Desde que tomou posse, um dos principais, senão o principal inimigo do governo Lula é o Congresso. Esse poder tem barrado as principais iniciativas de Lula no sentido de fazer avançar a luta pelos direitos do povo, como é o caso, por exemplo, da Medida Provisória que garantiria a aplicação do Bolsa Família nos termos ditados pelo Executivo.
Para muitas pessoas, o Congresso é uma instituição composta por pessoas que querem, de maneira simples e direta, dinheiro e poder que, por sua vez, facilitaria o acesso a mais dinheiro, a um espaço nos Ministérios do Executivo etc. Logicamente, trata-se de uma organização altamente fisiológica e que, portanto, esse tipo de preocupação é constante dentre os membros do Congresso Nacional.
Todavia, o problema aqui é outro. O embate entre Lula e o Congresso não é um mero embate por dinheiro, mas sim uma luta política contra o governo do PT que procura, em última instância, sabotar completamente Lula para que ele não consiga governar e seja obrigado a aceitar os ditames do Legislativo.
É por isso, inclusive, que o governo se vê tão desarmado diante do Congresso: não adianta oferecer dinheiro para os parlamentares, eles simplesmente não irão mudar de posição política. Esta está definida, e é justamente isso que se manifestou nas votações recentes, que deixaram claro que o Congresso não deixará o governo fazer uma série de coisas que este pretende fazer.
O recente desmantelamento dos Ministérios do governo por parte do Congresso mostraram que Lula não tem poder nenhum para impor nada ao Legislativo. Arthur Lira, em fala recente, reforçou isso ao afirmar que não existe base governamental no Congresso Nacional. O que ele queria dizer com isso é que o agrupamento de Lira não é uma base do governo, mas sim um agrupamento independente que trabalhará contra Lula.
A declaração de Eduardo Cunha, um dos principais responsáveis pelo golpe contra Dilma, tem o mesmo caráter. Ao afirmar que o governo precisa “aprender a conversar com os parlamentares”, Cunha demonstra um cinismo digno de um arauto do povo brasileiro. Afinal, o que Lula tem a conversar se ele é completamente refém do Congresso e não consegue fazer nem mesmo uma reorganização ministerial. Não tem muita conversa.
Nesse sentido, o governo Lula está caminhando para uma encruzilhada. Em determinado momento, ele terá que optar obrigatoriamente por seguir entre dois caminhos distintos do qual trilha atualmente, pois este já não é mais sustentável. De maneira explícita, Lula terá de deixar a política de “entendimento” que ele tem em relação ao Congresso e entrar em um embate frontal com o Legislativo.
Ou o governo torna-se completamente impotente frente ao Congresso, controlado por parlamentares golpistas que não pararão de atacar os direitos do povo, ou ele parte para um enfrentamento a essa situação, algo que demandará uma grande mobilização popular que possa dar condições políticas para a esquerda agir em prol dos trabalhadores.