O Campeonato Mundial de Clubes da FIFA se tornou uma farsa. Uma encenação que não mede a força das escolas futebolísticas de cada país, como ainda o faz a Copa do Mundo, por meio da representação dos clubes de futebol. O que, em tese, diminuiria o aspecto nacional que o têm as seleções, mas incorporaria o fato paixão que orbita mais os clubes do que as equipes nacionais. Assim o foi, por muitos anos, com os campeonatos Intercontinentais promovidos pela Toyota para o enfrentamento dos dois principais continentes do futebol: América do Sul e Europa.
Em que pese a insuficiência da Copa Intercontinental em representar o mundo do futebol, já que excluía os principais times de fora de América do Sul e Europa, ela conseguia reunir o campeão de cada um desses continentes, numa partida em que se media a prevalência dos talentos individuais e da forma de jogar de cada país ali representado. As equipes italianas vinham com defesas bem postadas e jogadores de tocada clássica, a Alemanha cheia dos cinturas duras, mas aplicada taticamente em verdadeiros tabuleiros de xadrez em que executavam estratégias complexas e eficazes, os argentinos vinham com dedicação e muita briga, os brasileiros apareciam com sua genialidade e mostrando a excelência na arte de se jogar futebol.
Assim, pode-se lembrar o chuveirinho inglês no gol de Roy Keane, pelo Manchester United, da Inglaterra, contra o Palmeiras em 1999. A falta magistralmente batida por Raí, do São Paulo, no gol contra o Barcelona, da Espanha, em 1992. A pancadaria do Velez Sarsfield, da Argentina, contra o Milan, na Copa Intercontinental de 1994. Se retornarmos ainda mais no tempo, há de se lembrar da eficácia do desconhecido time do Hamburgo, contra a genialidade de Renato Gaúcho e Mário Sérgio, aliada à excelência de Paulo César Caju e à raça de Hugo De León, no título mundial do Grêmio, em 1983.
Após a Lei Bosnan, de 1995, em que a FIFA permitiu que, grosso modo, quaisquer jogadores de quaisquer países jogassem por quaisquer equipes, o futebol se misturou. O capitalismo concentrou economicamente os melhores jogadores em cinco ou seis times, as escolas desapareceram em prol de um tatiquês incompreensível, e o Mundial de Clubes foi paulatinamente se tornando um torneio amistoso com chancela FIFA, em que o campeão é previsivelmente o bilionário time europeu, a menos que ocorra uma zebra até hoje não vista. Os primeiros mundiais FIFA, mais ou menos entre 2005, o primeiro, e metade da década passada, permitiam certa disputa e São Paulo em 2005, Inter em 2006 e Corinthians em 2012 conseguiram a façanha de bater Liverpool, Barcelona e Chelsea, respectivamente. Os argentinos, de futebol tecnicamente inferior, já desaparecera da disputa.
Hoje, porém, isso se tornou quase impossível. Mesmo porque os brasileiros, via de regra, enfrentam nesse confronto os melhores brasileiros, do outro lado. E, mesmo que os europeus não tenham futebol que se compare aos brasileiros, pinçando o melhor de cada país, tem-se um time ao qual a segunda linha de brasileiros, e sul-americanos reunidos no gigante brasileiro, até consegue fazer frente, mas até hoje não conseguiu vencer.
Pode ser que seja a primeira vez em 2023, com o Fluminense. O campeonato começa nesta terça-feira (12), com transmissão de todos os jogos pela CazéTV, no YouTube. Mas não vale apostar muitas fichas nisso numa vitória brasileira contra o extrato da elite do futebol global. O poder do capital comprou a exclusividade do futebol de clubes para a Europa. Resta o de seleções, o qual os esforços imperialistas são por levar embora também. Porém, resta saber que não existe mais “campeão do mundo”, visto que o “mundo” está reunido em poucos times, dos quais um disputa este torneio amistoso numa lógica mais como a do boxe: vários sparrings do mundo todo, o brasileiro como o desafiante.