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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Cinema e Política

Um retrato avassalador da decadência da burguesia

Filme mostra as contradições do capitalismo a partir da decadência de uma família burguesa russa

Baseado em uma peça que o escritor russo Máximo Górki escreveu em dois momentos, 1910 e 1936, o filme Vassa (Bacca, 1983), dirigido por Gleb Panfilov, é uma adaptação primorosa de um retrato sobre a decadência da burguesia.

Ambientado alguns anos antes da Revolução Russa, o filme conta a história da matriarca burguesa Vassa Zheleznova (Inna Churikova) e a maneira como ela administra a família e sua empresa de navios.

Em um dado momento, ela começa a perder o controle quando o marido, o capitão Sergey Zheleznov (Vadim Mikhaylov), é acusado de abusar de meninas. Preocupada com a reputação da família e de seus negócios, Vassa não tem dúvidas em induzi-lo ao suicídio.

A partir desse momento, ela começa a perder o controle sobre as filhas, o irmão bêbado e seu castelo começa a desmoronar.

Os brilhantes diálogos baseados na peça de Gorki, a bela cinematografia, os figurinos e a excelente interpretação de Churikova e dos demais integrantes do elenco constituem um sólido retrato da classe burguesa, objetivo principal do enredo.

A personagem é a encarnação perfeita do espírito burguês. Ela entende-se como proprietária, é calculista, prática, focada no lucro. Não hesita em subornar servidores públicos e a retirar o neto das mãos de sua nora. Toma decisões baseadas em cálculos e exerce poder de coerção sobre todos que convivem com ela.

Seus valores morais estão atados ao dinheiro de tal forma que ela vive sua vida como um grande comércio, na qual todas as atitudes visam o lucro. Vassa é uma representação da subjetividade capitalista.

Ao seu redor gravitam os parentes privilegiados e parasitas e os empregados submissos que não hesitam em traí-la. Vassa vigia tudo e todos. Ela se antecipa e toma decisões antes que saibam o que ela vai fazer.

Em seu todo, esse conjunto social mostra seres humanos que experimentam uma vida decadente e angustiada, que escondem atrás de comportamentos escatólógicos, insinuações de incesto, vício em bebidas e muito cinismo. 

O capitalismo não deixa escapar nem aqueles que mais se beneficiam da exploração do trabalho, transformando-os em objetos manipuláveis de acordo com as possibilidades de ganhos futuros. 

Um detalhe no filme é a força das personagens femininas. Em contraponto a Vassa, está sua nora socialista Rashel Topaz (Valentina Yakunina), que em vão tenta demovê-la da decisão de não devolver-lhe o filho de cinco anos. Os diálogos entre as duas mulheres estão entre os melhores do filme.

Os homens, ao contrário, aparecem como figuras fracas, moralmente incapazes de enfrentar a fortaleza da protagonista. A representação da subjetividade capitalista por uma personagem feminina em posição de controle é algo muito atual e que pode levantar inúmeros debates.

É fato que essa subjetividade tem um poder de destruição que é parte da sua contraditória  essência desumanizadora. Seja um homem ou uma mulher, o resultado é o mesmo.

O filme também tem um lado alegórico. Em um  dado momento, a família e os empregados traem Vassa. A submissa secretária Anna (Valentina Telichkina) toma o lugar de sua patroa, sem mudar nada.

Esse momento do filme talvez reflita a reescrita de Gorki em 1936, 20 anos depois da Revolução, já sob Stalin. Em 1983, quando o filme foi produzido, o momento estava às vésperas do esfacelamento que chegaria poucos anos depois.

Seja como for, o desencanto burguês encontra nesse filme um de seus melhores retratos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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