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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Uma grande ideia

Reduzir a população e salvar o capitalismo

E há quem diga que a vice-presidenta dos EUA é uma lutadora antiracista

Esta semana, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, escorregou em um discurso e afirmou que reduzir a população pode garantir melhor qualidade da água e do ar para as crianças.

A frase exata, compartilhada no twitter, é essa: “When we invest in clean energy and electric vehicles and reduce population, more of our children can breath clean air and drink clean water.” (Quando investimos em energia limpa e veículos elétricos e reduzimos população, mais das nossas crianças podem respirar ar puro e beber água limpa).

O vídeo não mostra nehuma tentativa de se corrigir. Mais tarde, a Casa Branca disse que ela errou o termo: queria dizer “pollution” (poluição) ao invés de “population” (população).

Outro dia, assisti a um outro vídeo de um discurso de Harris no twitter no qual ela parecia estar completamente bêbada. Se pensarmos que há uma probabilidade de que Joe Biden esteja com demência, então temos uma situação bastante esquisita quando se fala sobre quem governa de fato os Estados Unidos hoje em dia.

Voltando à questão, não importa se ela errou ou não. O fato é que existe sim uma ideia bastante controversa de que a população precisa ser reduzida para salvar o planeta Terra. Isso acontece em discursos que apontam que “a humanidade” é muito violenta e ambiciosa, nunca vai mudar e, por isso, é a causadora de todos os males.

Por trás desse diagnóstico infeliz, está o discurso totalizador e simplificador que esconde que o real problema que nos aflige é o capitalismo, esse sim um sistema econômico irracional, propenso a toda sorte de barbáries.

Como no discurso identitário, que transforma racismo em algo “estutural” na sociedade brasileira, o discurso ecológico-catastrofista também elenca os seres humanos em geral como os portadores de um mal original que faz com que a destruição da natureza seja “estrutural” em nossa sociedade.

Ambos raciocínios têm em comum a ideia bastante cristã de pecado original, que condena todos nós como aberrações imorais. Também comum a ambos o fato de serem ferramentas de escamoteamento das contradições do capitalismo, estas sim as causas do sofrimento que presenciamos. Seres humanos que passam fome em meio à abundância são seres imerso na degradação do ambiente em que vivem.

Kamala Harris apenas anunciou o que muitos pensam. Ao mesmo tempo, perigosamente, também mostrou para que lado está andando a plutocracia norte-americana. Genocídio que chama?

Um fato interessante nesse contexto é apontar como Hollywood tem representado essa tendência genocida. Sabemos que não é de hoje que o cinema do país explora a figura de vilões que querem dominar o mundo e, para isso, tentam destruir toda a civilização.

Guerra nas Estrelas, por exemplo, é uma fantasia sobre sonhos de libertação contra regimes totalitários de origem fascista.

No entanto, alguns filmes mais recentes têm explorado a redução da população de uma maneira pouco usual, seja porque aderem de certa forma a essa ideia ou porque seus “vilões”, para ficar na fórmula, “são complexos”. Interestelar, uma fantasia de 2014 dirigida por Christopher Nolan, um diretor reconhecidamente de direita, sugere o sacrificio da população mundial para salvar apenas alguns.

Nos dois últimos filmes da série Avengers, da Marvel, o vilão “complexo” Thanos tem como objetivo destruir 50% da população mundial para chegar a um equilíbrio universal que ele considera necessário. Para tanto ele só precisa estalar os dedos. Um comentário no final da série fala que é melhor o nosso mundo imperfeito porque temos a chance de aperfeiçoá-lo, etc.

Há inúmeros filmes que sugerem um final apocaliptico para os seres humanos, tendo como base os contos bíblicos de expiação e purificação, além dos desejos de uma divindade vingativa.

De concreto mesmo, associando produção dessas obras à conjuntura histórica atual, está sempre a ideia presente do genocídio como purificador. O cinema americano talvez apenas represente e exporte uma ideia que está culturalmente presente no país. A fala de Kamala Harris apenas tornou mais factível o que estava disfarçado como fantasia.

Há uma certa ansidedade capitalista nessa visão de “solução final”, como um “great reset” anunciado pelos plutocratas em Davos recentemente. Seja como for, a única coisa que se pretende salvar com essas insinuações é o capitalismo, nada mais.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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