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“Terroristas!”

Uma esquerda capturada pela ideologia da direita

A histeria tomou conta, mais uma vez, da propaganda da esquerda

A invasão de bolsonaristas no último domingo foi um escândalo que, ao invés de levar a esquerda a compreender a complexidade da situação do governo Lula diante da extrema-direita, a levou a entrar em uma nova histeria coletiva.

Já vínhamos notando nos últimos meses um deslocamento à direita das posições políticas da esquerda nacional, que pedia repressão do Estado contra a liberdade de manifestação, de organização e de expressão da extrema-direita, pois esta seria a grande vilã e inimiga da “democracia”.

Com as ações realizadas três dias atrás em Brasília, a campanha da esquerda se tornou abertamente reacionária. Vejamos.

Aldo Fornazieri afirma que houve uma “agressão à democracia pelos atos terroristas” e que seus autores são “vândalos e criminosos”. Terrorismo é a palavra mais utilizada pela esquerda e sua imprensa. Por quê? Somente porque a imprensa burguesa, de quem a imprensa pretensamente progressista se tornou uma sucursal, começou a utilizá-la para se referir à invasão das sedes dos Três Poderes da República. Então a esquerda não está fazendo mais do que repetir como um papagaio exatamente o mesmo discurso da burguesia e do imperialismo. Isso deveria acender o alerta vermelho para todos aqueles que, no justo e correto desejo de combater o bolsonarismo, caíram na lábia da “defesa da democracia”.

“A autoridade precisa ser forte e as instituições inclementes na defesa da liberdade e da democracia”, escreve Fornazieri em sua coluna no Brasil 247. A frase, vinda de um articulista de esquerda, lembra precisamente o que dizia Adolf Hitler durante a ascensão do nazismo na Alemanha, ou a propaganda do governo dos Estados Unidos no período mais duro da chamada “guerra fria”. Ele continua: “não é possível que neste país somente Alexandre de Moraes tenha percebido que, diante da excepcionalidade da violência política do bolsonarismo é preciso usar a excepcionalidade das leis e das forças da República. Se esta lição não for apreendida, a democracia brasileira sempre estará a mercê de grupos antidemocráticos e golpistas.”

Faz-se, assim, apologia direta a um estado de exceção. Ora, o estado de exceção é justamente a subversão da própria “democracia” defendida por aqueles que sempre o decretam, invariavelmente regimes… antidemocráticos e ditatoriais. A esquerda, acreditando que as instituições falsamente democráticas estão a seu lado, ao lado do governo Lula e da população, pensa que o aparato burocrático e jurídico do Estado, o grande responsável pela aplicação dessa política repressiva, seria portanto uma entidade democrática e a serviço da democracia e do governo Lula. Pelo contrário: o governo Lula é quem está refém desse aparato, pois Lula não passa de um inquilino do Palácio do Planalto, que não tem o controle político de nenhuma outra instituição – judiciário, legislativo federal, estadual ou municipal, executivo estadual ou municipal, forças armadas, polícia, imprensa etc.

Essas posições adotadas pela esquerda são posições tradicionais da direita mais conservadora e reacionária. Nem mesmo a direita que se passa por liberal tem um discurso tão radical em defesa da “lei e da ordem”. E por que a direita reacionária tem esse discurso e defende medidas repressivas? Exatamente porque os responsáveis pela repressão estão do seu lado, são organismos reacionários, controlados pelos setores mais tradicionais da burguesia brasileira, praticamente por hereditariedade, como fica evidente no aparelho judicial do país.

A imprensa democrática, absolutamente desnorteada pela situação política, pede uma repressão generalizada do Estado contra os manifestantes bolsonaristas. Lendo as colunas do Brasil 247, percebemos que seus articulistas não deixam nada a desejar aos editorialistas do Estadão.

“Os líderes devem ser encaminhados para presídios de segurança máxima, onde vigora o chamado Regime Disciplinar Diferenciado, que impõe limitações de saída da cela e visitas restritas”, opina o jornalista Joaquim de Carvalho, que compara os bolsonaristas com o PCC. 

O que estamos vendo é um exagero enorme das ações da extrema-direita, fora da realidade, algo que é típico de uma situação de histeria. Infelizmente, a esquerda nunca consegue calibrar as suas análises. Quando era necessário uma intensa campanha e um combate duro contra a extrema-direita – por exemplo, em meados de 2015, em meio a dezenas de ataques físicos voltados contra os trabalhadores -, não se fazia absolutamente nada.

É preciso colocar as coisas em seu devido lugar. A invasão de domingo foi uma ação de alerta para a esquerda, particularmente para o governo Lula. Mas não é papel da esquerda afirmar que tratou-se de um crime, de vandalismo, de bandidagem, de terrorismo. No Brasil e pelo mundo inteiro as instituições já foram fisicamente invadidas e atacadas pelo povo organizado pela própria esquerda. O método não é criminoso, tampouco terrorista. Ou será que cada uma das milhares de pessoas que participaram da invasão explodiu instalações? O terrorismo, de modo geral, é uma ação individual, mesmo que organizada coletivamente. Se a ação bolsonarista for classificada pelas autoridades como terrorismo, como pede a esquerda, está aberto o precedente para que toda ocupação de prédios públicos pelos movimentos populares seja qualificada como terrorismo. É uma completa subversão do conceito.

O alerta é este: os bolsonaristas são uma parcela expressiva da população. Eles estão organizados, relativamente. São cachorros loucos, mas, como fascistas, não são independentes. A burguesia e a direita tradicional os ataca verbalmente, mas nunca fizeram nada de concreto contra eles e apesar de toda a histeria atual nada de efetivo será feito para suprimi-los. Porque são um fenômeno social necessário para a própria burguesia. Quando ela precisar dos bolsonaristas, vai soltar a coleira dos cachorros loucos. A invasão teve a conivência das autoridades que estavam em Brasília, particularmente das forças de segurança. Isso demonstrou que havia uma força importante do Estado por trás do movimento. Essa força são os militares. 

Portanto, é uma ilusão acreditar que aqueles que estão com o poder do Estado irão realmente acabar com as ameaças bolsonaristas. Não, eles são justamente os grandes responsáveis pelas ameaças bolsonaristas. Se a polícia, o exército e setores do judiciário e de outras áreas do aparato do Estado foram cúmplices dos bolsonaristas, isso significa que eles estão infestados de bolsonaristas e/ou de funcionários da burguesia a serviço do que ela mandar fazer. É um perigo enorme contra o governo Lula. Mais do que isso: a alto oficialato das Forças Armadas é o responsável direto pela ação. É um oficialato de extrema-direita, fascista, bolsonarista. Ele é o dono desse linguajar que a esquerda tenta sequestrar. Mas, enquanto a esquerda late como um cãozinho atrás do portão, os militares estacionam o seu camburão e descem para a calçada. Nesse momento, o cãozinho para de latir e coloca o rabo entre as pernas. Pois os militares são os verdadeiros proprietários da perseguição política disfarçada de combate ao terrorismo e ao vandalismo. E a vítima tradicional, que nunca vai deixar de cumprir esse papel, é justamente a esquerda.

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