Diretora-executiva da ONG Conectas fez críticas a pontos importantes do discurso de Lula na ONU. O presidente fez uma fala que se chocou frontalmente a diversas políticas do imperialismo, mesmo que usando seu conhecido tom conciliador. Diante de tantos pontos positivos de um discurso que expressou muito bem a política nacionalista de Lula, Camila Asano escolheu justamente alguns pontos de embate com o imperialismo para criticar a fala do presidente.
A partir das críticas de Lula ao funcionamento de organismos internacionais como o Banco Mundial, o FMI e a própria ONU, Asano defendeu que para o Brasil voltar “à centralidade do debate no multilateralismo” o País teria que se comprometer “com a defesa inabalável do sistema internacional de direitos humanos e seus tratados internacionais, incluindo aqueles dedicados ao combate aos crimes contra humanidade como o Estatuto de Roma”. Por uma “coincidência”, o imperialismo se incomodou recentemente com o convite de Lula para uma visita do presidente russo Vladimir Putin, que foi arbitrariamente condenado pelo Tribunal Penal Internacional porque não permitiu que a Ucrânia se tornasse uma base militar da Otan.
Diante do discurso ambientalista do presidente, que se opôs às falas de Bolsonaro nas assembleias anteriores, a “”ongueira” criticou Lula por não falar dos “povos originários” ao citar a “crise climática”. Mas, por outro lado, elogiou a criação do Ministério dos Povos Indígenas, comandado pela serviçal do Tio Sam, a psolista Sônia Guajajara. Segundo Asano, esse ministério precisa “ter condições materiais para desenvolver atividades em prol dos direitos constitucionais das comunidades originárias”. Como ficou explícito no caso dos Ianomâmi, no Norte do país, o imperialismo usa esses povos para impedir que o Brasil explore riquezas importantes, entre elas o ouro e o petróleo.
Ainda sobre a questão ambientalista, a diretora da Conectas afirmou: “o presidente Lula frustrou expectativas ao não se comprometer a revisar a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, medida essencial para o País estar consoante ao Acordo de Paris e corrija a “pedalada climática” do governo Bolsonaro”. Essa NDC brasileira estabelece o compromisso de redução de emissões de gases do efeito estufa e emissões em geral, sendo já considerada uma das mais “ambiciosas” do mundo. Ou seja, ela quer que o Brasil se comprometa com uma desindustrialização ainda mais radical do que o país já sofreu com tantos governos entreguistas da direita.
Para deixar a tentativa de enquadrar Lula em favor do imperialismo ainda mais explícita, Asano fez referência ao imbróglio entre o presidente e o Ibama: “Espera-se do governo brasileiro uma postura corretiva, no ambiente doméstico e internacional, sobre o uso excessivo de combustíveis fósseis e a revisão a respeito da abertura de novos locais de exploração de petróleo, especialmente em regiões sensíveis como a foz do Amazonas”.
Em resumo, todos os pontos criticados pela “ongueira” apontam para aspectos do embate da política nacionalista de Lula com a dominação imperialista sobre o país. Não por acaso, na matéria publicada no site da ONG sobre o discurso de Lula aparece o problema da “mulher negra” no STF. Aproveitando comentário de Asano sobre a fala do presidente em relação ao combate à violência contra mulheres, LGBTs e deficientes, a matéria coloca que:
“Organizações do movimento negro e da sociedade civil encabeçam neste momento uma campanha para Lula indicar uma mulher negra à vaga que será aberta no Supremo Tribunal Federal em razão da aposentadoria da ministra Rosa Weber. Em 132 anos, os níveis de diversidade racial e de gênero na Corte são extremamente baixos.”
Aparentemente, o “movimento negro” e a “sociedade civil” estariam por trás dos outdoors na Índia e nos Estados Unidos, exercendo pressão sobre a escolha de ministros do STF não nas ruas, mas alugando espaços caríssimos de propaganda. Infelizmente, é muito difícil seguir com precisão o rastro do dinheiro, mas não dá para considerar natural esse alinhamento entre quem defende com paixão as políticas do imperialismo e o que seria uma defesa “progressista” pela indicação da tal “mulher negra” para o STF. Ou seria apenas um excesso de coincidências?