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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

História em quadrinhos

O erotismo na história em quadrinhos – 1ª parte

A pornografia está nos olhos de quem vê

              Nasci em 1964; durante a infância, comecei lendo HQs de super-herói; no que diz respeito à representação de partes desnudas do corpo, lembro-me dos bíceps do Poderoso Thor e do Coisa, do Quarteto Fantástico, quem, sendo feito de pedra, vestia quase sempre apenas calção bastante justo. Havia também as super-heroínas, todas elas sensuais; não me esqueço das pernas da Supermoca, sempre de shortinhos, nem das poses eróticas da Diana Prince, principalmente na fase em que, perdendo seus poderes de Mulher Maravilha, ela se torna mais humanizada em “As aventuras de Diana”.

              Com o tempo, durante a puberdade, os interesses pelos quadrinhos permaneceram, mas passei a prestar atenção em imagens explicitamente sexuais, tais quais as mocinhas vestidas de camisola transparente, com destaques no colo, nos quadris e nas pernas; nas revistas de terror, essas mocinhas apareciam constantemente, além da Vampirella, quase nua no uniforme vermelho. Dessa maneira, desde a adolescência leio quadrinhos eróticos; comecei pela Valentina, criação de Guido Crepax, quem fazia sexo fetichista com homens e mulheres, e terminei lendo Bionda, criação de Franco Saudelli, imersa em sexo com bondage e fetiche por pés.

              Do Thor à Bionda, havendo corpo – inclusive os corpos do Coisa e do Tocha Humana –, parece haver erotismo. Embora Valentina, Bionda e Vampirella sejam explicitamente personagens de quadrinhos eróticos, creio que, exceto nos quadrinhos infantis – mesmo assim, isso é discutível –, o tema do erotismo está presente em todos os demais gêneros de HQ. Nas HQs de super-heróis, há homens e mulheres com corpos delineados, comumente vestindo uniformes justos e colados no corpo, quando não estão quase nus – Namor, o príncipe submarino, em suas primeiras versões veste apenas sunga verde – ou completamente nus – na primeira versão cinematográfica da Mística, inimiga dos X-Men, ela não veste nada –.

              Vampirella é terror erótico e, embora seja famosa no gênero, não é a única; no mundo das vampiras, vale lembrar de Mirza, a Mulher Vampiro, de Eugênio Colonnese, e tantas outras. O terror sempre esteve semeado de erotismo desde as noivas de Drácula, já presentes no romance de Bram Stoker; o conto da sedutora vampira Carmilla, de Sheridan le Fannu, é anterior ao Drácula; no cinema, do Nosferatu, de Werner Herzog, aos clássicos do Zé do Caixão, sempre há mocinhas vestidas só de camisola, fugindo dos monstros ou cedendo a seus encantos. As capas das revistas de terror não são exceções; além das capas, os exemplos de erotismo nas páginas do miolo são tão constantes como o próprio terror.

              Enfim, algumas palavras sobre os quadrinhos propriamente eróticos. O erotismo é gênero importante na história das HQs, sejam os dirty comics americanos, os catecismos de Carlos Zéfiro, sejam as novelas gráficas de Guido Crepax ou Georges Pichard. Os quadrinhos eróticos podem ser abordados de variados pontos de vista, é possível: (1) fazer suas histórias ao longo do tempo; (2) apontar diferenças entre as HQs eróticas de países culturalmente distintos; (3) contar passagens curiosas sobre os autores; (4) comemorar os felizes encontros de Allan Moore e Melinda Gebbie, ou Frédéric Boilet e Aurelia Aurita.

              Ao falar de HQs eróticas, escolhi refletir sobre o tema das minorias sexuais e mostrar o quanto a suposta pornografia, antes de diminuir homens e mulheres, segundo concepções, em regra, carregadas de moralismo burguês, pode despertar a consciência sexual das pessoas ao discutir e expor o sexo. Para tanto, nas colunas das próximas semanas, pretendo apontar, nas HQs, a presença de gays, lésbicas, transsexuais, sadomasoquistas, podólatras… outros fetiches e, até mesmo, a necrofila em “Necron”, de Magnus.

              Eis as capas das revistas citadas:

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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