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Adeus ao materialismo

PSTU troca definitivamente o marxismo pelo identitarismo

Na tentativa de dar uma explicação marxista do problema do gênero, PSTU revela sua teoria reacionária e anti-científica

O PSTU publicou um artigo em seu sítio na internet onde tenta convencer o leitor de que está realizando uma suposta interpretação numa “perspectiva marxista e revolucionária” do problema de gênero.

Se o artigo, chamado “Dia Nacional da Visibilidade Trans: Entendendo gênero e transexualidade sob uma perspectiva marxista e revolucionária”, foi uma tentativa do PSTU, um partido que se apresenta como trotskista, de se distanciar do identitarismo, estamos diante de um gigantesco fracasso intelectual. Com essa matéria, o PSTU ingressa com armas e bagagens na ideologia identitária mais reacionária.

Vejamos quais são as teses fundamentais daquilo que o PSTU chama de “perspectiva marxista” para a questão do “gênero e da transexualidade”. Não vamos aqui nos ater ao discurso identitário, presente no artigo, da “invisibilidade” trans e coisas do tipo. Vamos discutir a concepção do PSTU sobre gênero, justamente porque é nela que se baseia a tese apresentada na matéria.

“Do ponto de vista biológico, é um equívoco dizer que existem apenas duas possibilidades de ‘gêneros’, determinadas pelas características físicas relacionadas ao sexo, como cromossomos, órgãos genitais, gônadas (ovários e testículos), hormônios e características secundárias da puberdade.”

É comum encontrar entre os antropólogos, sociólogos e psicanalistas burgueses formulações que procuram distinguir o sexo e o gênero como dois conceitos diferentes. Grosso modo, sexo seria definido pela biologia e gênero teria variadas definições. Trata-se de uma separação artificial e veremos porque mais à frente.

Conforme o trecho citado acima, até mesmo “do ponto de vista biológico” não se pode dizer que há apenas duas possibilidades de gênero. Segundo o PSTU, não importam as características biológicas.

“Mesmo entre pessoas enquadradas no sexo feminino e do sexo masculino, ainda que as diferenças físicas existam, as maiores diferenças são ditadas pela Cultura (entendida como a relação de um indivíduo com “modo de vida” e as relações sociais de sua época), não pela Biologia.”

Ao invés de explicar exatamente porque essas diferenças não importam, o artigo pula diretamente para uma generalização: “embora haja diferenças, elas podem ser explicadas pela cultura”. E continua:

“Assim, começamos a compreender o que é gênero: tudo aquilo que diferencia, cultural e socialmente, homens e mulheres, definido pelo contexto histórico, político, socioeconômico e cultural. Não pela Biologia.”

Aqui, o artigo nem se preocupa em esconder sua concepção anticientífica: “tudo menos a biologia”. Segundo o PSTU, poderíamos simplesmente ignorar as características biológicas. O ser-humano deixou de ser um animal, deixou de ser parte da natureza, e se tornou um ser meramente social. É um raciocínio integralmente errado. Na verdade, nem a história, nem a política, nem a economia, nem a cultura definem as diferenças básicas entre homens e mulheres. A diferença fundamental é, justamente, biológica.

A tentativa “marxista” do PSTU passa muito longe de qualquer marxismo. Vejamos o que diz Engels sobre a relação do homem com a natureza:

“A cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.” (O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem).

Engels explica que apenas o homem pode dominar a natureza e obrigar-lhe a servir-lhe, mas, como dito acima, esse domínio só pode ser entendido como parte da própria natureza.

O marxismo entende que a espécie humana só existe em sociedade, mas isso não significa que o homem não seja um animal biológico.

Para o PSTU não funciona assim. É simplesmente a sociedade, que o artigo chama de cultura, economia, política etc, que determina o gênero ou o sexo de uma pessoa. A biologia não.

Negando até mesmo uma importância secundária da biologia nas diferenças entre os sexos, o PSTU conclui que “muitas das características que são tratadas como ‘naturais’ aos homens e às mulheres são, na verdade, definidas pela sociedade. Ideias como a de que homens são mais fortes e as mulheres são submissas ou de que mulheres têm ‘instinto maternal’ e homens são mais racionais não são determinadas pela natureza. Tudo isto é construído socialmente”.

Aqui, o artigo do PSTU revela bem a confusão, misturando características biológicas e sociais dentro de um mesmo argumento. Por exemplo, é um fato biológico que os homens em geral são mais fortes, mas isso não define como homem. Pode haver uma mulher mais forte do que um homem, mas eles não trocarão de sexo por conta disso. No caso da submissão das mulheres, essa é uma característica que diz respeito à posição da mulher na sociedade. Sobre o “instinto maternal” é uma característica biológica, o cuidado parental é apresentado por muitas espécies, podendo oscilar entre machos e fêmeas ou os dois.

Claro que, como nos explica Engels, o ser-humano se desenvolve no sentido de superar inclusive a escravidão imposta pela natureza, mas não é possível ignorar a presença dela como fator determinante.

A concepção de gênero apresentada no artigo é profundamente antimarxista e um abandono total do PSTU de qualquer resquício de materialismo histórico.

O que o PSTU não entende, é que o “gênero”, no sentido social que ele tenta definir, não anula o problema do sexo. Por exemplo, segundo a concepção identitária defendida pelo PSTU, a homossexualidade seria um dos “gêneros” possíveis. Mas não é assim, nem nesse caso é possível falar em gênero.

Os homossexuais – masculino ou feminino – não deixam de ser mulheres ou homens. A questão está relacionada ao impulso sexual, ou melhor dizendo, para onde é dirigido esse impulso. O homossexual dirige esse impulso para pessoas do mesmo sexo. Tanto é assim que pode haver – e tem muitos – um homossexual masculino que tem uma conduta social tipicamente masculina.

Para não haver dúvida, os homossexuais masculinos têm orgasmo tipicamente masculino. A mulher lésbica é a mesma coisa. Nesse sentido, não muda a função fisiológica do sexo. A diferença é no tipo de atração que existe.

O caso das pessoas trans, das pessoas que mudam de sexo, é minoritário. É um fenômeno que existe, mas que atinge uma ínfima minoria da população. O próprio PSTU afirma, citando a ONU, que apenas entre 0,05% e 1,7% da população é “intersexo”. Do ponto de vista científico, estamos obviamente diante de exceções biológicas e sociais.

Uma confusão não apenas do PSTU, mas de toda a esquerda identitária, é a de que seria preciso mudar a realidade e a ciência para defender determinados grupos. Assim, não basta defender o direito das pessoas trans, é preciso forçar a realidade para justificar moralmente essa defesa.

A posição do PSTU é anti-biológica e anti-natural. Ela não leva em conta um fator fundamental que é a função da reprodução da espécie. O impulso sexual tem essa função biológica. É instintivo. Ele pode sofrer variações, mas haverá um determinado padrão que sirva à reprodução da espécie. A sociedade pode modificar e modifica em certa medida esses impulsos, mas isso não significa que tudo é social.

O comportamento social não define a questão do sexo. Os gostos, a posição na sociedade, o jeito etc não fará uma mulher deixar de ser mulher ou um homem deixar de ser homem.

Fato é que a teoria do PSTU não pode ser justificada nem pela biologia, nem pela sociedade.

* Última modificação deste artigo: dia 31, às 17h47

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