O presidente Lula participou da reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e nela declarou que um dos principais culpados pela crise econômica e social que atravessa o Brasil nos dias atuais é o golpe de Estado de 2016 e seus organizadores, que derrubaram a presidenta Dilma Rousseff.
Em seu discurso, Lula relembrou de Michel Temer, que traiu o governo eleito e foi testa de ferro do golpe dado. Além disso, colocou que não só Temer, mas todos os seus aliados, ou seja, o que hoje é chamado de “terceira-via”, são os verdadeiros responsáveis pela crise social vivida no País.
A declaração de Lula foi de extrema importância, pois revela que o presidente brasileiro tem consciência do papel da chamada “direita democrática” não apenas no golpe de 2016, como também na política de sabotagem ao seu governo. Se durante todo o processo eleitoral, este setor tenha se colocado como um suposto aliado na luta contra o bolsonarismo, as declarações de Lula servem para revelar que a terceira-via está ativa no trabalho de organizar um outro golpe de Estado contra o Partido dos Trabalhadores.
Um problema que evidência esta política, são os duros ataques realizados pela imprensa burguesa contra Lula, em relação a considerar 2016 um golpe de Estado. Um dos primeiros a se posicionar, foi um dos principais porta-vozes da burguesia, Merval Pereira, que em sua coluna do jornal O Globo, afirmou que Lula estaria propagando “fake news” ao afirmar que Dilma foi derrubada por um golpe.
Como não bastasse, Merval Pereira chega a acusar que Lula estaria reescrevendo a história e criando uma suposta “verdade oficial”, fazendo uma cínica alusão ao livro 1984, de George Orwell. Merval também afirma que Lula está seguindo os passos das “muitas facções petistas radicais” e trata como um “absurdo” denunciar o golpe “na presença do presidente da Argentina, Alberto Fernández, e do ex-presidente da Bolívia Evo Morales”.
De forma cínica, o articulista da burguesia afirma que a única irregularidade teria sido a manobra de Ricardo Lewandowski que garantiu a manutenção dos direitos políticos da presidente golpeada.
“Como é possível que um governo que pretende acabar com as fake news e combater a desinformação comece, ele mesmo, a tentar transformar mentira em verdade? O que Lula disse foi fake news”, exclama Merval Pereira.
No entanto, a verdadeira “fake news” não está nas declarações de Lula, mas sim no cinismo da imprensa burguesa. O próprio jornal O Globo, preocupado com o problema, lançou um editorial apenas para repassar a “verdade” dos fatos. Na história contada pelo jornal da burguesia “ninguém viu” o tal do golpe em 2016, e que Dilma fora derrubada por mera “incompetência”.
A realidade é que mesmo a justiça brasileira não foi capaz de, mesmo querendo, comprovar qualquer irregularidade e incriminar Dilma Rousseff pelas famosas “pedaladas fiscais”. O fato é que o próprio judiciário foi obrigado, pela ausência de quaisquer provas, a arquivar em setembro de 2022, seis anos após o golpe de Estado, as investigações contra Dilma e demais figuras do governo. Ficou claro pela própria ação do Ministério Público Federal (MPF) que Dilma Rousseff nunca havia cometido qualquer irregularidade fiscal, e que não existiam quaisquer provas que a pudessem incriminar, e ainda mais, a levar a um impeachment como ocorreu em 2016.
O caso, como ficou conhecido pela frase do ex-senador Romero Jucá “um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”, exemplificando na histórica conversa telefônica o grande golpe de Estado que estava em marcha no País. O que a burguesia fez, foi dar um típico golpe de Estado, alterando o regime político e impondo um governo neoliberal alinhado aos interesses dos Estados Unidos.
Com o golpe, foi possível vender as principais empresas nacionais, privatizar tudo que era nacional, impor as reformas trabalhistas, da previdência, etc., a terceirização, e por fim entregar a economia nacional nas mãos do imperialismo.
Mas afinal, por que motivos a imprensa burguesa estaria tão preocupada com as frases de Lula? Em primeiro lugar, foi justamente esta mesma imprensa “democrática” e os partidos da burguesia “civilizada” que foram os verdadeiros responsáveis pelo golpe de 2016, como também, por impulsionar o bolsonarismo no País. Eles são os verdadeiros pais da extrema-direita bolsonarista, apesar de em todo período eleitoral tentaram se camuflar sob a base de uma pretensa luta “democrática”.
Outra questão fundamental é o problema da política de intensa sabotagem que o alto escalão das Forças Armadas vem organizando contra o governo recém-eleito. Os acontecimentos do dia 8 de janeiro serviram para desestabilizar o governo.
Dessa forma, com o governo desestabilizado, a imprensa burguesa e toda a direita golpista, que na prática jamais apoiaram Lula, passaram aos poucos a entrar na mesma campanha geral de sabotagem ao governo.
Liderados pela ação dos militares, a imprensa golpista e a direita “democrática” passam a fazer campanha em defesa do “não golpe” de 2016, como forma de justificar uma possível nova investida golpista contra o governo Lula.
As declarações dadas pela imprensa revelam esta tendência. Há uma intensa preparação golpista contra o governo Lula.