O general Walter Braga Netto apareceu nas manchetes nos últimos dias por conta de investigação da Polícia Federal mirando o período em que foi interventor no Rio de Janeiro no governo golpista de Michel Temer. Depois desse período ainda foi Ministro-Chefe da Casa Civil e Ministro da Defesa no ilegítimo governo Bolsonaro. O objeto da investigação é a compra de 8,5 mil coletes a prova de bala, que teriam sido adquiridos com valores superfaturados em 2018, no que é mais uma ação que apura possíveis crimes cometidos por figuras ligadas a Bolsonaro.
Segundo análise do Tribunal de Contas da União, os coletes teriam sido adquiridos com sobrepreço de R$ 4,6 milhões. A justificativa para a compra sem licitação era o prazo de vencimento dos equipamentos, porém o TCU entendeu que a compra não foi vantajosa e determinou a devolução dos valores pagos à empresa norte-americana CTU Security LLC. Importante levar em conta que a restrição imposta pelo tribunal se deu mesmo diante do entendimento de que a intervenção militar no estado era um “momento excepcional”.
Em relação às figuras políticas da direita, cabe aqui aproveitar a oportunidade para expor mais uma vez que de puras e honestas elas não têm nada. Enquanto enchem a boca para falar de combate à corrupção, combate à criminalidade e outras cruzadas morais fajutas, não são raros os casos que apontam para grande probabilidade de atuação criminosa. Por essas e outras não se deve levar a sério, nunca, as campanhas contra a corrupção que a burguesia lança mão recorrentemente para perseguir adversários ou inimigos políticos. Na maioria das vezes que essas campanhas atingem figuras da direita, o que se vê é mais fumaça do que fogo, ao contrário do que acontece quando algum esquerdista cai nas garras da “justiça”.
Isso dito, é preciso também manter um acompanhamento sóbrio quando alguma figura da direita é colocada no banco dos réus da imprensa burguesa. No Brasil temos assistido uma perigosa escalada de arbitrariedades cometidas pelo Poder Judiciário, o único que não passa nem pelo crivo das eleições burguesas. Parte da esquerda tem cometido o erro recorrente de comemorar arbitrariedades quando são cometidas contra figuras marginais da direita, chegando ao ridículo de exaltar juízes como Alexandre de Moraes, indicado ao STF por ninguém menos que Michel Temer ainda no primeiro ano pós-golpe.
Um fato obscuro em torno da atual operação da PF é que quem motivou a reabertura da apuração do TCU em torno da compra dos coletes foi a Agência de Investigações de Segurança Interna dos Estados Unidos, órgão do governo norte-americano. Aparentemente essa “segurança interna” abrange o “quintal” deles, pois estava investigando o assassinato do presidente do Haiti ocorrido na capital Porto Príncipe em 2021. A investigação apurou que a mesma empresa da venda dos coletes teria fornecido apoio militar para a realização do assassinato. O governo dos Estados Unidos então notificou a PF acerca daquela que seria uma compra superfaturada, algo que já tinha sido analisado e encaminhado pelo TCU.
Além desse alerta em torno do estopim da investigação atual, que pode estar inserida na operação de desgaste do bolsonarismo, também é válido ressaltar que, apesar de ganhar destaque nas manchetes, Braga Netto não foi alvo de nenhum dos 16 mandatos de busca e apreensão que miraram ex-integrantes do Gabinete de Intervenção Federal. Ou seja, ao mesmo tempo em que potencialmente puxa o eleitorado da direita para a direita mais tradicional, a “terceira via”, o que já foi divulgado sobre o caso aponta para que os figurões da direita seguirão ilesos.