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Briga dos oportunistas

O que está por trás da baixaria entre Jones Manoel e o PCB?

Um setor mais pró-imperialista do PCB, de Jones Manoel e Ivan Pinheiro, disputa o poder da organização contra a atual direção

Jones Manoel

Na última semana, foi tornada pública nas redes sociais uma crise no Partido Comunista Brasileiro (PCB). A direção do partido e o youtuber Jones Manoel começaram a trocar diversas acusações que puderam ser acompanhadas pelo publico em geral. Antes de tudo, vale mencionar que a luta política no interior do partido tem um caráter chulo. Espera-se que o debate político, em um partido de esquerda que se diz marxista, seja duro, mas principalmente político. No entanto, principalmente da parte de Jones Manoel, o debate é uma baixaria.

O youtuber, que informou ter sido expulso de seus cargos dirigentes no partido, publicou documentos do debate interno, o que, aparentemente, o PCB não permitiria, fazendo acusações de baixo calão. Jones denuncia que os dirigentes “comunistas” ficariam felizes com a morte de Ivan Pinheiro (antigo dirigente partidário que está ao lado da ala do webcomunista contra a atual direção) e destacando que não queria ser a Marieli Franco (vereadora do PSOL assassinada no Rio de Janeiro) do PCB, afirmando que o partido nada fez pela sua segurança diante de uma suposta ameaça à sua vida.

Por parte da direção do PCB, diversas outras acusações de baixíssimo nível foram feitas e podem ser lidas na carta de Ivan Pinheiro para o Comitê Central.

Em geral, são argumentos extremamente grotescos, algo natural em um partido pequeno-burguês oportunista, onde uns pulam no pescoço dos outros para levar adiante seus interesses pessoais.

Fato é que Jones Manoel correu na internet e criticou o secretário-geral, Edmilson Costa, e o secretário de relações internacionais, Eduardo Serra. A publicização do debate foi considerada ilegal pelo partido. Jones, Pinheiro e outros webcomunistas denunciaram os dirigentes do partido de adotarem medidas autoritárias e promoverem um expurgo no PCB. É difícil julgar de fora, mas é provável que isso seja um fato; nos partidos pequeno-burgueses, prevalece a falta de democracia interna em detrimento dos interesses da casta dirigente do momento.

No entanto, a causa fundamental da briga parece ter causa na situação política internacional, como aponta Pinheiro em sua carta ao CC do PCB.

Após a dissolução da União Soviética, estilhaços do stalinismo continuaram existindo em alguns países — em outros, se formaram novos partidos, como o atual PCB. Esses partidos comunistas, no entanto, são uma colcha de retalhos muito variada, não têm unidade, não têm programa em comum e, na sua maioria, são partidos pequeno-burgueses, centristas e oportunistas que buscam se aproveitar do nome de Partido Comunista para exercer sua influência.

Ao que tudo indica, há dois partidos comunistas (com exceção de Cuba e China, onde os PCs governam) que influenciam esses setores comunistas: o Partido Comunista Português (PCP) e o Partido Comunista da Grécia (KKE, na sigla em grego). E esses dois polos têm posições distintas sobre a guerra na Ucrânia. Enquanto os setores aliados ao PCP (o que inclui a direção do PCB) têm uma posição mais favorável à Rússia, mesmo que centrista; a ala dirigida pelo KKE (Jones, Pinheiro e os webcomunistas) tem uma posição mais favorável à OTAN, falando em luta “interimperialista”, acusando Rússia e China de serem países imperialistas — e, dessa forma, adotando uma política pró-imperialista na guerra, disfarçada de política pacifista.

A crise mostra que não há coesão ideológica entre esses partidos, que, mesmo pequenos, realizam uma briga selvagem. A ala do PCP acusa o outro setor de ser vendido ao imperialismo, enquanto a ala do KKE diz que os outros são comprados por Rússia e China.

No PCB, a crise, como demonstra Pinheiro em sua carta, surgiu por causa da participação dos dirigentes do partido (que não levaram em consideração a política pró-imperialista aprovada pelo XVI Congresso do partido) na chamada “Plataforma Mundial Anti-imperialista”. Essa plataforma conta com a participação de diversos partidos comunistas, como o PCP e aliados, assim como de partidos nacionalistas, como o PSUV de Nicolas Maduro, presidente da Venezuela. Os setores mais pró-imperialistas do PCB (Jones, Pinheiro, etc) acusaram, então, os dirigentes de abandonarem a política revolucionária em favor do “etapismo” — isto é, de ficarem a reboque do nacionalismo burguês.

A divergência política é um pano de fundo da crise, que demonstrou haver uma luta pelo controle do PCB — uma luta pelo nome, visto que, ao contrário do antigo Partidão, a atual legenda não tem um grande aparelho.

Os dirigentes do PCB, através da Comissão Política Nacional do seu Comitê Central, denunciaram que, em vários partidos comunistas, setores “liquidacionistas” surgiram. Segundo a denúncia, criou-se um grupo de pessoas que atuam na internet, os chamados webcomunistas, acusados de não atuarem no movimento real. Sem entrar no mérito de se os dirigentes do PCB, eles mesmos, atuam ou não no movimento real, é um fato que o tal webcomunismo é suspeito, formado por elementos não militantes que crescem individualmente em seus canais na internet.

Ainda, como fez Jones Manoel, se no partido há um setor que leva a luta política do partido para fora da organização, o que se está fazendo é um apelo ao conjunto das forças políticas para interferir no debate interno do partido. Se a crise aumentar, isso vai aparecer na imprensa burguesa, que vai tentar interferir em relação à crise partidária. Isso é um problema e algo muito significativo. Se realmente existe dentro desses partidos pequeno-burgueses e centristas um setor que se apoia, para controlar o partido, em forças de fora do partido, isso é uma infiltração política nesses partidos, uma tentativa de controle por parte da burguesia e do imperialismo.

Assim, o debate foi tornado público pelo próprio Jones Manoel, que fez questão de apelar às forças externas ao partido. Como já denunciamos nesse Diário, Jones é um elemento que tem um respaldo bastante grande de forças políticas ligadas ao imperialismo — foi divulgado pelo tucano Caetano Veloso, ganhou destaque em documentário da Globo (GNT) e é ligado aos grupos de esquerda que recebem financiamento de organizações imperialistas.

No Brasil, há um fenômeno que corre em paralelo à questão da Ucrânia (que trouxe à tona essa questão). A crise demonstra que existe um esforço de tomada desses partidos comunistas por setores do imperialismo. Como ficou claro no Brasil, o webcomunismo é movimento pró-imperialista — com posições identitárias, sendo paparicados por setores da burguesia, entre outros fatores.

De fato, existe um esforço muito grande do imperialismo para controlar a esquerda mundial — isso passa também por controlar a chamada “esquerda radical”. Por isso, apesar do PCB ser um partido pouco significativo, é importante acompanhar o decorrer da situação, pois dá dados para compreender o movimento de infiltração imperialista.

O fato do PCB ser insignificante, não ter uma intervenção real na luta política, demorar para tomar posições sobre os acontecimentos importantes e ser formado por webcomunistas, professores universitários e uma juventude desorientada, é importante acompanhar o caso por causa da movimentação política internacional do imperialismo, que é muito grande — como deixam claro os casos da chamada “nova esquerda”: Boric no Chile, Boulos no Brasil, etc.

Ademais, importante deixar claro que o próprio Jones Manoel assumiu nas redes sociais que, em parte, a briga contra a direção do PCB é que ela, segundo ele, não é suficientemente anti-PT. Isso apesar de a direção do PCB falar em combater o arcabouço fiscal petista e participar de movimentos contra o governo. O caráter concreto da situação brasileira não aparece, mas a impressão que fica é que um lado é muito mais pró-imperialista do que o outro: falando em estelionato de Lula, chamando o PT de “social-liberal” (isto é, igualando-o à direita), etc.

A esquerda precisa ter paciência e acompanhar esse problema para se armar contra a infiltração do imperialismo na esquerda.

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