Neste dia 7 de fevereiro, presidente Lula, nem entrevista a 40 canais de imprensa independente, denunciou a privatização criminosa da Eletrobras. Lula destacou que o governo ficou com apenas 40% das ações da empresa, sendo obrigado a atuar como se tivesse apenas 10% e tendo que pagar três vezes mais que um concorrente comum para adquirir novas ações; o presidente classificou como “quase uma bandidagem” essa privatização.
Além disso, Lula também disse que o advogado geral da União entrará com uma ação para rever este contrato com cláusulas “leoninas” contra o Estado. O mandatário não poupou críticas à privatização e a chamou de “crime de lesa-pátria” – tais foram as declarações do presidente da República, dando a mostra de um acentuado giro à esquerda.
Naturalmente, todo conjunto da burguesia se opôs duramente ao petista. O comentarista Valdo Cruz publicou uma coluna no G1, em que analisou que Lula estará completamente isolado no Congresso e mal terá apoio sequer de sua base aliada para reverter a privatização da Eletrobras; de acordo com a coluna, o apoio se limitaria ao próprio PT.
Ou seja, trata-se de um indicativo de como a burguesia tratará as propostas esquerdistas do governo Lula. Tais posições de defesa do país do presidente o colocam, diretamente, em conflito com os capitalistas: é desse ponto de vista que deveria ser analisada a questão da reestatização da Eletrobras.
Na bolsa de valores, os papéis da Eletrobras tiveram queda em torno de 3,51%, representando a forte reação dos especuladores contra o governo e em defesa da privatização. Lula se vê confrontado pelo conjunto da burguesia em bloco, contra ele. Todo aquele palavratório vazio de defesa da democracia se desmanchou no ar: agora, para defender a entrega da soberania brasileira, juntam-se tanto os democratas, quanto os fascistas da burguesia; há a frente ampla da Folha de S. Paulo, da Globo, do mercado financeiro e de Bolsonaro.
E qual a base em defesa do governo Lula? O presidente fez uma audaciosa declaração, em defesa da soberania nacional, contra a privatização “lesa-pátria” da Eletrobras – utilizando, inclusive, este termo. Mas o problema colocado é: como levar adiante a luta por tal objetivo? A resposta, neste caso, é: com um bloco dos trabalhadores para confrontar a burguesia. Trata-se do único fenômeno material e concreto sobre o qual pode se apoiar o governo Lula.
Para isso, é preciso chamar a CUT e iniciar um amplo movimento das bases contra as privatizações iniciadas desde o golpe de Estado. Não só lutar pela reestatização da Eletrobras, que seria uma grande vitória para a classe trabalhadora brasileira, mas também pela reestatização da Petrobras, pelo petróleo 100% nacional, pela reestatização da Vale do Rio Doce e pela reestatização das principais empresas nacionais.
Lula deu o primeiro passo: denunciou, aos olhos de todo o povo e com a autoridade de presidente da República, o criminoso negócio feito com a Eletrobras no balcão de negociações da burguesia durante o governo Bolsonaro. Trata-se de um importante passo, inclusive, para evoluir na consciência dos trabalhadores a necessidade de lutar pela reestatização da empresa.
O presidente foi além e disse que vai pedir para que a AGU entre com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra determinadas cláusulas do contrato. Isso, no entanto, apesar de atacar as cláusulas mais “leoninas”, para usar o termo utilizado por Lula, passa longe de resolver a questão. Sem uma ampla mobilização dos trabalhadores, sem que se chegue próximo a uma verdadeira convulsão social, será muito difícil conseguir reverter qualquer uma das privatizações feitas durante o golpe de Estado.
A CUT precisa chamar uma plenária com suas bases para discutir a questão. É preciso montar um calendário de lutas. Mas Lula indicou o caminho a ser seguido; e, tendo em vista que ele é o presidente da República e que carrega diante de si uma poderosa base operária – o que dá um peso de força material a estas declarações classificando a venda da Eletrobras como lesa-pátria –, elas já cumprem uma função muito significativa na luta de classes. Não à toa, a bolsa caiu e toda burguesia acendeu o sinal vermelho. Se fosse qualquer outra pessoa falando a mesmíssima coisa, obviamente, não teria o mesmo impacto: eis, também, o caráter e a força de Lula na situação política, que consiste, justamente, em possuir atrás de si um grande movimento operário. Se só uma declaração fez estremecer a imprensa burguesa pelo medo do que pode vir, agora, trata-se de mobilizar esta base.