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Nos EUA

Lula diz que Brasil é soberano sobre a Amazônia

Em coletiva de imprensa após reunião com Biden, Lula defendeu soberania sobre território amazônico

O presidente Lula se encontrou com Joe Biden, nessa sexta-feira, dia 10, em viagem oficial aos Estados Unidos, e defendeu a soberania do Brasil sobre a Amazônia. Antes disso, seguindo o cronograma oficial, do presidente brasileiro deu entrevista à repórter Christiane Amanpour da CNN, reuniu-se com o senador democrata Bernie Sanders e com representantes da AFL-CIO, a maior central sindical norte-americana.

Durante sua passagem pelos Estados Unidos, os principais temas tratados foram a questão da guerra russa contra a Ucrânia, da inclusão dos EUA no Fundo Amazônia e da ampliação do Conselho de Segurança da ONU. Durante sua entrevista na CNN, Lula também criticou a conduta do ex-presidente Jair Bolsonaro; já durante sua coletiva de imprensa após a reunião com Biden, anunciou que pretende visitar três países africanos nas próximas viagens internacionais, aprofundando as suas relações com o Brasil. 

A principal questão da viagem foi o Fundo Amazônia. Durante sua entrevista coletiva após a reunião com Joe Biden, Lula anunciou que o presidente norte-americano tinha a intenção de integrar o Fundo. Um pouco depois, o democrata confirmou que os EUA iriam entrar na iniciativa, que já existe há 15 anos, sobre o pretexto de “garantir a preservação ambiental”.

No entanto, há diferenças fundamentais no posicionamento de Lula para com a Amazônia em relação a outros setores da esquerda brasileira e da direita pró-imperialista. O presidente brasileiro anunciou, na coletiva de imprensa, que, mesmo com a participação dos Estados Unidos no Fundo, o território era brasileiro. Nas palavras do petista, “O Brasil não quer transformar a Amazônia em um santuário da humanidade, nem quer abrir mão de que a Amazônia é um território do qual o Brasil é soberano”.

Ou seja, apesar da política errônea de aceitar a existência de um fundo internacional de doação para a Amazônia, Lula defendeu que esse fundo não possa ir além da mera ajuda econômica. Disse, de maneira clara, que quem manda no Brasil são os brasileiros – trata-se, certamente, de uma posição muito diferente do restante da esquerda. Além do mais, disse que não concorda que o território vire santuário da humanidade, mas que seja usado para pesquisas científicas que possam fomentar o progresso do país, mais uma política que é a oposta da política da esquerda pró-imperialista e do próprio Biden.

Outro tema que ocupou a ordem do dia da visita do presidente brasileiro aos Estados Unidos foi a questão da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em entrevista à Amanpour, comentando sobre ela, Lula se posicionou de maneira firme, chegando a lembrar à repórter que os norte-americanos também invadiram o Vietnã. O presidente defendia a tese de que era preciso, no cenário internacional, ter alguém “falando em paz”, apesar do que classificou como erro de Putin.

É natural que, nos Estados Unidos, Lula adotasse uma política moderada em relação à guerra, apesar de se tratar de um equívoco. No entanto, isso é acessório, visto que o essencial é a defesa que o presidente fez da Rússia. Ele se opôs a política de sanções e de envio de armas para os ucranianos e desmascarou a farsa imperialista: um pacifista legítimo, ou seja, aquele preocupado com a paz, não só não poderia sustentar o aparato de guerra ucraniano, como deveria dar condições e garantias para Putin encerrar a guerra pelo lado russo.

O discurso de Lula na CNN foi um duro golpe na propaganda norte-americana sobre a guerra. Além de ter denunciado a hipocrisia do imperialismo nos ataques à Rússia, próprios de quem não busca defender a paz, tratou Zelensky como tão culpado pela guerra quanto Putin – como quando disse que era tão preciso mostrar para o presidente russo que não se podia violar a integridade territorial da Ucrânia, quanto era preciso ensinar a Ucrânia a conversar mais. Apesar de ser uma postura moderada, trata-se de um golpe muito forte na propaganda imperialista.

Na entrevista, Lula foi além e, apesar do tom moderado, se posicionou duramente: “Nós temos que ter um grupo de pessoas que falem em paz e que mostre que a paz é a única coisa que pode reestabelecer a dignidade da vida humana, o direito de trabalhar e de viver dignamente. É isso que os russos têm que compreender, e é isso que os ucranianos têm que compreender. […]  É preciso construir uma narrativa que dê a eles (russos) o mínimo de condições de parar (a guerra). Como os Estados Unidos pararam a Guerra do Vietnã”. 

Também foi tratada a questão do Conselho de Segurança da ONU. Durante a coletiva de imprensa, Lula defendeu a ampliação do órgão máximo da entidade para assuntos de guerra, cujos países-membros tem poder de veto nas decisões. Tal política é uma política antiga de Lula, que, por diversas vezes, defendeu a entrada do Brasil na instituição.

Caso o Brasil viesse a fazer parte, teria o poder de impedir o apoio da ONU a determinadas guerras. A entrada do Brasil ou de qualquer outro país atrasado – e, em sua entrevista, Lula falou no plural de garantir assentos permanentes para países da África, América Latina e Caribe – criaria uma contradição com o imperialismo, dificultando, ao menos no meio jurídico, a participação em suas guerras de pilhagem. Obviamente, isso não resolverá problema algum, mas cria entraves para a aplicação da política mais reacionária ao redor do mundo.

Ainda no tema sobre a integração dos países atrasados, Lula disse que pretende fazer as próximas três viagens internacionais a países da África, com os quais manifestou interesse em firmar parcerias. De acordo com o presidente brasileiro, é seu dever humanitário auxiliar tais países a se desenvolverem.

Em que pese o caráter moderado da maioria das declarações – algumas delas poderiam ter ido um pouco além, outras deveriam ter ido muito além –, todas elas deixam, sem sombra de dúvidas, isto muito claro: o eixo de gravidade fundamental do governo Lula não é a política imperialista. No fundamental, Lula não tem acordo com Biden. Sobre a Amazônia, defende a soberania brasileira; sobre a guerra contra a OTAN, opõe-se duramente à qualquer auxílio à Ucrânia ou a qualquer sanção à Rússia – e é nisso que consiste a política do imperialismo; sobre a ONU, defende a ampliação de seu Conselho de Segurança, o que, por mais que seja uma medida moderada, certamente não agrada aos norte-americanos; sobre a África, defende uma maior integração do continente com os BRICS, mesmo que por uma perspectiva do nacionalismo burguês.

Finalmente, apesar de que se deva exigir mais, apesar de as declarações de Lula serem moderadas e não levarem os problemas às últimas consequências, são importantes, pois mostram que o governo não agrada o imperialismo. Enquanto a política do imperialismo segue uma linha, a política de Lula segue outra – e suas declarações nos Estados Unidos deixaram isso mais do que claro. Pode ser que, em determinados aspectos, siga-a de maneira não consequente, de maneira relativamente conciliadora, como é característica do nacionalismo burguês; mas, indubitavelmente, é a política oposta do imperialismo. E isso é o essencial. Quem não entendeu isso precisa voltar para o bê-á-bá da análise política.

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