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Campo de refugiados

Al-Uehdat, a república palestina dentro da Jordânia

Próximo a Amã, capital da Jordânia, o campo de al-Uehdat foi a capital da luta pela libertação da Palestina, o que é hoje a Faixa de Gaza, na década de 1960

Em 1948 foi fundado o Estado de “Israel”, sob a base da limpeza étnica no povo palestino. O evento ficou conhecido como a Naqba, a catástrofe. Mais de 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras, a esmagadora maioria nem pode levar seus pertences, foi apenas com a roupa do corpo. Os palestinos criaram campos de refugiados principalmente nos países do entorno, Líbano, Síria e Jordânia receberam o maior contingente. Próximo de Amã, capital da Jordânia, surgiu o campo de refugiados de al-Uehdat, que seria um dos grandes focos da luta do povo palestino.

Ao contrário do que imagina, os palestinos foram muito mal recebidos em todos os países árabes. Eles eram especialmente descriminados, tratados de forma pior que os atuais imigrantes na Europa e nos EUA, por exemplo. O historiador israelense Ilan Pappé descreve os acontecimentos em sue livro História da Palestina moderna:

“Os países árabes tiveram que tomar decisões rápidas e formular suas próprias políticas em relação aos refugiados em seus territórios, uma vez que a presença deles alterava dramaticamente delicados equilíbrios religiosos, como no Líbano, ou étnicos, como na Jordânia, onde havia uma forte possibilidade de que a chegada dos refugiados e a anexação da Cisjordânia levassem à palestinização do país. Abdula [o rei] da Jordânia estava profundamente ciente desse perigo e empenhou-se em assimilar os palestinos. Desde o início, os refugiados na Jordânia tinham liberdade ocupacional e também tinham o direito de sair dos campos, desde que demonstrassem lealdade ao regime. Isso foi acompanhado por uma eliminação implacável de qualquer manifestação real ou imaginária de uma identidade palestina alternativa no recém-ampliado reino.”

No caso da Jordânia, portanto, a estratégia não foi a segregação total, mas uma espécie de ditadura contra o movimento de libertação na Palestina que começava a surgir. O Jordânia por décadas foi palco das principais mobilizações palestinas, a situação ficou tão grave que o governo massacrou uma parte da população de palestinos e expulsou toda a sua organização política de lá em 1971.

O campo de al-Uehdat

O campo de refugiados de al-Uehdat surgiu formalmente em 1955 no sudeste da capital jordaniana, ainda na região da Grande Amã. Ele fica a 6 quilômetros do centro da cidade e possui cerca de 0,5 km². A Organização das Nações Unidas para os refugiados palestinos UNRWA construiu de princípio 1.400 casas, e em 1957 construiu mais 1.260. Cada família recebeu uma unidade habitacional e cerca de 100 m² de terra no entorno. Isso não durou muito, o campo cresceu rapidamente e se tornou um tradicional bairro de periferia altamente povoado.

O campo inicialmente abrigava cerca de 5.000 refugiados registrados na UNRWA. Eles vieram das aldeias e cidades nos distritos de Lidda, Ramla, Haifa, Jaffa (“Telavive”), Hebron e Bir al-Saba. A população do campo cresceu rapidamente para 60.000 refugiados registrados na UNRWA. Após a invasão israelense da Cisjordânia foram registrados mais 8.000 palestinos de lá e alguns milhares de habitantes de Gaza. Como aconteceu em outros campos, a população pobre da Jordânia também passou a viver lá, estima-se que o número de não refugiados chegou a 40% da população.

Na década de 1960 al-Uedath já havia se tornado o sinônimo de Palestina dentro da Jordânia. O professor Ala Hamarné, afirmou que, “na década de 1960, 1970 e 1980, al-Uehdat era sinônimo de ‘palestino’ na vida pública; ações de protesto, manifestações, petições e até mesmo as partidas do clube de futebol al-Uehdat eram todos indicadores”. O clube de futebol do campo foi fundado ainda em 1956 e é um dos principais da Jordânia, tendo 11 títulos nacionais, incluindo em 2020.

Foi com a guerra de 1967, que “Israel” invadiu e ocupou a Cisjordânia, que al-Uehdat se tornou um dos principais focos da luta do povo palestino. Como citado acima, o campo ganhou uma nova população de milhares de pessoas. Além disso, o movimento pela libertação da Palestina cresceu exponencialmente. O Fatá, de Iasser Arafat, se fortaleceu e tomou eventualmente a direção da OLP, outras organizações, como a FPLP, foram fundadas também em 1967.

Luigi Achilli em seu artigo, Campo de Refugiados de al-Uehdat: Entre Inclusão e Exclusão, afirma: “desde o surgimento da OLP na década de 1960 até sua expulsão pelo exército jordaniano no início de 1970, al-Uehdat tornou-se um ponto focal da atividade nacionalista palestina. Por quase uma década, alcançou uma quase completa autonomia política do estado jordaniano. Às vésperas dos eventos sangrentos de setembro negro [massacre de palestinos pelo governo da Jordânia], al-Uehdat não era simplesmente uma base militante do nacionalismo palestino, mas um verdadeiro centro militar e de comando. Em setembro de 1969, por exemplo, a OLP lançou as Instituições Filhotes de Leão e Flores (mu’assasat al-ashbal wa al-zahrat) no campo: programas de treinamento militar e escolarização adicional para crianças e adolescentes de ambos os sexos. Aqui, o movimento de Libertação Palestina – principalmente membros da Fatá e da FPLP – estabeleceu sua sede e renomeou o campo como “a República” em um desafio aberto à monarquia jordaniana”.

A glória do campo al-Uehdat acabou com os eventos do setembro negro. O imperialismo e o sionismo, preocupados com o Crescentino da resistência palestina exigiram que o rei Abdula reprimisse a população. Foi um massacre, estima-se que mais de 15 mil foram mortos pelo governo da Jordânia. Mas apesar do fim da organização, os palestinos seguem em al-Uehdat e hoje, com o crescimento da resistência, ele pode voltar a ser o que já foi em 1960. A república, aquela que irá derrubar a monarquia pró-imperialista da Jordânia e colocar o governo a serviço da libertação da Palestina.

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