70 anos da morte

Stalin, inimigo do socialismo, amigo do imperialismo

Atualmente, há um certo esforço de setores para ressuscitar os mitos em torno de Stalin

No dia 5 de março, o canal Tutaméia, no YouTube, publicou entrevista para lembrar o aniversário de 70 anos da morte de Josef Stalin. O entrevistado foi o jornalista José Luiz Del Roio, que fez um breve panorama da vida de Stalin.

A entrevista e a data de 70 anos da morte oferecem uma oportunidade para debater alguns pontos que a propaganda stalinista repete, mas que não tem fundamento na realidade. Vejamos os pontos centrais do que foi dito:

O jornalista Del Roio afirma, logo no início, que a importância de Stalin em duas coisas fundamentais:

“Foi o construtor do Estado soviético. E essa construção permanece, mesmo com as suas transformações. O grande Estado russo existe hoje em função dos projetos, da luta, da concepção de Stálin. Por isso que ele é tão recordado e celebrado na Rússia, no meio das suas contradições. Ele é o principal artífice da vitória contra o nazifascismo. Foi ele que enterrou o nazifascismo”.

Sobre essas duas questões, que segundo Del Roio seriam as mais fundamentais, é preciso colocar algumas questões.

Stalin está muito longe de ter sido esse construtor do Estado soviético. O georgiano ocupava papel secundário no início do governo revolucionário. Sua participação individual nesse processo, portanto, não é decisiva com a de Lênin e Trótski ou até mesmo de outros militantes importantes do partido.

Desse ponto de visto do Estado Soviético, o mais correto seria dizer que Stalin tem a importância de ser o demolidor daquilo que havia sido construído pelos revolucionários. Com a morte de Lênin e a ascensão da burocracia, o governo leva adiante uma série de políticas desastrosas.

Por exemplo, a política de coletivização forçada, que Del Roio cita como algo que teve que ser feito, foi desastrosa. O que aconteceu na realidade é que a burocracia stalinista rejeitou de início a proposta dos trotskistas sobre o problema do campo. A crise que se instaurou obrigou a coletivização forçada o que acabou resultando numa crise política e na morte de muitos camponeses. Isso é para ficarmos apenas em um exemplo.

Vejamos o que explica Trótski sobre a questão:

“A luta no partido sobre a então ‘linha geral’, que veio à luz em 1923, ficou especialmente intensa e apaixonada em 1926. Na sua plataforma expandida, que englobou todos os problemas da economia e da indústria, a Oposição de Esquerda dizia:

‘O partido deve resistir a e esmagar todas as tendências voltadas para a anulação ou enfraquecimento da nacionalização da terra, um dos pilares da ditadura do proletariado’.

Nessa questão, a Oposição ganhou o dia; ataques diretos à nacionalização foram abandonados. Porém o problema, obviamente, envolvia mais coisas que a forma de propriedade da terra.

‘Ao crescimento [numérico] da propriedade individual no campo (fermerstvo) nós devemos opor um crescimento ainda mais veloz da propriedade coletiva. É necessário, sistematicamente, ano a ano, dispender uma soma considerável para estimular os camponeses pobres a se organizarem nas fazendas coletivas’.

Mas esse programa amplo de coletivização foi teimosamente rejeitado como utópico para os anos próximos. Durante as preparações para o 15º Congresso do Partido, – cuja tarefa era expulsar a Oposição de Esquerda – Molotov, o futuro presidente do Conselho dos Comissários do Povo, disse repetidamente:

‘Nós não escorregamos (!) nas ilusões dos camponeses pobres sobre a coletivização das grandes massas camponesas. Nas atuais circunstâncias, isso não é mais possível’.

Era, então, de acordo com o calendário, fins de 1927. Quão longe estava então o grupo dirigente da sua futura política para o campesinato!”

Nesse trecho de A revolução Traída, Trotski explica que a fração dirigente do partido, liderada por Stalin, acusava a proposta da Oposição de Esquerda de ser “utópica”.

O resultado foi que, a situação grave de crise com os camponeses acabou empurrando a burocracia, pouco tempo depois, para a adoção da coletivização. Tal política, no entanto, foi implementada à força, gerando outros problemas. Trótski continua, explicando que o governo burocrático dá “um giro brusco” e adota o plano quinquenal em quatro anos e a coletivização completa:

“Total falta de firmeza diante da pequena propriedade camponesa, falta de confiança em planos ousados, defesa de um ritmo mínimo, negligenciar os problemas internacionais – tudo isso junto forma a essência da teoria do “socialismo num só país”, inicialmente apresentada por Stálin no outono de 1924, após a derrota do proletariado na Alemanha. Não se apressar com a industrialização, não discutir com o Muzhik, não contar com a revolução mundial e acima de tudo, proteger da crítica o poder da burocracia partidária! A diferenciação do campesinato foi denunciada como uma intromissão da Oposição.”

Esse é apenas um pedaço do debate sobre o tema. O importante aqui é saber que graças ao stalinismo o Estado soviético esteve à beira da dissolução. E não foi apenas uma vez.

Sobre a derrota do nazifascismo, estamos diante de uma das maiores lendas criadas no Século XX. Como afirma o próprio Del Roio, os países imperialistas, nos primeiros momentos após o fim da Segunda Guerra, ajudaram a difundir esse mito.

O que Del Roio fala de passagem, o pacto com Hitler, é decisivo para desmentir Stalin como o grande herói anti-nazista. Stalin foi o principal responsável pelo avanço do nazismo na URSS, subestimando o perigo de Hitler, diferente do que afirma Del Roio.

Quem reagiu aos nazistas foi o povo soviético. Stalin permitiu, com sua política, que Hitler entrasse na União Soviética e devastasse boa parte do país. O povo, notando a devastação que os nazistas realizavam, passou a reagir, contra a própria orientação de Stalin.

Para justificar os crimes de Stalin, Del Roio compara-o a Robespierre e Lincoln:

“Tudo foi jogado nas costas de Robespierre. Mas ele foi aquele que mais fez avançar a revolução na França e na Europa. Algo assim acontece com Stálin. Errou Robespierre? Errou, muito. Errou Stálin? Claro que errou. Trabalhar em certas condições históricas é complicado. Como se constrói um estado moderno? Nunca é com flores. É sempre com muita luta. Lincoln, todo mundo diz maravilhas dele. Mas ele foi responsável por uma guerra que levou a centenas e centenas de milhares de mortos e milhões de mutilados, que foi a guerra civil norte-americana (…) Teve que lutar nas condições que foram dadas.”

De fato, os revolucionários, incluindo os da burguesia, como é o caso dos dois citados, precisam lutar nas condições dadas. A violência revolucionária é um recurso legítimo. Tudo isso vai depender do sentido político dessa violência.

O problema é que essa justificativa não serve para Stalin. A violência política que colocou em prática tinha um sentido claramente contrarrevolucionário. Robespierre foi a personificação da etapa mis revolucionária da Revolução Francesa, Stalin, foi a personificação da reação contrarrevolucionária na Rússia. 

Por fim, Del Roio afirma que Stalin é “demonizado” porque ele representa um “perigo para o Capital”. Esse é outro erro de análise sobre o fenômeno do stalinismo. O que ocorreu foi exatamente o contrário. O imperialismo reconhecia em Stalin em grande aliado contra a revolução no muno todo. A tal “demonização” é algo posterior, mas não está ligada à figura de Stalin como inimigo do capitalismo, mas como uma forma dos capitalistas atacarem o socialismo. Trata-se de uma manipulação, identificam o stalinismo como socialismo para atacar todo o movimento operário.

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