A Rede Globo de Televisão, maior monopólio da comunicação da América Latina, que é a única detentora das imagens dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, foi bastante criticada por sua cobertura do Carnaval de 2024.
De acordo com a ex-repórter da emissora, Cristina Serra, a Globo:
“Trata a maior manifestação cultural do Brasil como entretenimento ligeiro. Comentários e entrevistas recheados de banalidades. Não tem repórter na avenida. Teve carro com problema, gente machucada e o público em casa fica sem saber. Tive que buscar informação na internet. Num ano com enredos tão importantes é uma cobertura desonesta e um desrespeito com as escolas e com o telespectador. Desisto.”
O texto de Serra foi publicado em suas redes sociais. A cobertura da Globo também acabou sendo alvo da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que publicou uma nota criticando a emissora. A nota afirma que:
“Erros na transmissão, entrevistadores despreparados e desinformados e falta de detalhes foram algumas das reclamações feitas nas redes sociais pelo público que acompanhou os desfiles das escolas de samba pela televisão aberta em rede comercial neste Carnaval de 2024. Ao abrir mão de repórteres, a emissora detentora do direito comercial de transmissão deixou as/os espectadores sem informações cruciais sobre a festa.”
E conclui dizendo o seguinte:
“Neste sentido, a FENAJ exorta o público a reconhecer o valor inestimável do jornalismo na promoção da informação precisa e na preservação da memória coletiva. Ao valorizarmos o trabalho das/dos jornalistas durante o Carnaval, fortalecemos não apenas a liberdade de imprensa, mas também a nossa compreensão mais profunda das complexidades culturais e sociais que moldam essa festividade tão emblemática.”
No mínimo, o caso mostra como funcionam os monopólios na sociedade capitalista. Ao mesmo tempo em que a Globo não permite que outras empresas cubram o evento, ela, por suprimir a concorrência, não se preocupa em fornecer um serviço de qualidade. Segundo a coluna de Fábia Oliveira, do jornal Metrópoles, no entanto, o caso também seria o resultado de uma negociata da Globo com outra empresa.
A queixa de que não haveria repórteres vem do fato de que, em vez dos tradicionais correspondentes da Globo nos sambódromos, os “influenciadores” Kenya Sade, Vítor Di Castro e a atriz Dandara Mariana eram os responsáveis por passar as informações durante os desfiles. Segundo a coluna citada, “tudo isso seria uma manobra para a transição da cobertura do Carnaval na Marquês de Sapucaí”, que supostamente passará a ser feita por Gabriel David, diretor de marketing da Liga das Escolas de Samba (Liesa).
O que mais chama a atenção neste caso, contudo, é a reação de Boninho, o responsável pela transmissão da Globo: “estou nem aí”. Isto é, pouco importa se o público gostou, pouco importa se a Fenaj criticou. Pouco importa, para Boninho, se a Globo será acusada de falta de profissionalismo ou mesmo de transmitir informações falsas. Afinal, a Globo é o que é: um império da comunicação.
A arrogância de Boninho ilustra bem o que ocorrerá caso o Projeto de Lei 2630, o PL das “Fake News”, seja aprovado. Caso um veículo da imprensa alternativa ou mesmo um usuário das redes sociais divulgue qualquer informação considerada “inadequada”, será punido. Já a “imprensa profissional”, como a Globo, fará o que bem quiser. >>> Assine o abaixo-assinado contra o PL da Globo
É como diz Boninho: “estou nem aí”. Não é à toa que o PL também é conhecido como PL da Globo.