Os acontecimentos desse domingo (08/01), nos quais a extrema-direita, representada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, invadiu e depredou o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) revelam falhas graves, ou mesmo má-fé, de quem é responsável pela segurança do novo governo. Depois desse episódio, aproximadamente 1.500 pessoas foram detidas. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), além de ordenar a prisão do ex-chefe da Polícia Militar, Fábio Augusto Vieira, e do ex-secretário da Segurança Pública, Anderson Torres, que também já havia exercido o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. No entanto, os erros não se restringem a esses departamentos. A dimensão do que houve vai bem além disso.
O episódio escancarou a incrível incapacidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado por Flávio Dino, de antever e preparar o aparato de segurança contra os ataques que ocorreram no fim de semana. Além disso, mostrou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não pode confiar em quem escolheu para atuar em seu terceiro mandato à frente da Presidência da República. Sobre isso, vale destacar a figura de José Múcio, atual ministro da Defesa, bolsonarista escolhido pelo petista para acalmar os militares. Agora, o ponto principal para entender o que houve em Brasília passa pelo comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Gonçalves Dias.
Há informações de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o GSI sobre o risco que os acampamentos bolsonaristas próximos à Praça dos Três Poderes representavam e o órgão não se movimentou para impedir a investida da extrema-direita. Além disso, cerca de 20 horas antes dos ataques, o GSI chegou a dispensar o pelotão de 36 homens do Batalhão da Guarda Presidencial. De acordo com o jornalista do jornal O Estado de São Paulo, Marcelo Godoy: “O domingo, porém, amanheceu na Esplanada com a sede do governo federal apenas com o efetivo da guarda normal, quase desprovida de equipamento de controle de distúrbios civis, como escudos, bombas de gás e balas de borracha. A maioria do efetivo dispunha somente de fuzis com munição letal”. Apenas depois, no começo da tarde, o Comando Militar do Planalto (CMP) entrou em contato com o GSI solicitando a presença do pelotão no Planalto. A tropa presente ainda era muito menor do que a acionada em outras situações.
Todo esse cenário reside na explicação de que o GSI ainda mantém a mesma estrutura do governo de Bolsonaro, a formação pensada pelo general Augusto Heleno continua a mesma, apesar da mudança de governo, o que explica como as pessoas entraram nos prédios e acessaram diversos lugares com tanta facilidade. O general da ativa, Carlos José Russo Assumpção Penteado, Secretário-Executivo do general Heleno, por exemplo, segue no mesmo cargo. Ele é conhecido pelo seu ódio contra a esquerda, o PT e Lula, deixando clara a sua preferência por Bolsonaro e a sua tendência ao fascismo.
Outro general que continua com a mesma função é Carlos Feitosa Rodrigues. Ele continua exercendo o cargo de Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial e segue a mesma conduta de Penteado. Esse setor, inclusive, é o principal responsável pela segurança e proteção do Presidente da República, do seu vice, de todos os seus familiares, das residências oficiais e palácios presidenciais, segundo o decreto 9.688/2019.
Dessa forma, fica claro como e o porquê de os manifestantes invadirem com tranquilamente as sedes dos Três Poderes. O GSI mantém a sua lealdade não somente a Bolsonaro, mas à conduta fascista que segue predominando dentro do órgão. A parte bolsonarista das Forças Armadas, principalmente o Exército, forma o pilar na tentativa de desestabilização do novo governo. Está em curso um processo para promover o tumulto e a desordem, o que é benéfico para os movimentos da extrema-direita. Desde o resultado das eleições presidenciais no ano passado, o bolsonarismo não descansou e consegue se manter em destaque com o auxílio dessa ala do Exército.
Rui Costa, ministro da Casa Civil, chegou a exonerar o coronel da reserva Adriano de Souza Azevedo, considerado homem de confiança do general Heleno, da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do GSI, e de Fabiane Ramos de Alcântara do cargo de Assessora da Assessoria Especial Parlamentar do GSI, com a finalidade de tentar reduzir a influência de apoiadores de Bolsonaro no órgão. Mas essas atitudes ainda não são o suficiente.
O GSI é mais um instrumento de que os militares dispõem para manter o poder e conspirar contra o governo. Não faz sentido Lula continuar com um órgão que tem essa estrutura. O GSI precisaria ser extinto e, em seu lugar, o PT deveria investir em nomes de confiança da esquerda, capazes de garantir a segurança de Lula, permitindo que ele governe para a população que o elegeu.