Durante a semana que se passou, um grande setor da esquerda declarou que o ato convocado pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro, para acontecer na Avenida Paulista não teria um grande público, que seria um fiasco. Ao apostar em medidas policiais e jurídicas, essa esquerda adotou uma política suicida, a manifestação foi um grande sucesso para o bolsonarismo em qualquer medida que se utilize. Não só a política da esquerda não funciona como tem o resultado oposto, como exemplificado através do sucesso de Donald Trump nas primárias das eleições dos Estados Unidos, a perseguição judicial entregou as ruas ao bolsonarismo.
É importante compreender que o Brasil entrou numa nova fase da luta política depois do golpe de Estado de 2016. No entanto, o Partido dos Trabalhadores se comporta como se a conjuntura do país fosse a mesma de quando venceu as eleições em 2002. O tempo não passa sem passa sem consequências ainda mais na política, no momento anterior não existia o bolsonarismo, não havia uma figura tão popular na direita capaz de convocar dezenas de milhares de pessoas para realizar uma manifestação.
O protesto realizado por Jair Bolsonaro neste último domingo (25) foi um desafio para toda a esquerda, a qual deve se colocar à altura dos acontecimentos. Recorrer ao judiciário, um aparato controlado pela burguesia, não vai adiantar absolutamente nada. Esse é o primeiro sinal de que a ofensiva judicial está fracassando, mesmo depois de uma série de denúncias o seu público não diminuiu, muito ao contrário disso, Bolsonaro levou dezenas de milhares de pessoas às ruas.
Por outro lado, isso representa uma derrota para a luta em defesa da Palestina. Enquanto os bolsonaristas infestaram a Avenida Paulista de bandeiras de Israel, a esquerda não consegue, porque não adota como sua política, mobilizar as massas populares e leva somente algumas poucas centenas de manifestantes.
Diante da gravidade da situação que se apresenta, a esquerda não pode ficar parada e deve reagir. Ainda que o governo do PT e parlamentares da esquerda não se convençam da importância de dar uma resposta ao bolsonarismo, os militantes e ativistas precisam se mobilizar e ocupar as ruas do país.
Um problema no Brasil é que o jogo político sempre foi muito sofisticado. Há uma parte da esquerda que acredita que o golpe contra a presidente Dilma Rousseff foi derrotado e que o presidente Lula foi solto pela vontade dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Ninguém questiona os motivos das mudanças na política, o suposto combate da direita golpista ao bolsonarismo e as mudanças de entendimento judiciário. Ignoram completamente a enorme mobilização popular contra o golpe que conquistou a liberdade de Lula e sua presidência.
Apesar do PT ser um grande partido em virtude das gigantescas greves do final da década de 1970, mesmo nas suas próprias análises sobre o desenvolvimento histórico do país, não se dá qualquer importância à participação popular. O povo é totalmente ignorado e dá-se lugar as explicações mais mirabolantes possíveis. Lula não seria popular, pois liderou o movimento que derrubou a ditadura militar, mas sim, pois soube fazer as alianças certas com a direita. É uma mentalidade pequeno burguesa que confunde a história do próprio partido.
Essa incompreensão geral da política nacional leva as análises, completamente falhas, sobre o bolsonarismo, o que levará a derrotas políticas. A manifestação de domingo foi uma vitória para o bolsonarismo e, portanto, uma derrota para os trabalhadores, mas boa parte da esquerda não consegue nem enxergar isso, acredita que o ato foi um fracasso, mesmo sendo o maior ato de ruas pró-Bolsonaro no governo Lula.
Bolsonarismo e sionismo
Um ângulo interessante pare se observar esse fenômeno é por meio da questão palestina. O ato de Bolsonaro foi uma vitória do sionismo, centenas se não milhares de bandeiras de “Israel” estavam presentes na Av. Paulista. Mas como é possível que avance a defesa de um Estado que prática o genocídio nos dias de hoje? Pela ausência da luta na esquerda. A luta pela Palestina poderia ser um grande ariete contra o bolsonarismo. Manter a posição de defesa de um genocídio é muito difícil, ou ele teria de ser desmoralizado, ou ceder politicamente.
O que fez a esquerda com essa oportunidade gigantesca? O lado mais oportunista usou a luta pela Palestina para atacar o próprio governo Lula! Já o lado mais importante, do PT e setores que se agrupam em torno dele, ignorou a luta e capitulou diante do sionismo. Invés de travar a luta nas ruas, o que enfraqueceria muito o bolsonarismo no campo mais importante para a esquerda, entre os trabalhadores.
O ato de domingo foi um sinal. Mas o bolsonarismo ainda está na defensiva, algo que pode mudar em breve. É o momento da esquerda mudar radicalmente sua política e partir para uma luta real contra o bolsonarismo e ainda mais importante contra o imperialismo, que agora se traveste de aliado do governo do PT e dos trabalhadores.