Há mais de 10 anos, faço parte, com amigos, de um grupo de discussão sobre cinema. Escolhemos um cineasta e assistimos a toda a sua filmografia, do primeiro ao último filme lançado.
Recentemente, terminamos de ver toda a filmografia do grande cineasta espanhol Luis Bunuel. Agora, iniciamos a do diretor italiano Bernardo Bertolucci, reconhecido por uma carreira notável de filmes como O Último Tango em Paris e o O Último imperador.
Antes da Revolução (Prima della Revoluzioni, 1964) é sua segunda película, que ele dirigiu com apenas 22 anos. É pouco conhecida, no entanto, revelou-se uma surpresa bastante interessante por ser hoje uma espécie de documento sobre aquele momento da conjuntura italiana, vinte anos após a queda do fascismo no país. É esse seu tema.
Trata-se também da adaptação do romance A Cartuxa de Parma, do romancista francês Stendhal (1838). Na história, acompanhamos as desventuras de Fabrizio (Francesco Barilli) e seus dilemas emocionais e políticos diante da situação histórica.
Jovem, ou seja, nascido no final da II Guerra Mundial, herdeiro e burguês, ele está divido entre as ideias revolucionárias, que ele discute com um professor, e o lugar que sua família espera dele. A ação transcorre ao longo de mais ou menos um ano, durante o qual o personagem coleciona desapontamentos, como o suicídio de um amigo, a paixão incestuosa pela tia ou a experiência fracassada de um rico e velho fascista.
A história funciona como um ritual de passagem: Fabrizio deve deixar as ilusões de juventude para se tornar de fato um burguês – sinal de maturidade – como se o destino já estivesse traçado para ele.
Nesse ponto, o filme apresenta duas questões interessantes sobre a capitulação do personagem. A primeira é mostrar que sua classe social é incapaz de abdicar de privilégios em nome de alguma causa revolucionária. Ele chega à conclusão que tudo não passa de uma ilusão distante. Individualista, ele trata de garantir o próprio futuro.
A segunda é mostrar a capitulação como uma falha política daquele momento histórico de Guerra Fria, que vai se confirmar com o fracasso dos protestos franceses em 1968.
Se pensarmos bem, nós estamos vivendo os anos – sabe-se lá ainda por quanto tempo – antes da Revolução. A melancolia do filme parece até espelhar o nosso próprio cotidiano. Contudo, ele aponta também a superficialidade do engajamento de uma militância privilegiada, que associa a ideia de transformação social a arroubos juvenis.
E não poupa o papel do intelectual, no caso o professor pequeno-burguês, nesse processo. Só entende a luta de classes quem realmente dela participa cotidianamente e precisa superá-la como uma questão de sobrevivência.