No último domingo, dia 25 de fevereiro de 2024, dezenas de milhares de bolsonaristas tomaram a Avenida Paulista em manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Conforme explicado por Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária, no programa Análise de Terça, da Rádio Causa Operária, “se a gente considerar que esse ato não é a única coisa que os bolsonaristas irão fazer – o ato é um momento de uma campanha política que eles estão organizando – essa campanha irá crescer. No ato, eles deram todas as palavras de ordem para entender qual é a campanha dos bolsonaristas“.
Desde os primeiros vídeos de convocação, Bolsonaro foi expresso ao pedir para seus apoiadores que não trouxessem cartazes ou faixas contendo mensagens contra as autoridades públicas e instituições, para evitar qualquer pretexto para acusar o ato de ser uma manifestação “golpista”. Afinal, o intuito do ex-presidente com essa manifestação era sair fortalecido politicamente.
Nesse sentido, segundo os organizadores, a manifestação foi um “ato pela liberdade e pelo Estado Democrático de Direito”.
Nessa primeira palavra de ordem, já fica claro o fracasso da esquerda na luta contra a extrema direita bolsonarista: a esquerda utilizou uma suposta defesa do “Estado Democrático de Direito” para apoiar o Supremo Tribunal Federal em suas arbitrariedades (antidemocráticas) contra Bolsonaro. Agora, o ex-presidente chama parte do povo brasileiro à rua para protestar contra a perseguição antidemocrática.
No dia da manifestação, não foram vistos cartazes contra o Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e outros. Apenas uns poucos cartazes com mensagens genéricas contra o “comunismo” e com o lema “Deus, pátria e família”. Outra derrota para a esquerda no sentido de que atestou uma capacidade do bolsonarismo de se organizar.
Então, sem cartazes e faixas, as palavras de ordem e o programa político foram manifestados nos discursos dos que estavam presentes dividindo o palanque com Jair Bolsonaro, em especial o de Michelle Bolsonaro, Tarcísio Freitas, Silas Malafaia, e, é claro, o próprio ex-presidente.
Começando pelo governador de São Paulo, em seu discurso, Tarcísio de Freitas disse que o ex-presidente representa agora um movimento: “você não é mais um CPF, você não é mais uma pessoa, você representa um movimento”, disse.
Mais uma amostra do fracasso da política da esquerda que, ao se aliar à burguesia e às suas instituições do regime burguês (Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Polícia Federal) para perseguir politicamente Bolsonaro, sob a justificativa de combater o fascismo, acabou fortalecendo e impulsionando o movimento bolsonarista.
A declaração de Tarcísio também expõe as intenções do bolsonarismo para a campanha futura: pretende continuar capitalizando em cima da perseguição política, transformando Bolsonaro em um mártir, um líder messiânico.
Michelle Bolsonaro, por sua vez, deu um viés religioso para fortalecer a denúncia de que Bolsonaro está sendo perseguido. Um método eficaz para mobilizar a base evangélica do bolsonarismo, afinal a religião cristã é centrada em grande parte em torno da perseguição sofrida por Jesus Cristo.
Rui Costa Pimenta, no programa Análise de Terça, da Rádio Causa Operária, comentou sobre o discurso da ex-primeira dama:
“Assisti uma parte do discurso da Michelle Bolsonaro, um dos principais oradores do ato […] O discurso dela é no sentido de ‘nós somos o povo de Deus, eles são o mal; eles nos perseguem, eles querem nos destruir, porque nós representamos a vontade de Deus no Brasil, nós somos o povo de Deus no Brasil, nós somos perseguidos […]’ Este é um dos temas.”
Nesse sentido, vale citar algumas das declarações da ex-primeira dama:
“Desde 2017, nós estamos sofrendo, nós estamos sofrendo por exaltarmos o nome de Deus, porque o meu marido foi escolhido e porque ele declarou que era Deus acima de tudo.”
“Sim, por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação.”
“E nós estamos aqui neste dia, um dia marcado, para dizer que nós amamos o Brasil. Para dizer que não estamos aqui não num propósito de poder. Mas em propósito de libertação. Em um propósito de prosperidade para o Brasil.”
“Não tem como não se emocionar vendo o exército de Deus nas ruas, o exército de homens e mulheres patriotas que não desistem da sua nação.”
Se a esquerda tem alguma esperança de mobilizar o setor evangélico e cristão do povo brasileiro, não é perseguindo Bolsonaro (ao mesmo tempo em que se esquece das reivindicações dos trabalhadores) que irá conseguir isto.
O discurso de Michelle mostra que a campanha entre os evangélicos, de que Bolsonaro é um perseguido por acreditar em Deus e ser escolhido por ele para salvar o Brasil, será intensificada.
Ademais, a ex-primeira dama mostrou que na campanha bolsonarista haverá demagogia com as mulheres:
“E meus amados, aqui quero direcionar minha palavra para as mulheres. Como é difícil deputadas, vereadoras, prefeitas, para nós mulheres estarmos à frente da política. O assassinato de reputação é diário, mas algo muito maior e muito mais forte nos move para continuarmos lutando pela nossa nação.”
Um dos discursos mais incisivos do dia, no que diz respeito ao fracasso da esquerda na luta contra a extrema direita, foi o do pastor Silas Malafaia. Discursando antes de Jair Bolsonaro, Malafaia reiterou que o ex-presidente é perseguido, fazendo críticas ao Supremo Tribunal Federal, em especial aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
“Eu não vim aqui atacar o Supremo Tribunal Federal, porque quando você ataca uma instituição você é contra a República e o Estado Democrático de Direito. Mas eu vim fazer aqui, eu vou mostrar para vocês a engenharia do mal para querer prender Jair Messias Bolsonaro. A engenharia do mal para tirar o Estado Democrático de Direito.”
Malafaia também indicou que a campanha bolsonarista será voltada para a incoerência de grande parte da esquerda em considerar os manifestantes bolsonaristas como terroristas e Bolsonaro e seus apoiadores como golpistas por críticas ao STF, ao TSE e ao sistema eleitoral como um todo:
“Escutem, escutem. Eu volto a história e vocês vão ficar de boca aberta. Em 2014, o prédio da presidente do STF Carmén Lúcia foi pichado. O MST em uma rede social disse: ‘fomos nós’. Não foram chamados de golpistas, não aconteceu nada. Outra: em 2014, o deputado Wadih Damous, do PT, disse: ‘tem que fechar o STF que eu não concordo’. Não aconteceu nada com ele. 2006, escutem: o MST invadiu o Congresso Nacional. 24 feridos, 1 em estado grave. Sabe do que eles foram chamados? Manifestantes. Em 2014, o MST tentou invadir o STF, e deixa eu dizer uma coisa: se não fosse a coragem e o sangue dos policiais da PM de Brasília, ia ter uma carnificina. 30 policiais feridos, 8 em estado grave. Ninguém chamou de golpe, nem de golpista. Manifestantes. Em 2017, o PT invadiu o Congresso Nacional. Quebra-quebra. Sabe por que eles invadiram? Para derrubar o presidente Temer. Não foram chamados de golpistas, mas de manifestantes. Em 2017, tacaram fogo no Ministério da Agricultura, ninguém chamou de golpista.”
Ou seja, Malafaia deixa claro que Bolsonaro e o bolsonarismo utilizarão as acusações de “terrorismo”, que são feitas contra eles, para acusar a esquerda e as organizações dos trabalhadores quando elas precisarem recorrer aos seus métodos tradicionais de luta (greves, ocupações de órgãos públicos, terras e mais).
O pastor também aproveitou para fazer demagogia com a liberdade de expressão, dizendo que os brasileiros estão com medo de falar. Ao fazer isto, disse que o Estado Democrático está em perigo:
“Olha o que está acontecendo no Brasil. Deputado com medo de falar, senador com medo de falar, brasileiros com medo de falar. Que democracia é essa que o povo tá com medo de falar? O Estado Democrático está em perigo.”
Novamente, é dado o tom da campanha de Bolsonaro: apresentar-se como defensor dos direitos democráticos (em especial da liberdade de expressão) perante o povo brasileiro. E será bem-sucedido nisto, caso a esquerda continue apoiando as arbitrariedades da burguesia e do STF contra o bolsonarismo. A demonstração de que Bolsonaro está avançando nessa questão é que, agora, os bolsonaristas já se colocam como defensores do “Estado Democrático de Direito”.
Então, Malafaia critica os ministros Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso, apontando que juízes deveriam ser imparciais e não ter lado ao julgar. No caso específico dos dois, que são ministros do STF, Malafaia aponta que os dois deveriam ser os guardiões da Constituição:
“Alexandre de Moraes disse que a extrema direita tem que ser combatida na América Latina. Como um ministro do STF tem lado? Ele não tem que combater nem a extrema direita nem a extrema esquerda. Ele é o guardião da Constituição. O presidente do STF, o ministro Barroso, disse: ‘nós derrotamos o bolsonarismo’. Isso é uma vergonha, é uma afronta ao povo.”
Ou seja, Silas Malafaia, um elemento da extrema direita brasileira, está falando o que a esquerda, em especial o Partido dos Trabalhadores, deveria falar. Em que pese seja um discurso demagógico, é algo que mobiliza o povo brasileiro a favor de Bolsonaro, e contra Lula.
Então, Malafaia conclui seu raciocínio dizendo que o poder Supremo do Brasil é o povo:
“Eu quero dizer, sabe quem é o Supremo poder desta nação? O povo. Todos nós. Temos que nos submeter ao povo.”
Mais uma derrota para a esquerda e uma declaração de que o bolsonarismo continuará em sua demagogia de que são democratas lutando contra as arbitrariedades da burguesia. Uma demagogia que continuará funcionando, afinal, a esquerda apoia a perseguição política contra Bolsonaro.
Malafaia finaliza seu discurso dizendo algo que deveria ser óbvio para toda a esquerda, isto é, que Bolsonaro sairá fortalecido caso seja preso:
“Ao presidente, você com Deus é maioria sempre. E eu vou dizer uma palavra que eu disse para você algumas vezes no telefone. Eu não desejo isso para você, mas vou te deixar aqui uma palavra. Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado. Você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai ser para a tua destruição, mas para a destruição deles. Você vai sair de lá exaltado.”
Foi então a vez do ex-presidente, Jair Bolsonaro, discursar para seus apoiadores. E, logo ao início, mostrou que continuará na campanha da defesa – demagógica – da liberdade:
“Nós ainda podemos fazer muito pela nossa pátria. A liberdade é um bem maior. Mas ao longo dos meus quatro anos de presidente da República, nós aprendemos que esse bem não é pétreo.”
Então, após vários minutos defendendo seu governo e explicando que não havia tentado realizar um golpe de Estado, Bolsonaro requereu que os deputados e senadores criem um projeto de lei para anistiar todos aqueles que foram condenados pelas manifestações do 8 de janeiro:
“[Queremos] anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília, nós não queremos mais que seus filhos sejam órfão de pais vivos. Agora nós pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores um projeto de anistia para que seja feita a Justiça em nosso Brasil. E quem, porventura, depredou o patrimônio, que nós não concordamos com isso, que pague. Mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade.”
E esse projeto da anistia fará parte da campanha política de Bolsonaro daqui em diante, o que será “muito ruim [para a esquerda]”, conforme analisado por Rui Costa Pimenta na Análise de Terça. “Agora é que veremos o peso”, disse o dirigente do PCO, afinal, para além da típica campanha direitista, agora o bolsonarismo mobilizará os pastores para fazer a campanha contra a perseguição judicial contra os pobres coitados que foram condenados pelo STF após o 8 de janeiro.
Assim, vale citar a conclusão de Pimenta:
“Você condenar o cara da Sabesp, o camelô, a dona Maria a 17 anos de cadeia como terroristas perigosos não pega bem. O que é que podemos dizer? Não pega bem. E agora, os bolsonaristas olharam e falaram: está aqui um ótimo tema de campanha. A campanha que eles armaram lá é uma campanha muito boa, e quem que armou essa campanha, foi o Bolsonaro? Não, foi o STF.”