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Esquerda brasileira

A loucura de Einstein e a dos morenistas

Após o "sucesso" do "fora todos", trotskistas desorientados falam em combater "ultradireita", mas propõem frente única com os mesmos para "enfrentar o governo do PT"

O jornal Opinião Socialista, órgão do PSTU, publicou um editorial no último dia 20 acusando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “não enfrentar o Centrão”. Intitulado O governo Lula não enfrenta os bilionários capitalistas, o editorial apresenta uma crítica à política do governo do PT, sem, no entanto, apontar uma solução que não sejam generalidades do tipo “é preciso enfrentar os bilionários capitalistas e expropriar as 200 maiores empresas”. Diz Opinião Socialista:

“O governo Lula não enfrenta o Centrão, Lira e a ultradireita. E, depois, reclamam quando são pressionados por eles. Entregam bilhões em emendas parlamentares. Fizeram o Arcabouço Fiscal e debocham dos grevistas. É o governo que está fazendo carinho na fera que o está devorando.”

Tudo muito bem dito, mas após o reconhecimento do fato de que o governo está sendo emparedado “pelo Centrão, Lira e a ultradireita”, qual a política proposta pelo PSTU para fazer avançar a luta revolucionária que vai derrotar os inimigos dos trabalhadores e “expropriar as 200 maiores empresas”? “É preciso enfrentar o governo do PT [grifo nosso]”, continua o editorial, “que vem aplicando uma política econômica que não é contra os setores capitalistas, mas, na verdade, quer ajudá-los a ganhar mais dinheiro”, conclui, com a verdadeira política defendida pelo editorial dos morenistas.

Salta aos olhos o fato de o PSTU conseguir reconhecer que “o governo que está fazendo carinho na fera que o está devorando” e apresentar como política “enfrentar o governo do PT”. E inacreditavelmente, tudo isso no mesmo conjunto mais ou menos coeso de texto em que critica o governo por “não enfrentar os bilionários capitalistas”, do que se conclui que “enfrentar os bilionários capitalistas e expropriar as 200 maiores empresas” seria aliar-se a eles contra o governo do PT.

Não se passou uma década inteira desde que, sob a palavra de ordem “fora todos”, o PSTU marchou ao lado dos bolsonaristas para apoiar o golpe de Estado de 2016, responsável pela queda da ex-presidenta Dilma Rousseff e pela ascensão de Michel Temer à Presidência da República, talvez a pior derrota sofrida pelos trabalhadores desde o fim da Ditadura Militar (1964-1985). Na esteira desta “vitória” do PSTU, encontramos a Reforma Trabalhista, a Política de Paridade Internacional dos preços da Petrobrás, a prisão política de Lula, a eleição de Jair Messias Bolsonaro e os quatro anos de governo Bolsonaro.

O PSTU critica Lira e a “ultradireita”, mas foi uma peça na ascensão desse setor da direita nacional, fazendo exatamente esse tipo de política que defende agora, isto é, estabelecendo o governo do PT como inimigo a ser enfrentado. Terminam sendo o braço esquerdo usado pelos “bilionários capitalistas” para fustigar o governo até sua queda e após isso, voltar ao programa destinado a “achacar o país e os trabalhadores”, fenômeno que Opinião Socialista reconhece, mas longe de lutar efetivamente contra, auxilia a ser posto em prática com sua política desorientadora.

“Para derrotar a ultradireita e impedir sua volta, é preciso enfrentar o governo, que, hoje, é quem mais ajuda este setor a seguir com sua política de conciliação e alimentando a besta fera do capitalismo”, finaliza o editorial dos morenistas, coerente com seu golpismo explícito, que deu profundamente errado no passado e não há razão para se crer que teria um resultado diferente agora. O que um trotskista com a cabeça no lugar deve fazer, no entanto, reconhecendo o fenômeno do nacionalismo de um país atrasado e suas contradições com o imperialismo, é muito diferente de “enfrentar o governo”.

Com Lula, o Planalto (sede do Poder Executivo), deu mostras de que pode ser pressionado à esquerda. O embate na direção da Petrobrás com a queda de Jean Paul Prates, as posições em defesa da Palestina em aceitar a pressão imperialista na defesa da Ucrânia são exemplos de como isso pode ocorrer.

Com tais eventos em mente, o que os trabalhadores realmente devem fazer é lutar para derrotar a ala direitista do governo e empurrá-lo à esquerda. O fundamental, nesse momento, é impulsionar uma mobilização popular, tanto pelas internacionais como a defesa da Palestina contra a ditadura do sionismo e seus crimes, o apoio à Rússia contra a OTAN na Ucrânia e outros enfrentamentos do imperialismo contra povos oprimidos em países atrasados; e também em questões nacionais como o fim da política de déficit zero, aumento dos salários, apoio ao povo gaúcho no estado de calamidade que o PSDB os deixou e um amplo programa de desenvolvimento que beneficie os trabalhadores da cidade e do campo.

O povo mobilizado, nas ruas, demandando o atendimento das reivindicações populares é o que realmente derrota o que o PSTU chama de “ultradireita”. Apoiá-los no enfrentamento ao governo, como o partido morenista propõe, e esperar qualquer coisa de positiva nisso, com o histórico que tal política tem, se encaixa perfeitamente bem no conceito de loucura dado pelo físico Albert Einstein: “fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes”. Em política, é sempre bom não ser louco.

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