio do povo palestino

A escalada do genocídio de “Israel” contra o povo palestino a partir de 7 de outubro jogou a opinião pública de todo o mundo contra o enclave imperialista. A divulgação em massa das atrocidades cometidas pelos israelenses em Gaza gerou uma onda de revoltas em praticamente todos os países do mundo, resultando, também, em grandes manifestações de rua a favor da Palestina e contra o Estado nazista de “Israel”.

Em meio a essa mobilização, surgiu um movimento que defende o boicote a empresas que, de alguma forma, apoiam o genocídio do povo palestino. É o caso de McDonald’s, Starbucks, Coca-Cola, Domino’s e outras.

O boicote é um método tradicional de luta contra as forças opressoras, mas um método que, nos últimos anos, foi completamente desfigurado pela esquerda pequeno-burguesa. Para muitos setores dessa esquerda, o boicote é mais do que suficiente para golpear duramente grandes empresas e grandes capitalistas. Essa é, por exemplo, a principal premissa do vegetarianismo/veganismo: se eu me tornar vegetariano, estarei machucando o bolso dessa grande produtora de carne.

O problema é que a coisa não é tão simples assim. A grande maioria dos boicotes que são “convocados” pela esquerda atualmente não possuem efeito algum – o próprio vegetarianismo sendo um destes casos.

Mas veja: o problema não é não ter resultado, até porque, dependendo da situação, é importante demarcar a sua política declarando boicote a determinado setor. O problema é achar que essa deflagração, por meio de um vídeo no TikTok ou por meio de um “tuitaço”, como gosta de fazer a UNE, imporá uma derrota acachapante contra os opressores e, portanto, pode ser a única medida tomada por um movimento.

É com esse tipo de política que a esquerda fica sem fazer absolutamente nada enquanto acredita piamente estar sendo a força mais revolucionária da história desde Marx.

O conflito na Palestina ajuda a entender esse problema: para surtir um efeito concreto, um boicote precisa estar atrelado a um movimento de massas, uma mobilização real que consiga levar as reivindicações expostas pela declaração de um boicote às últimas consequências.

No caso das empresas citadas, o boicote está dando certo, mas, especificamente, no Oriente Médio. No resto do mundo, apesar de haver algum efeito, ele é, principalmente, político, como no caso dos Estados Unidos, onde a burguesia voltou a discutir a proibição de campanhas de boicote contra “Israel”. Vejamos:

No caso do McDonald’s, a empresa possui cerca de 5% de suas franquias no Oriente Médio. Desde o começo da campanha de boicote, as vendas da empresa cresceram apenas 0,7% contra a previsão de 5,5% na região. Globalmente, o aumento foi de 3,4%, uma grande diminuição quando comparado com o trimestre anterior, que apresentou crescimento de 8,8%.

No caso da Starbucks, apesar de eu não ter todos os dados, o CEO da empresa, Laxman Narismhan, afirmou que ela viu um “impacto significativo em tráfego e vendas” no Oriente Médio após o começo do conflito em Gaza. Nos EUA, houve uma pequena diminuição nas vendas.

A Coca-Cola foi uma das grandes afetadas em alguns países. Em novembro, o parlamento da Turquia votou para remover a bebida de lojas e restaurantes. A distribuidora turca da Coca-Cola relatou uma queda de 22% nas vendas no último trimestre de 2023. No Egito, o boicote à Coca-Cola e a outros refrigerantes norte-americanos foi tão grande que uma marca de refrigerante centenária, a Spiro Spathis, está ressurgindo, com suas vendas aumentando consideravelmente.

Já no caso da Domino’s, um representante da empresa afirmou que, na Ásia, as vendas caíram 8,9% na segunda metade de 2023, principalmente por clientes na Malásia, que possui uma população de muçulmanos de quase 25 milhões, mais de 60% de sua população total.

Uma nota: na maioria dos casos, as empresas não deixaram de crescer, mas cresceram menos. Isso se deve ao fato de que são todas empresas imperialistas que, portanto, controlam boa parte do mercado no qual atuam e que, por isso, possuem uma série de vantagens que torna muito mais difícil prejudicá-las por meio de sanções econômicas como boicotes.

E por que os efeitos do boicote são sentidos com mais força no Oriente Médio? Porque é lá onde a luta contra a ocupação sionista tem mais força, já que é lá que os efeitos do enclave imperialista são sentidos também com mais força. Nesse sentido, os dados mostram quão popular é a luta em defesa do povo palestino e contra a ocupação nazista de “Israel”.

A lição, portanto, deve ser: façamos e apoiemos boicotes, como aquele convocado pelo companheiro José Genoino (PT). Mas façamos mais, bem mais do que isso.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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