Recentemente, o PSTU publicou um artigo em seu sítio na internet procurando dar uma “interpretação marxista” para a questão da transsexualidade.
A tese fundamental do PSTU é a de que o sexo, ou o gênero das pessoas não são definidos pela biologia, mas pela sociedade:
“Do ponto de vista biológico, é um equívoco dizer que existem apenas duas possibilidades de ‘gêneros’, determinadas pelas características físicas relacionadas ao sexo, como cromossomos, órgãos genitais, gônadas (ovários e testículos), hormônios e características secundárias da puberdade.”
Este Diário, polemizando com as posições do PSTU, publicou matéria explicando que o antimarxismo nas concepções do PSTU. (https://causaoperaria.org.br/2023/pstu-troca-definitivamente-o-marxismo-pelo-identitarismo/). Sobre o ponto específico de que a biologia não tem nenhuma importância para a definição do sexo, explicamos que é justamente o oposto. Que são as características biológicas que definem o sexo.
O PSTU não se preocupou em responder as nossas colocações. No entanto, em matéria para criticar a posição da Unidade Popular (UP) sobre o tema da trassexualidade, cita o PCO de passagem:
“Visões vulgares do marxismo, como o stalinismo e até correntes que dizem trotskistas como o PCO (em recente texto publicado com polêmica conosco), ao enxergarem o ser humano como mero ‘fantoche’ da história, sem vontade e sem individualidade, simplesmente invisibilizam a identidade das trans.”
Já que o PSTU não se colocou sobre nosso artigo – algo que não nos surpreende, já que em geral a esquerda pequeno-burguesa procura fugir do debate sério – temos que nos contentar com essas poucas linhas que sequer representam o ponto central do debate inicial. Entretanto, elas têm a vantagem de mostrar mais uma ideia antimarxista do PSTU.
Segundo o PSTU, o PCO considera que o ser humano é “fantoche” da história e isso seria uma concepção vulgar do marxismo. A acusação contra o PCO baseia-se em que a concepção do partido não leva em consideração a vontade e individualidade das pessoas.
Vejamos, então, o que diz outro teórico “vulgar” do marxismo, chamado Karl Marx, em um dos seus textos mais clássicos:
“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” (O 18 de Brumário de Luís Bonaparte).
Parece-nos que Marx, aquele que o PSTU sempre disse seguir, seria também um “marxista vulgar”. Essa frase muito conhecida do início do livro é bem clara. Os homens fazem a história sob circunstâncias que independem de sua vontade. Marx achava que o ser humano era um “fantoche” da história? Sim!
É interessante que para provar a sua tese absurda de que a biologia não tem nenhuma importância na definição do sexo, o PSTU diz que o ser humano é um ser social. Descobrimos agora que isso, para o PSTU, não é nada mais do que uma colocação metafísica. Marx, Engels e todos os marxistas consideram que o ser humano é um ser social, mas não no sentido que o PSTU acredita, ou seja, totalmente deslocado da realidade material que o cerca.
No Prefácio da Crítica da Economia Política, Marx afirma que:
“na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.”
As forças produtivas não são coisas que estão na cabeça de ninguém, são coisas materiais, ou seja, englobam os recursos fornecidos pela natureza e o desenvolvimento técnico que o próprio homem atinge ao passar do tempo.
As relações sociais, portanto, segundo Marx acontecem independentes da vontade e da individualidade.
O PSTU se julga no direito de dar aulinha de marxismo, mas não conhece sequer o bê-a-bá do assunto.
Na falta de conhecimento e de argumento recorrem a adjetivos que não dizem nada: “marxismo vulgar”. Até descobrirmos que o marxista vulgar nesse caso, sendo muito bondoso, é o próprio PSTU. Sendo bondoso porque, a essa altura, o PSTU, assim como boa parte da esquerda pequeno-burguesa que ingressou no identitarismo, já está muito longe de qualquer “marxismo”, mesmo que vulgar.