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Eleições parlamentares

A ‘tradição republicana’ da capitulação na França

Há 20 anos, os franceses não fazem outra coisa além de barrar a extrema direita e servir à direita tradicional. Quanto tempo até perceberem que não está dando certo?

No artigo A França encontra sua encruzilhada histórica (Jacobina, 6/7/2024), Jean-François Y. Deluchey, professor de Ciência Política da UFPA e militante do partido França Insubmissa, analisa a situação política francesa, que no último dia 7, elegeu o novo corpo de parlamentares após a dissolução da Assembleia Nacional, realizada pelo presidente Emmanuel Macron no dia 9 de junho. Ante a perspectiva de a extrema direita ter um desempenho avassalador e domine a legislatura, Deluchey destaca o que chama de “tradição republicana francesa”, a saber, uma capitulação da esquerda ao setor da direita mais diretamente ligado ao imperialismo:

“Frente à possibilidade da vitória eleitoral da extrema direita, a tradição republicana na França prevê que os candidatos menos bem colocados desistam da competição.

Os eleitores de esquerda já consolidaram essa tradição, desde o segundo turno da eleição presidencial entre Jacques Chirac e Jean-Marie Le Pen em 2002, permitindo a Chirac vencer por mais de 82% dos votos naquela ocasião.”
Digno de nota a lembrança feita por Deluchey, do fato de que há mais de 20 anos, a esquerda abandonou completamente os interesses dos trabalhadores para se tornar um apêndice do regime político dominado pelo imperialismo, que desde então, teve como fonte de contestação apenas e tão somente a extrema direita. Para mostrar o acerto da tática, deveria mostra que tipo de ganho trouxe às massas oprimidas do país essa frente contra a extrema direita.

Após Chirac enfiar a Constituição Europeia goela abaixo da população francesa, mesmo rejeitada, após a deterioração contínua da economia do país ao longo desses 20 anos, em que a questão vital para a esquerda francesa tornou-se ajudar a direita imperialista a bloquear a extrema direita, é difícil imaginar o que os últimos teriam feito que os governos direitistas não fizeram. O professor, no entanto, prossegue enaltecendo o que deveria ser uma fonte de vergonha para uma esquerda:

“Foi justamente Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, que alguns minutos depois do resultado do primeiro turno, dia 30 de junho, anunciou que os candidatos de seu partido desistiriam da competição sem condições prévias, caso a manutenção de seus candidatos no segundo turno significasse algum risco de eleger um deputado de extrema direita.

Ele foi seguido prontamente por todos os partidos da Nova Frente Popular. Do lado macronista, essa tradição foi parcialmente respeitada. Apesar do atual primeiro-ministro Gabriel Attal ter sido bastante claro, apelando para a desistência dos seus candidatos caso outro candidato de direita ou esquerda estivesse em maiores condições de vencer a extrema direita, alguns políticos macronistas recusaram a se retirar do pleito em benefício de um candidato da França Insubmissa.”

Deluchey não entra no detalhe, prefere levar a discussão para um plano moral, onde há os bons e os pilantras, porém a mera descrição deixa claro que não há, efetivamente, um “interesse republicano” em barrar o crescimento da extrema direita. Isso fica ainda mais explícito no parágrafo seguinte:

“A tradicional ‘Frente Republicana’, como sempre, foi muito mais respeitada pela esquerda de que pela direita. No final das contas, o segundo turno ainda contará com 94 ‘triangulares’ (um quinto das circunscrições). Todavia, foram 217 desistências no total, isto é, 70% das ‘triangulares’ inicialmente previstos não acontecerão, para tentar barrar a ascensão da extrema direita ao poder.

Dessas 217, foi a Nova Frente Popular que fez o maior esforço republicano, com 130 desistências que, provavelmente, levarão à vitória eleitoral de candidatos de direita macronista ou tradicional. Isto permitirá ao partido do Macron manter um bom número de deputados. De uma previsão de 70 ou 80 deputados na noite do primeiro turno, a coalizão macronista poderia finalmente chegar a 125 assentos na próxima Assembleia, graças aos votos dos eleitores de esquerda.”

Da constatação, temos que há uma consciência, não apenas no autor, mas no conjunto da esquerda francesa, de que seu papel é o de servir a um setor da direita em detrimento de outro. Não se trata mais da luta por nenhum interesse real das massas oprimidas, nem falar dos interesses dos trabalhadores, mas ser mobilizada para impedir a crise do sistema político imperialista e protegê-lo de uma forma que a direitistas como Macron, Sarkozy e Chirac seria impossível.

“Do lado da esquerda, a disciplina eleitoral contra a extrema-direita é bastante alta, e deixa pouco lugar à incerteza na transferência de votos para candidatos de direita capazes de vencer a extrema-direita. Infelizmente, a transferência republicana dos votos de eleitores da direita para candidatos de esquerda contra o RN é muito mais incerta, e será uma chave central do resultado das eleições neste domingo 7 de julho.”

Finalmente, uma conclusão normal da longa e errática história de submissão da esquerda à direita deveria ser coroada com a derrota da extrema direita. Após 20 anos de “tradição republicana”, seria o mínimo esperado.

O fato de os franceses verem-se às voltas com o fantasma de Le Pen, no entanto, no mínimo, indicaria que a tática não está dando certo. Observada mais atentamente, entretanto, a evolução da extrema direita durante as duas décadas de “tradição republicana” demonstram sua total falência.

Há que se esperar o resultado do segundo turno das eleições, mas é óbvio que sem um golpe de mão que mude radicalmente o panorama francês, o Reagrupamento Nacional (principal partido da extrema direita francesa), dominará a Assembleia com uma força ainda maior, por exemplo, do que a adquirida pelo Partido Nazista nas eleições alemãs de 1933. A única certeza da insistência nesse método de luta totalmente equivocado, é o desgaste da esquerda e um país entregue de bandeja àqueles que os esquerdistas querem combater. Senão agora, certamente em um futuro muito próximo.

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