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Um político nacionalista

Imperialismo se incomoda com discurso de Lula na ONU

Denúncia ao neoliberalismo; denúncia da ingerência dos países imperialista através do imperialismo; denúncia contra o bloqueio a Cuba; denúncia da perseguição a Assange

Teve início nessa terça-feira (19) a 78ª da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Ocorrendo na sede da entidade, em Nova Iorque, Estados Unidos, coração do imperialismo, o discurso de abertura, por parte de chefes de Estado, ficou a encargo do presidente Lula. Já é um costume na Assembleia Geral que o primeiro discurso por parte de um chefe de Estado fique a cargo do presidente do Brasil, seguido do mandatário dos EUA.

Nos dias que antecederam o discurso de Lula, a imprensa pró-imperialista publicou diversas matérias especulando se Lula modificaria sua posição nacionalista, que já havia sido expressa em outras ocasiões (como no recente encontro do G20). Muitas até mesmo procuravam enquadrar Lula, dizendo que ele deveria adequar seu discurso em relação ao meio ambiente, à guerra na Ucrânia, ao dólar como moeda dominante, dentre outros assuntos.

Mostrando que não é um serviçal do imperialismo, e muito menos a burguesia brasileira, lacaia dos países imperialistas, Lula reiterou suas posições nacionalistas expressas anteriormente. Inclusive, o fez de forma mais enfática.

Apesar de ter iniciado seu discurso falando sobre a “crise climática”, dizendo que quando fez seu primeiro discurso na assembleia, em 23 de setembro de 2003, o mundo não havia se dado conta dela, logo ficou claro que Lula não assumiria a posição ambientalista do imperialismo.

Partiu para criticar a fome no mundo, a qual “atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”.

Nesse sentido, apontou que o “mundo está cada vez mais desigual”, denunciando a imensa concentração de renda nas mãos da grande burguesia imperialista, e o fato de que essa desigualdade acaba por traçar o destino dos seres humanos:

“Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe.

A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida. Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente.

Se terá acesso à saúde, ou se irá sucumbir a doenças que já poderiam ter sido erradicadas. Se completará os estudos e conseguirá um emprego de qualidade, ou se fará parte da legião de desempregados, subempregados e desalentados que não para de crescer”.

Denunciou o imperialismo (embora não de forma expressa), afirmando que “falta vontade política daqueles que governam o mundo” para vencer a desigualdade.

Especificamente, denunciou o neoliberalismo como causa agravante da desigualdade no mundo. “Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos”, disse Lula. Uma posição inequivocamente contrária ao imperialismo, afinal política neoliberal saiu diretamente do seio dos países imperialistas na década de 70 do século XX).

“Os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a “voz dos mercados” e a “voz das ruas”.

Mas sabemos que muitos criticam o neoliberalismo. Afinal, é gritante o caráter genocida dessa política.

Sendo assim, Lula não se limitou a isto. Tocou em pontos mais sensíveis. Um deles foi a questão ambiental.

Nisto, Lula fez questão de deixar claro que são os países imperialistas os responsáveis pela dita “crise climática”:

“São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera”.

Aproveitou também para denunciar a hipocrisia dos países imperialistas, que exigem dos países oprimidos que adaptem sua economia à dita “transição energética”, mas não fornecem recursos outrora prometidos para auxiliar nessa tarefa:

“Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade.

A promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa.

Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”.

Ainda sobre essa questão, deixou inequívoco (embora de forma implícita), que a Amazônia é problema dos Estados nacionais que conformam o território da floresta. E o mesmo vale para as florestas de outros países oprimidos na África e na Ásia. Fez questão de frisar que os países oprimidos não devem ser tutelados, e que a preservação ambiental deve se dar de acordo com as necessidades desses países, e não do imperialismo:

“O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si. Sediamos, há um mês, a Cúpula de Belém, no coração da Amazônia, e lançamos nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma.

Somos 50 milhões de sul-americanos amazônidas, cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região.

Também aprofundamos o diálogo com outros países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia.

Queremos chegar à COP 28 em Dubai com uma visão conjunta que reflita, sem qualquer tutela, as prioridades de preservação das bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong a partir das nossas necessidades”.

O que Lula basicamente está dizendo é que somos nós, os povos oprimidos do mundo, que somos responsáveis por nossos territórios. O imperialismo não tem que nada o que tratar aqui, deve respeitar nossa soberania.

E quanto à questão da Ucrânia, sobre a qual Lula tem uma posição contrária ao imperialismo, qual seja, a posição pelo fim da guerra? O presidente novamente reiterou essa posição:

“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU.

Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz.

Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo.

Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações.

Investe-se muito em armamentos e pouco em desenvolvimento.

No ano passado os gastos militares somaram mais de 2 trilhões de dólares”.

Tudo bem, nessa questão não disse expressamente que os países imperialistas continuavam a impulsionar a guerra, como já havia dito em outras ocasiões. Contudo, sua posição continua a mesma, embora nas entrelinhas. Nesse contexto, criticou a política de sanções:

“As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados.

Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos”.

Ora, quem aplica essa política? Quem tem condições de aplica-la? O imperialismo, que estabeleceu sanções dantescas contra Rússia, com o início da guerra. Felizmente, o tiro saiu pela culatra, de forma que vem aprofundando a crise econômica nos países imperialistas, gerando instabilidade política para sua classe dominante.

Ainda sobre a questão das sanções, denunciou expressamente o embargo genocida contra Cuba, imposto pelos Estados Unidos há mais de 60 anos:

“O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo”.

Pergunta-se, um capacho do imperialismo, uma pessoa a serviço da burguesia entreguista brasileira (como muitos esquerdistas desmiolados afirmam) assumiria tais posições, na Assembleia da ONU, em Nova Iorque? De certo não.

Uma das mais significativas declarações de seu discurso foi a denúncia contra a perseguição feita pelo imperialismo (em especial o norte-americano e o britânico) a Julian Assange. Nela, defendeu a liberdade de imprensa, indo de encontro à política de censura que vem sendo posta em prática pelo imperialismo, com cada vez mais intensidade:

“É fundamental preservar a liberdade de imprensa.

Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima”.

Em suma: Lula denunciou o neoliberalismo; denunciou a tentativa de ingerência do imperialismo nos países oprimidos, utilizando o ambientalismo como disfarce; reiterou sua posição pela paz na Ucrânia; condenou o bloqueio a Cuba; defendeu Assange.

Todas posições tipicamente nacionalistas, que vão de encontro aos interesses do imperialismo. E posições veiculadas de forma enfática, mostrando que Lula não está disposto a abaixar a cabeça perante os EUA, Europa e Japão, não obstante sua política conciliadora.

Não seria exagero chamar o discurso de Lula de histórico.

Tudo bem, não é um discurso revolucionário. Mas Lula nunca disse ser um revolucionário. Ele é um representante do nacionalismo burguês de um país atrasado, o que lhe coloca em rota de colisão com o imperialismo na atual conjuntura.

Assim, dado seu caráter nitidamente nacionalista, apesar de todos os pesares, todos aqueles brasileiros que se dizem revolucionários e nacionalistas têm o dever de utilizar o discurso de Lula para impulsionar a luta anti-imperialista no Brasil.

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