Segundo o jornal golpista Folha de S. Paulo, o Partido dos Trabalhadores, após abdicar de disputar a prefeitura da cidade de São Paulo, planeja repatriar a ex-prefeita Marta Suplicy, supostamente para lançá-la vice na chapa encabeçada pelo funcionário do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Guilherme Boulos (PSOL) (“Lula diz a aliados que Marta é crucial para vitória de Boulos em SP”, Danielle Brant, 15/12/2023). Sendo uma notícia divulgada pela Folha, é preciso ter ressalvas, pois pode muito bem não ser verdade. Caso se confirme o boato, no entanto, trata-se de um erro duplo, cujas consequências podem ser observadas pela falência do PT no Rio de Janeiro.
Após toda a sorte de capitulações possíveis ao MDB, o partido se desmoralizou e permitiu a ascensão do PSOL no segundo centro mais importante do País. O partido pequeno-burguês se consolidou no Rio, tornando-se o principal partido de esquerda no estado, apesar das grandes votações do PT nas eleições presidenciais, que não se traduzem em força nas disputas municipais e mesmo estadual.
Desde 2002, o PT não participa, de fato, da disputa pelo Palácio da Guanabara, tendo sido este o último pleito em que o partido chegou a ter uma votação expressiva, com 24,45% dos votos válidos, com Benedita Silva. Após ela, nem no governo estadual, nem na capital fluminense, o PT teve qualquer destaque desde então.
Ao contrário do Rio, o PT conseguiu levar Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2000. Ocorre que tal como a experiência anterior, de Luiza Erundina (1989-1993, a primeira prefeita petista da capital paulista), o governo Suplicy foi tão direitista que rendeu a então prefeita o apelido de “Martaxa”, em função da decorrência Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD) e da Contribuição Para Custeio da Iluminação Pública (Cosip). A repressão estatal contra perueiros, em favor da máfia dos monopólios do transporte privatizado, seria outro grande ponto negativo de sua passagem pela prefeitura.
Tal qual Erundina, o direitismo de Suplicy a levou a abandonar o partido justamente no período da agitação golpista do imperialismo, que culminaria no golpe de Estado de 2016 e, posteriormente, na prisão do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Apoiando todos os ataques da direita contra o PT, Marta Suplicy abandonou o partido, entrando para aquele que, à época, articulava a queda da então presidenta Dilma Rousseff: o PMDB (atual MDB), tornando-se ela própria, um braço “esquerdo” do golpe.
Caso a Folha não esteja mentindo, é esse tipo de lixo golpista que a direção do PT de São Paulo quer reciclar. Pior ainda, para dar um ar esquerdista à candidatura de ninguém menos que Guilherme Boulos.
O homem do “Não vai ter Copa”, que em meio à agitação golpista atacou o governo Dilma como “indefensável”, será agora candidato à prefeitura da capital operária do País, sob as bençãos do partido que ajudou a derrubar do governo federal, que, supostamente, planeja recorrer a uma notória golpista para controlá-lo. É de se questionar se o plano dos dirigentes petistas é realmente destruir o partido em sua principal base no Brasil, a cidade de São Paulo, tal como conseguiram fazer no Rio de Janeiro.
Na ex-capital federal, o que conseguiram com a operação foi destruir completamente a esquerda, fortalecer o PSOL como um simulacro de força esquerdista e deixar a direção política do Rio de Janeiro entre a direita tradicional e o bolsonarismo. Seria este o plano agora, para São Paulo? Anular o partido, desmoralizar a esquerda, impulsionar a esquerda filoimperialista enquanto um ou outro burocrata se beneficia com a falência do maior partido da esquerda brasileira na principal cidade do País? Dado que esse foi o resultado da experiência fluminense, como esperar um resultado diferente em São Paulo? E depois de São Paulo, o que mais as direções petistas planejam entregar?
Estivessem as consequências restritas ao próprio partido, seria um problema interno a ser resolvido pelo PT. Ocorre que não é. Os erros de cálculo dos dirigentes petistas forneceram uma preciosa ajuda às forças golpistas responsáveis pelos golpes de Estado supracitado e, também, pelos governos golpistas de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (hoje PL, à época, PSL).
Ainda que alguns esquerdistas desorientados tenham acreditado que a derrota do PT diante da direita fortaleceria a esquerda revolucionária, a realidade se mostrou totalmente diferente do que supuseram os idealistas esquerdistas. A queda do PT, nas condições em que o golpe se deu, implicou no fortalecimento das forças da reação, com a direita implementando uma duríssima sequência de governos de ataques contra a classe trabalhadora. É o que tende a acontecer caso a direita consiga subjugar o PT e, através da corrupção interna, colocar o partido a reboque de um funcionário do imperialismo como Guilherme Boulos, com Marta Suplicy de vice para controlar o serviçal do IREE.
A derrota da esquerda petista para os setores “boulistas” no conflito que se abre no interior do partido não ficará restrita ao PT, mas tende a repercutir pelas demais organizações de luta da classe operária, enfraquecendo-as. É preciso, portanto, que as direções sejam pressionadas a não aceitar a chantagem do imperialismo, abortem a candidatura de Boulos e enfrentem a tentativa de reciclar o lixo político radioativo que é Marta Suplicy.