Partidos pequeno-burgueses que se reivindicam marxistas como a UP, além de não lutarem contra o imperialismo, atuam para negar o marxismo. Não são apenas revisionistas, são deterioradores do marxismo, além de promoverem o atraso da luta dos povos oprimidos contra o imperialismo. A UP se pendura em um centrismo incompatível com um partido revolucionário (que pensam ser), e assim, por meio do jornal “A verdade”, o partido demonstra que princípios são negociáveis, em nome de um centrismo que favorece o imperialismo, assim como feito em editorial publicado em 11 de junho. Para a UP, Rússia e EUA fazem parte do bloco imperialista, e Putin pode ser colocado no mesmo balaio de Biden.
No editorial intitulado “Putin e Biden: mercenários da burguesia mundial”, a UP faz um amontoado de explicações sem conexão com a realidade, tudo em nome de um posicionamento do tipo anarquista, onde o moralismo salta aos olhos. De tão moralista poderia ser editorial do programa do Datena. Para a UP, todos os políticos são maus e qualquer país que venha a se defender, como é o caso da Rússia, também deve ser colocada como “imperialista”.
Vamos à tese da UP.
“A barbaridade da guerra entre o governo capitalista da Rússia, apoiado pela China, e o governo da Ucrânia, apoiado pelos países imperialistas da Europa e os EUA, revela-se também no tratamento cruel e desumano dado aos refugiados e imigrantes que imploram por um trabalho para continuarem vivendo. Para salvá-los dos naufrágios e promover ajuda humanitária não há dinheiro, mas para gastar com bombas, guerras, drogas e corrupção, os cofres das nações burguesas estão sempre abertos.”
Por tabela, a UP acabou dando a senha do imperialismo, com inclinações para os temas centrais das ONGs imperialistas como a questão dos “refugiados e ajuda humanitária”. Uma pessoa se torna refugiado por causa de guerras promovidas por países imperialistas. É o imperialismo que produz o “refugiado”, ele não é produto fora da luta entre nações. Não existiria uma verdadeira indústria de refugiados sem as intervenções dos Estados Unidos e os demais países imperialistas como França, Reino Unido entre outros países do G7. A moda agora é falar que a Rússia ocupou territórios em conflito, porém, as empresas de segurança russas estão no Mali, no Senegal, No Sudão e no Níger entre outros, para proteger ativos russos bastante limitados à energia e mineração.
Pior é o nível de ingenuidade da UP, que pensa que “Para salvá-los [os refugiados] dos naufrágios e promover ajuda humanitária não há dinheiro, mas para gastar com bombas, guerras, drogas e corrupção, os cofres das nações burguesas estão sempre abertos.” Não passa na cabeça da UP que o explorador promove a guerra contra países, e uma das consequências é a migração forçada. Esse resultado é desejável para se obter exército de reserva de mão-de-obra em franco deslocamento e, portanto, não há desejo mesmo em qualquer acolhimento.
Putin deu a ordem para a invasão?
A UP em degeneração é capaz de mentir para tentar emplacar sua tese. De acordo com o partido, “Por ordem de Vladimir Putin, no dia 24 de fevereiro de 2022, as Forças Armadas da Rússia bombardearam Kiev, capital da Ucrânia, e invadiram o país com 100 mil soldados. A guerra já dura quase 500 dias e, para justificá-la, Putin e a grande burguesia russa vivem repetindo a mentira de que a invasão da Ucrânia tem o objetivo de ‘desnazistizar’ o país e proteger a Rússia das ameaças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”. A UP acusa Putin, mas mente descaradamente.
A operação especial russa na região do Donbass decorreu de um projeto de lei criado pelo Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), após anos de pressão popular para que Putin interviesse para proteger as repúblicas que declararam independência da Ucrânia após o golpe do Euromaidan, um violento golpe operado por forças nazistas impulsionados pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Um partido desonesto intelectualmente precisa encobrir de seu público a luta pela independência de Lugansk e Donetsk, bem como os 15 mil mortos pelos batalhões nazistas ucranianos financiados pela OTAN. Após a Proclamação da Independência das duas repúblicas, Putin propôs os acordos de Minski 1 e 2, onde estabelecia uma linha vermelha que promovesse a segurança dos povos russos do Donbass. O nazismo está nas portas da Rússia e a desnazificação é uma necessidade premente. As próprias repúblicas do Donbass têm características de governo operário e, portanto, estão mais próximas do antigo regime soviético do que do nazismo. Nesse sentido, a UP arrumou uma forma de passar o pano para a OTAN que é capaz de se vestir desde feminista até nazista para atingir seus objetivos, porém a UP esconde isso de seu leitor. Ao apresentar a Ucrânia como pobre coitada, no fundo, está promovendo o nazismo. Essa é a consequência de uma política centrista, importada de ONGs como Human Rights Watch, Open Society e Médicos Sem Fronteiras.
Sobre o Grupo Wagner, mais uma mentira da UP
Até mesmo em jornais do PIG encontra-se menos mentiras que as contadas pela UP. O PIG prefere partir de fatos para impor ideologia com retórica. A partir de recortes o PIG produz suas mentiras, mas a UP cria factoides, o que é incompatível com os princípios de uma esquerda, ainda mais a que se autodenomina marxista. A UP, que desconhecia o Grupo Wagner antes da revolta de parte do grupo, afirmou “Se há algo impossível é “desnazistizar” (sic) qualquer coisa com as tropas do Grupo Wagner. De fato, um dos principais chefes dessa organização fascista é Dmitri Utkin, que, além de ter tatuado em seu corpo o símbolo da SS de Hitler, formou uma unidade militar nazista e é conhecido por integrar grupos de extrema-direita que defendem a supremacia branca no mundo.
O grupo Wagner não tem nada a ver com nazismo ou qualquer ideologia do tipo. O Wagner é uma empresa licenciada, contratada para proteger ativos russos no mundo, ativos esses que sempre eram atacados pelas forças imperialistas antes de 2013. Com o aumento da demanda de energia pela Europa, os russos tiveram que tomar conta de seu patrimônio, e por isso o Wagner passou a se destacar, pois são remunerados como empresas de segurança. Com encerramento da primeira etapa da operação especial russa no Donbass, Putin ordenou que as tropas regulares retornassem e só ficasse o grupo Wagner, dada a eficácia da operação. Isso alavancou a importância do grupo, que finalizou as operações de libertação dos povos russos recém proclamados independentes.
Sobrou para Zelenski para coroamento da operação centrista da UP
Ao ler o editorial da UP temos a impressão de que o material foi escrito por um adolescente durante o ENEM, dado o nível de ingenuidade. Para a UP se demonstrar radical acabou apelando para Zelenski. Para a UP, “não é só Putin que tem mercenário para fazer seu trabalho sujo (se é que algum dia ele fez alguma coisa limpa). Os EUA e as potências capitalistas da Europa (Alemanha, França e Inglaterra) contam com a subserviência total de Volodymir Zelensky para anexar a Ucrânia a Otan”. Aqui cabe dizer primeiro que a UP fala sempre em “sujeira” e “corrupção”, o que é incompatível com o marxismo, que mira as questões concretas; depois, precisamos dizer que a UP não explicou nada do porquê Zelenski é “sujo”.
Aparentemente a UP só quis mesmo colocar a culpa da guerra em pessoas e não no imperialismo, pois, apesar do título ter Biden, muito pouco se falou do homem que mandou bombardear Belgrado em 1999, e quase nada se falou da operação do imperialismo para manutenção da guerra. O que a UP quis foi, a partir de uma retórica supostamente esquerdista, e contemporizar com os Estados Unidos, fez um editorial para atacar a Rússia como país imperialista, o que é um grande absurdo. Nos fundamentos marxistas-leninistas nada sobre concentração da produção e monopólios russos; o papel dos bancos russos no mundo; oligarquias financeiras russas no mundo atuando com grandes bancos e sufocando economias; exportação de capital russo; atos russos de partilha entre associações de capitalistas. Ou seja, nada na Rússia, do ponto de vista das categorias marxistas, colocam a Rússia como imperialista.
Todo o editorial da UP é um grande devaneio anarquista. E nada dos EUA no editorial, a não ser no título.